SL Benfica na supertaça

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Ontem havia lançado o post ainda durante o intervalo. Estava zero a zero e assim continuaria até ao fim do prolongamento. Venceu o Benfica, poderia ter perdido, que o post estava lançado. Quem segue o blog desde os primórdios, entende o porquê. Aqui não são precisos resultados esporádicos para justificar ideias. Apresentando o que apresentou naqueles quarenta e cinco minutos iniciais, e depois nos outros quarenta e cinco que se seguiram à publicação, o Benfica vencerá oitenta ou noventa por cento dos jogos. Não aconteceu ontem. Mas isso nunca influenciará o que se pensa sobre o colectivo, as individualidades ou a prestação de um e outro.
Equipa extremamente bem posicionada em todos os momentos. Reacção à perda (reparou o número de perdas de Sálvio e consequentes recuperações nos quatro, cinco segundos seguintes? Só uma equipa extremamente bem posicionada consegue ter quem arrisque o que arrisca o argentino e ainda assim continuar a ter a bola o jogo todo) a fazer lembrar a primeira época de Benfica. Um pressing asfixiante, bola só para uma equipa e facilidade incrível para chegar com bola dominada ao último terço. Tudo fantástico até à fase de maior notoriedade. Na finalização tudo tão mau como bom nas fases que a antecediam.
Há sempre quem pegue no resultado para garantir que falta um avançado (Cardozo?). Tal já foi visto ainda na época passada, quando nos primeiros momentos sem golos, garantia-se que faltava o paraguaio e que sem ele não se desbloqueariam jogos contra equipas que defendessem com muitos. O resultado foi o que se viu.
O resultado é o que interessa. Mas, é o que menos interessa para aferir a qualidade do processo. Sabendo-se que no médio / longo prazo garantidamente que quem trabalha com qualidade obtém melhores marcas. Excepções haverão sempre, porque é assim o futebol. O exemplo que mais uso é sempre o mesmo. Os melhores dezasseis treinadores do mundo na mesma Liga e dois desceriam. Os piores dezasseis e um seria campeão. Isso prova o quê na verdade?
A maior prova da competência do treinador do SL Benfica ainda está para chegar. Depois de ter reerguido o clube nas suas ideias. A grande prova será vermos o que jogará e o que valerão os seus jogadores daqui por três ou quatro meses. Depois de uma pré-época em que sem tempo para se mostrar trabalho colectivo, jogando cada um por si, ficaram a nu as deficiências individuais de mais de metade do plantel. Porque não estavam inseridos num colectivo, naturalmente. De facto se o Benfica patético sem ideias da pré-época se transformar com a integração de mais novos jogadores numa ideia de jogo parecida ao que se viu ontem, poucos exemplos melhores poderão ser encontrados do que é o trabalho táctico exercido com qualidade por um treinador. É isto que tenho vindo a afirmar nestes anos todos de blog. Um grande colectivo mascara e valoriza as individualidades. Numa equipa colectivamente incapaz, as individualidades parecem bastante mais fracas. Pegando novamente em Salvio. Numa equipa sem a dinâmica da de Jorge Jesus, só o número de perdas do argentino seria suficiente para o jogo ser partido e repartido. Em posse e em situações de contra-ataque. De péssimo e prejudicial a hipervalorizado, vai um colectivo de diferença.
Não foi inocente a presença na supertaça de dez jogadores em catorze utilizados, que conhecem as ideias do treinador. E a exibição foi naturalmente totalmente oposta ao que tinha sido em todos os jogos do Benfica sem colectivo de pré-época. Talvez tenha dado para perceber o que pode significar a partida de Jorge Jesus se não for muito bem escolhido o seu sucessor. Como uma equipa sem identidade é tao diferente de uma com identidade. Sobretudo com uma boa identidade. Ofensiva. E defensivamente de topo.
Individualidades
Luisão. Nunca se fala muito nele, mas é o mais decisivo de todos. Da sua época dependerão os objectivos do Benfica. Como referiu Quim, é quem melhor conhece e interpreta as ideias do treinador. Se permanecer a salvo de lesões, o Benfica estará na luta. Sem ele, será tremendamente complicado.
Eliseu. É sempre aprazível ver jogar quem privilegia a todo o instante as combinações, o espaço interior, o fazer a bola correr. Muita qualidade. Para já é o melhor reforço do Benfica. Chega tarde, mas ainda aparenta ter muito para dar. Não solta uma bola sem uma ideia. Jesus foi seu treinador em Belém e sabe perfeitamente porque o pede há tantos anos.
Salvio. Incrível a quantidade de alhadas em que se mete. Foge para onde não deve. Vê-se cercado por contenções, coberturas. Parece sempre deitar tudo a perder. Mas, incrivelmente também sai sempre com perigo de onde se mete. Qualidades físicas e técnicas muito impressionantes. Opta mal mas é tantas vezes bem sucedido que jamais mudará. É de todos os jogadores da frente aquele que garante mais qualidade na finalização e só por ai será indiscutível.
Gaitan. Criatividade, qualidade técnica. Enfim, dinamita espaços interiores, quebra organizações. Porém, é demasiado desleixado nos momentos em que deve definir com maior rigor. Nem sempre o mais bonito é o melhor. Tivesse a frieza de Salvio na fase de finalização e estaríamos a falar de um galáctico.
Enzo. Foi Enzo. Um dos mais apaixonantes médios centros dos últimos tempos. Qualidade posicional, agressividade sobre o espaço, sobre a bola. Inteligência nas acções defensivas e um desequilibrador no corredor central, quando tem bola. Quebra contenção enquanto vê tudo ao seu redor. Parece ser sempre o melhor em campo. E talvez o seja mesmo.

Talisca. Uma aposta muito grande para ser mais um dos beneficiados com a proposta de jogo e o colectivo de Jorge Jesus. Tem potencial físico e técnico. Num colectivo forte que joga de olhos fechados terá espaço para se valorizar. O caminho será longo e árduo, porém, confirmando-se a partida de Enzo. A bitola está demasiado alta e o brasileiro está muito longe de poder responder com qualidade próxima à da exigência actual.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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