Jorge Jesus sobre a era da organização.

Dizer que Jesus não sabe comunicar é não perceber nada de comunicação. Em quase todas as conferências de imprensa em que aparece dá informação relevante sobre futebol. Muito diferente das informações que o grande público ou os jornais procuram, fazendo a adoração dos discursos eloquentes pobres em conteúdo. Nos exercícios das suas funções como treinador de futebol Jesus é um comunicador exímio, e só não aprende com ele, sobre futebol, quem não quer.

Sobre a conferência de imprensa, uma discussão que tenho tido recentemente com outros treinadores mais próximos, onde defendo que o futebol caminha para a era da organização. Esta é a minha ideia, e pelos vistos, também a de Jesus. Ainda que algumas das pessoas com quem discuto (Ronaldinho, que é treinador comigo) não concordem com essa premissa. Digo-o, porque cada vez mais vejo as equipas abdicarem dos momentos de transição para decidir os lances, optando por uma abordagem de menos risco, com maior concentração de jogadores a atacar ou a defender. E isso permite, como Jesus explica bem, aquilo que acontece em modalidades como o Andebol ou o Basquetebol, organização ofensiva seguido de organização defensiva, seguido de organização ofensiva. Ou se quiserem, organização ofensiva – transição defensiva (para colocar o máximo de jogadores atrás da linha da bola e reduzir o espaço em que se defende) – organização defensiva – transição ofensiva (para equilibrar a equipa, abrir as linhas de passe, distribuir bem os jogadores no campo) – organização ofensiva. Nas equipas que observo isto não acontece sempre para quem recupera a bola, mas para quem a perde parece-me mais que evidente. Interessa defender com muitos atrás, o que vai fazer com que quem ataca o faça sempre em organização, construção, criação. O que vai exigir cada vez mais trabalho de qualidade, do ponto de vista ofensivo, aos treinadores do alto rendimento. Diga-se o trabalho mais difícil é esse – ter um jogo ofensivo de grande qualidade. Até aqui poucos se mostram verdadeiramente competentes nesse momento, talvez por não perceberem a evolução do jogo. Mas como Jesus diz há que evoluir, há que perceber a mudança no jogo, há que olhar para o que se anda a fazer noutros lados e reflectir sobre o que se passa.

Uma coisa é certa, os tempos de lançar onze jogadores para o campo de qualquer forma estão cada vez mais longe. E cada vez menos a incompetência técnica vai ser premiada. O futuro está aí, e quem o continuar a recusar vai continuar a cair.

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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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