Domingo no Futsal

Sem jogo no Domingo, fui assistir a uma eliminatória da Taça da AF Lisboa de Futsal sem qualquer tipo de expectativa. Não sendo um grande seguidor e conhecedor da modalidade não deixei desde o início de pensar que aquilo, o Futsal, com aquelas dimensões, num relvado qualquer, deveria ser o início de toda a formação no futebol. GR+4×4+GR. Parece um exercício de treino, e assim também deveria ser a competição nos primeiros escalões por tudo de bom o que isso traria a quem o estivesse a praticar.
Com aquelas dimensões o volume de pratica de cada um dos jogadores seria enorme, mesmo em competição – estariam sempre em jogo, no centro de jogo a atacar e a defender. Acção-Reacção.
Com o aumento do número de vezes que se toca na bola está-se a valorizar a relação com ela – o gesto técnico sai reforçado pela repetição.
O espaço para atacar é curto, independentemente do adversário pressionar em cima ou esperar atrás. E isso potencia o aumento da velocidade de execução e de decisão – Com isso obriga-se os jogadores a ver antes, por não terem muito tempo para decidir e executar.
Com o tamanho das balizas, a finalização deve ser precisa. Deve haver intencionalidade de colocar a bola “ali” sob pena de bater sempre no GR. O que potencia a procura de fixar o GR e tira-lo do lance, colocando o outro colega em condições mais favoráveis para finalizar – Busca de situações mais simples de finalização.
Para se ter qualidade no ataque organizado é obrigatório abrir o campo, por forma a conseguir o máximo de tempo e espaço para atacar, e colocar o adversário em maiores dificuldades quando pressiona – O conceito de campo grande vai depender de todos porque todos estão em jogo. E como tal, obrigará a uma maior capacidade de concentração por parte de quem joga, por ser directamente responsável pelo sucesso de cada lance.
Gostei de ver a valorização do gesto técnico por ninguém tentar fazer coisas a toa, e a intencionalidade das equipas que procuravam a organização, abrir as linhas de passe, e depois sair para o ataque. Também procuravam a transição, mas só quando a superioridade era clara. Em igualdade, esperavam. Gostei da paciência com que procuravam encontrar espaços, a mobilidade, o ficar com a bola até surgir o desequilíbrio. Gostei muito da forma super correcta com que resolviam as superioridades – fixam e soltam com facilidade, abrem as linhas de passe certas, tiram o adversário do lance com o passe. Só um dos lances de superioridade não terminou num 1×0+GR. Quase todos os jogadores presentes com capacidade de engano, de ludibriar o adversário para criar espaço para eles (1×1) ou para a entrada de colegas (2×1).
Gostei das equipas compactas a defender, a fechar as linhas de passe próximas da contenção e a defender a profundidade um pouco mais longe por não existir fora de jogo. Gostei de ver a competência com que defendiam no 1×1 em contenção, com a proximidade certa do portador da bola para não deixar entrar o remate ou o passe. Só vi uma vez um jogador com os apoios mal orientados, sem proteger o centro do terreno, ou a baliza – posição de base defensiva. Gostei da agressividade com que defendem, pelo campo ser tão curto todo o espaço dado ao adversário é perigoso, logo deve sempre sair alguém na bola, com o cuidado de não ser batido porque aí o adversário aproveita logo a superioridade. Gostei do limite de faltas, porque valoriza o espectáculo, e obriga a tentar defender bem.
No final alguém ganha e alguém perde. É assim no desporto, não podem ganhar todos. Mas são todos esses os valores que gostaria de ver implementados na formação. Não me canso de pensar que os meninos deviam estar a treinar para jogar Futsal num piso adequado ao futebol.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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