Falta de oportunidades? “É no treino que têm de demonstrar”.

Por certo que não há quem nunca tenha tecido considerações sobre a falta de oportunidades (em competição) que determinado(s) jogador(es) têm / tiveram.
O argumento habitual é sempre o de jogador X não demonstra qualidade porque o treinador não lhe dá a oportunidade de jogar. Se não jogar como pode mostrar credenciais? 
Quando se critica com base neste(s) argumento(s) o treinador, ignora-se porém, o mais importante de tudo. O treinador vê o jogador em questão jogar todos os dias. Muitas horas. A oportunidade para ter minutos em competição tem de ser ganha nos treinos semanais. Ai todos têm oportunidade de demonstrar as suas competências, mesmo que os adeptos não o possam ver. É falso que jogador X ou Y não tenha tido oportunidades. Têm-nas todos os dias.
Como todas as pessoas que apreciam futebol tenho as minhas preferências sobre as individualidades. Porém, nas equipas cuja organização colectiva é tão identificável é-me cada vez mais complicado criticar as escolhas técnicas dos treinadores. Naquelas que não se identificam muitos princípios e um jogar que se pretende comum a todos, é sempre mais fácil de arriscar com alguma probabilidade de não estar errado que jogador X deveria / poderia jogar em deterimento de Y porque traria isto ou aquilo à sua equipa. Contudo, em equipas cujos posicionamentos não são aleatórios, é complicado contrariar as escolhas do treinador. Afinal, as ideias colectivas são dele e ele melhor que ninguém saberá quem cumpre tacticamente o que idealiza. 
“É nos treinos que ele também tem de demonstrar o que nós queremos, não é meter onze jogadores em campo e cada um corre e joga como quer. Comigo as coisas não funcionam assim. ” Jorge Jesus.

Muitos dos atletas que apregoam falta de oportunidade de demonstrar qualidades, estão errados. Tiveram a sua oportunidade sim, ao longo de toda uma época diariamente. Se não tiveram mais tempo na competição, tal é geralmente fruto de falta de qualidade comparativamente aos seus colegas, dentro das ideias que o treinador idealiza para o seu jogar.

Por isto, é totalmente compreensível que Marco Silva se lamente da ausência de Slimani. Num modelo de jogo preconizado por outrém provavelmente o argelino não teria muito tempo de jogo que não num possível plano B. Todavia, dentro das ideias tão claras que o treinador do Sporting tem para a sua equipa como se pode afirmar que a preferência por Slimani em detrimento de Montero é errada? Não é. O número de vezes que é solicitado o avançado centro no pé em apoio é tão diminuto que ninguém pode afirmar que Montero deve jogar na vez de Slimani. Sobretudo quando “Slimani dá mais profundidade e jogo áereo”. 

Podemos discordar das ideias do treinador. Não podemos / devemos discordar das opções porque para aquilo que Marco Silva pretende, o treinador leonino que trabalha diariamente com todos saberá quem servirá melhor a equipa. Nas suas ideias.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*