Entre sectores ganha-se tempo e espaço. A melhor forma de quebrar a pressão adversária.

O jogo entre linhas tão pouco explorado no futebol nacional por ser tão pouco compreendido por quem comanda as equipas. Diz-se que jogando ali, o risco de perder a bola é maior. Concordo. Se a equipa não for trabalhada para procurar explorar esse tipo de espaços. Se não estiver habituada, treinada, para estar confortável a jogar “rodeada” por adversários, com tempo e espaço para decidir porém. Não há melhor forma para quebrar a pressão do adversário do que procurar jogar entre linhas. Cria-se dúvida no adversário, por lhe serem retiradas as referências de pressão. Veja-se a seguinte imagem.
Se a bola entra R.Neves (assinalado em branco) quem sai na bola? Samaris ou A.Almeida?
Essa indefinição que se cria, pela linha de passe se colocar entre vários jogadores adversários é o que permite o ganhar do tempo, e espaço para decidir o lance. Veja-se outra imagem.
Vamos imaginar que a bola está em posse do R.Neves, e que este decide colocar no Brahimi. Mais fácil de defender, porque a referência está lá. É o Semedo a sair sempre, sem qualquer tipo de dúvida.
Como se percebe, sequer há espaço para hesitações, e rapidamente Semedo reagirá para se colocar em contenção, retirando tempo e espaço para Brahimi executar. E saindo Semedo do lance, cria-se um espaço. Mas esse espaço está totalmente controlado pelos colegas que o conseguem visualizar de frente. Tal não significa que esse caminho não possa/deva ser eleito por vezes. Mas preferencialmente os caminhos escolhidos, deveriam ser outros. Vamos às próximas imagens. 
A bola continua na posse de R.Neves, e vamos imaginar que o Porto se posicionava da forma sugerida a azul. Neves tinha decidido procurar André André naquele espaço. Quem sai? Semedo ou Luisão?
A bola tinha sido colocada em André André, e é Semedo que sai na bola. Cria-se esntão espaço para Brahimi explorar, já com Semedo fora do lance, tendo de enfrentar Luisão, Jardel e Eliseu +GR, com o apoio de outros dois colegas. 3×3 pelo corredor lateral, com espaço. Cria-se também a possibilidade de Aboubakar e Corona explorarem o espaço nas costas entre os 3 elementos da linha defensiva, criando novamente dúvida, e eliminando também o número de jogadores a controlar o lance de frente no caso de serem eles a receber a bola de André André, ou de Brahimi. Com um passe fácil, curto, pelo chão, de execução simples, de recepção fácil, estava aqui uma situação de grande potencial por criar.
Se é Luisão a sair, cria-se um espaço enorme entre Semedo e Jardel, onde com um passe simples a bola pode entrar em Brahimi ou Aboubakar, com possibilidades de enfrentar apenas o Guarda Redes com pressão nas costas.
Entendemos por aqui, que não há melhor forma de desorganizar o adversário do que esta. Entendemos por isso que, uma equipa de vocação ofensiva, que quer ser grande, deve percorrer ou procurar percorrer estes caminhos, para provocar o adversário a sair dos espaços que ocupa, para criar dúvida sobre as referências de pressão, para facilitar a execução na construção, criação, e finalização. Os treinadores modernos, que percebem a evolução do jogo, têm esta marca bem clara nas suas equipas. Pela forma como colocam os seus jogadores em campo, e pela forma como os incentivam a procurar os espaços interiores. Há porém, quem opte por outros caminhos. O do jogar sempre por fora. Reparem no movimento de R.Neves a fugir do bloco adversário, sem que nada o obrigasse a tal. Nada que não seja o posicionamento das linhas de passe definidas pelo treinador
Por isso há os bons e há os grandes. E há um caminho que continua a ser eleito por uns e outro caminho por outros.

PS: Nas imagens, confundi André André com Corona. Mas tal nada muda em relação ao artigo.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

1 Comentário

  1. Gostaria de colocar duas questões:

    1) em termos defensivos não será intuitivo para as defesas juntarem linhas com os médios, caso os avançados tentem jogar entre-linhas? Ou seja, se os avançados do porto, ocupassem os espaços sugeridos na 3ª imagem, não seriam fácilmente anulados porque a defesa do benfica se iria aproximar dos seus médios, fechando espaços?

    2) A ocupação diagonal não será uma opção mais eficaz que uma mera ocupação entre linhas horizontais. Pode ser uma curiosidade teórica. Mas no ponto equidistante diagonal o espaço é maior.

    Obrigado pela atenção.

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