
“Modern coaches take things apart and put them back together again. But that’s anti-natural. Without our context we are not what we are. We are not a list of atributes. My aim is no to fracture and break apart what should be together, not to de-contextualise.” Juanma Lillo.
É comum o pensamento “Se X tivesse mais força. Se Y fosse mais rápido… seria melhor ainda”. Ignorando-se que tal não existe. Se X tivesse mais força não seria X. E se Y fosse mais rápido não seria Y. O crescimento enquanto jogador não se dissocia do crescimento enquanto individuo. O contexto, as experiências vivenciadas fruto de se ser quem e como se é constroem o produto (não) final.
Se Messi tivesse um pouco mais de força seria melhor jogador. Se pudessemos separar atributos e voltar a colocar tudo junto, tal afirmação seria correcta. Porque Messi não teria perdido nada por ter mais força. Contudo, tal é impossível.
Se Messi tivesse mais força não seria Messi tal como o conhecemos. A sua característica diferente, tê-lo ia feito crescer de uma forma diferente. Teria experimentado outras opções, outras decisões. Teria tido sucesso de outra forma, ou insucesso. E continuaria a crescer em virtude do resultado de vivências diferentes das que teve. Em suma, se Messi tivesse mais força, não seria Messi. Se Garrincha não tivesse as pernas tortas, não seria Garrincha. Não teria o drible desconcertante. Mas teve tal drible porque tinha as pernas tortas? Não. Tinha o drible desconcertante porque se adaptou de determinada maneira em função de uma anomalia anatómica.
Há que ter sempre demasiados cuidados com o “onde tocamos”, não vá, citando Guardiola “…não mexi para não estragar”. Não podemos dissociar nada do produto final. Seja físico, social ou mental.
Quaresma não teria tido o sucesso que teve e tem se fosse um menino bem comportado. Não se pode dissociar a forma desinibida como joga e a personalidade própria de quem nasceu para jogar este jogo da sua rebeldia. Se lhe matassem a personalidade, Quaresma não seria Quaresma. Com os defeitos que tem, mas sobretudo com as virtudes.
Não queiram meter pessoas em laboratórios para desenvolver jogadores porque simplesmente não é assim que lá se chegará. Deixem expressar a individualidade e façam-os crescer com os mais velhos quando assim tem de ser. É com os cuidados extra que têm de adotar para “não levar nas orelhas” e não serem excluídos de grupos mais competitivos que se formam os melhores.
“Oh, ele joga no bairro com o irmão (uns anos mais velho) e os seus amigos… não custa nada jogar aqui com os betinhos da sua idade” Respondeu-me há um par de anos um miúdo quando o questionei sobre se outro, que estava lá dentro a rasgar um jogo todo, tinha por hábito tal performance.
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