O que é jogar bem? Gaitán, o melhor ontem na Luz?

Enquanto consultava alguns dos jornais portugueses do dia, deparo-me com uma análise que afirmava ter sido o argentino do Benfica o melhor jogador em campo na partida de ontem.
Fez recordar-me um texto antigo publicado aqui por altura do último Mundial, enquanto alguns indignados com a exposição de Messi não lhe percebiam as exibições.

“Voltando ao propalado desaparecimento de Messi, é importante esclarecer. Afinal, que ingredientes tem uma boa exibição individual?
Talvez porque e apesar dos belos golos que somou, ainda não driblou três ou quatro concluindo com êxito uma jogada individual muitas são as opiniões de que está desparecido.
Mas, afinal o que é jogar bem?
Observamos a participação de Messi na partida com a Bélgica e percebemos que para ter sido perfeita bastaria mudar três, quatro porcento do que fez. Se o jogo nunca lhe proporcionou situações em que pudesse ser feliz indo para cima de dois ou três, deveria o argentino ter forçado algo cujas probabilidades de êxito eram inexistentes? 
Óbvio que não. Jogar bem é tudo o que Messi tem feito a cada partida do Mundial. A tomada de decisão surge em função do contexto. E com um contexto diferente percebe-se ainda mais a inteligência do argentino. Não forçando o que está condenado ao inêxito, mas que levaria a que todos delirassem (procurar driblar todo o mundo), demonstra que cria e não se recria. A cada toque, a cada posse, sempre bem. Jogadas sempre com seguimento e praticamente sempre a transformar as situações de jogo com que se depara em novas situações com menos oposição e melhor enquadramento. Ou seja, proporciona aos colegas mais possibilidades de êxito.
Isso é jogar bem. Proporcionar situações cujas probabilidades de serem transformadas em golo são bastante maiores do que aquelas que tinha antes.”
Teve recortes de genialidade. De uma criatividade incrível, que resultaram em duas, três possibilidades de finalização forte. Deu início ao quarto golo, por exemplo. Apareceu em alguns lances com muita notoriedade, fruto da sua qualidade técnica e capacidade para decidir fora da caixa. É sempre um prazer seguir Gaitán, porque a qualquer momento nos vai maravilhar. Todavia, a sua exibição na noite de sexta feira está bastante longe de o poder coroar como o melhor. E sobretudo como uma grande exibição. Teve muito erro. Se analisarmos cada toque, Gaitán foi dos jogadores da frente quem menos aproximou o Benfica da vitória. Sim, tirou dois ou três coelhos da cartola, daqueles que nos empolgam. Mas, o futebol não é só isso. Foram várias as perdas, as más decisões, as transições que custou. Os ataques que não deu seguimento. Contrastando por exemplo com o colega do corredor oposto. Pizzi esteve sempre muito acima de Gaitán, porque soube sempre identificar o timming correcto para desequilibrar ofensivamente, ou apenas guardar a posse. Gatián teve momentos. Porém, ontem esteve bastante longe de ser assertivo. Ontem Gaitán esteve mais próximo de quando há muitos anos chegou a Portugal e apresentava um jogo irregular ofensivamente, e desinteressado defensivamente.
Porque jogar bem não é colocar cerejas nos bolos. Mas sim, ajudar a construir todo o bolo. A cereja surge / surgirá no topo!
Sobre Rodrigo Castro 219 artigos
Rodrigo Castro, um dos fundadores do Lateral Esquerdo. Licenciado em Ed física e desporto, com especialização em treino de desportos colectivos, pôs graduação em reabilitação cardíaca e em marketing do desporto, em Portugal com percurso ligado ao ensino básico e secundario, treino de futsal, futebol e basquetebol, experiência como director técnico de uma Academia. Desde 2013 em Londres onde desempenhou as funções de personal trainer ligado à reabilitação e rendimento de atletas. Treinador UEFA A.

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