90 Segundos sobre a tomada de decisão, o risco e a segurança. Baggio e Bergkamp

Tomada de decisão continuamente um bicho de sete cabeças. E agora com uma diferença importante para o que era no passado: a posse. Hoje, para muitos, guardar é sempre melhor do que perder. É sempre sinónimo da melhor decisão, e são melhores aqueles que guardam do que os que apostam no risco. Então e o contexto? Um bom exemplo sobre isso são as actuações de Hector e sobretudo Kimmich como laterais dentro do modelo alemão. São jogadores que na maior parte das suas acções não arriscam quando têm a bola, porque têm um conhecimento daquilo que são as suas características. Tomam, por isso, decisões inteligentes ao perceberem que as suas possibilidades de êxito dentro daquela situação seria pouca, caso se fossem precipitar para cima do adversário num 1×1 por forma a provocar a entrada na grande área desequilibrando o adversário. Mas, estiveram sempre muito longe de tomar a melhor decisão pelo contexto que se criou. A melhor, seria arriscar o 1×1, mas eles não o têm. Não perderam a bola, mas não tomaram a melhor decisão. Não atacaram o espaço e o jogador em vantagem. Um modelo que pede que os laterais joguem como “extremos” tem de ter jogadores capazes de manter a posse, e ajudar a equipa a ganhar metros com bola, mas também com capacidade de desequilíbrio quando assim se impões (Daniel Alves, Adriano, Jordi Alba). Por isso, não consigo considerar que tanto Kimmich como Hector fizeram um grande Euro do ponto de vista ofensivo “por terem mantido a posse”, por terem somado pouquíssimas perdas de bola. Manter a posse não significa tomar as melhores decisões, arriscar também não. Tudo depende do contexto. E no futuro, neste futuro que estamos a viver, será cada vez mais importante jogadores com capacidade para desmontar a contenção, em passe, em drible, em condução, ou em velocidade. Para depois disso aproveitar o desequilíbrio que ficou criado.

7 Comentários

  1. Então como diabo é que cristiano ronaldo está no 11 do euro (e irá provavelmente ganhar a bola de ouro, que tristeza) sem nunca ter tomado uma acção de risco?

    • No meu onze do Euro não estaria, como podes, aliás, verificar no Posse de Bola. No entanto, a entrada dele deve-se a factores que também contam muito em jogo, que é a influência que foi tendo na equipa, ou melhor, a que foi deixando de ter, para aparecer depois a finalizar. A confiança nos colegas. Etc. A forma como aqui e ali foi motivando, e como se entregou à todas as tarefas colectivas ofensivas e defensivas planeadas pelo treinador. Ainda assim, pelo que jogou, para mim não chegava. Mas, aceito que existam outras opiniões. Quanto à bola de ouro, para mim só há um concorrente há muitos anos, e a não ser que esse se lesione deve ganhar outro. Se não se lesionar, para mim ganhava sempre o mesmo ainda que estejam a ser divididas entre dois. Um deles grande jogador, mas outro enorme.

      • Pois, para mim berrar muito vale pouco. Embora não possa negar o bom uso que fez da sua influência junto do grupo, os resultados prácticos em campo foram nulos. Confiança nos colegas: basta pensar no número de livres que o raphael guerreiro tinha batido até ontem.

        Enfim, um campeonato horrível com menção especial para o portugal x pais de gales. Quando meti na cabeça que aquilo tinha sido uma meia final de um campeonato da europa tive de segurar as lágrimas. Alguém vá às ilhas ensinar aquela malta jogar alguma coisinha!

  2. Mas depois também temos que jogar com as nossas características (leia-se dos jogadores). Cada contexto envolve várias decisões, em que umas são melhores que outras. Identificas a situação de 1×1 da Alemanha nos corredores laterais e dizes que os laterais não tomam a melhor decisão.
    Depende.
    Depende, porque tal como tu próprio dizes, vai sempre ter em conta as qualidades e debilidades de cada jogador. De uma forma geral o 1×1 seria a melhor decisão ok! Mas se o Kimmich ou o Hector não são bons no 1×1, a probabilidade de serem bem sucedidos reduz drasticamente. Então, dentro das características e das qualidades deles, manter a posse é, sem dúvida, a melhor decisão.
    Se o jogo pedia outra coisa? Sim. Mas é preciso ter lá jogadores de outras características como tu bem dizes.

    Parabéns pelo Site. Em termos de qualidade estética, assemelha-se hoje, muito mais à qualidade dos conteúdos!

    Força Lateral Esquerdo!

  3. Mas a melhor decisão não tem que estar enquadrada no que são as características dos jogadores? Isto é, se o Kimich e o Hector têm noção de que são fracos no 1×1 ofensivos, então a melhor decisão não será conversar a posse de bola em vez de ir pra cima do adversário mesmo estando criado o contexto para tal?

    • Honoris, penso que aqui já entramos num campo em que uns pensam de uma forma e outros de outra, e isso não quer dizer que exista uma resposta correta.

      Eu também acho que as melhores decisões já se devem enquadrar nas caraterísticas dos jogadores, pelo que o Kimmich e o Hector tomaram as melhores decisões.

      Contudo, também penso que se descontruíssemos várias ações destes dois laterais, veríamos que tomam más e boas decisões:

      – Más decisões, porque colocam o corpo já orientado para trás e a receção não é para a frente, embora várias vezes isso também é uma boa decisão porque o adversário não se encontra perto.

      – Más decisões, porque poderiam jogar logo de primeira num colega perto, porque poderiam receber para dentro, por exemplo. Evidentemente que não é sempre, mas por vezes.

      – Boas decisões porque depois destas más decisões (que também se ligam às suas caraterísticas, e daí não haver jogadores perfeitos) e com as suas caraterísticas e o contexto do jogo, aquela situação do momento, decidiram bem em manter a posse com um passe simples para o médio ou o central.

      Mas é evidente hoje a tendência de que ter a bola é que é a boa decisão. Em escalões mais velhos, já os próprios jogadores vêm com isso sem o treinador dizer nada: “fica com a bola” “vamos ter bola e jogar bem”…

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