Personalidade e jogador. De Quaresma a Zlatan.

Já muito se falou sobre o quão é impossível dissociar o que se é enquanto jogador do que se é enquanto pessoa. Enquanto personalidade.

Muitos são os casos de jogadores que por menos extrovertidos, por menos apreciarem a exposição, acabam por não se impor dentro do próprio grupo. Preferem passar entre os pingos da chuva, mesmo que tenham qualidades para mais. E tantas vezes acabam desvalorizados por isso.

O contrário também poderá ser possível de verificar. Um egocêntrismo tal que o nível de boas decisões baixa consideravalmente. O colocar do “eu” à frente do “nós” tantas vezes como causa para não se chegar um pouco mais além. Para se aprender um pouco mais sobre o jogo. Afinal, “quem me poderá ensinar mais, se já sou tão bom?!”

Quaresma referiu recentemente o prazer que lhe deu ver os jogadores franceses a chorar enquanto se preparavam para subir à tribuna do Estádio de França para receber a medalha de segundo lugar. Tantas vezes é esta “rebeldia” própria dos que adoram sair da caixa que os leva mais longe. Uma ambição e um espírito competitivo tremendo que os faz potenciar as suas qualidades. Que os faz dar um pouco mais na adversidade. Quanto do ar de superioridade dos franceses logo no túnel de acesso ao relvado (percepção de Quaresma revelada publicamente) não terá feito com que tivesse sido mais cumpridor no plano defensivo?

Zlatan nunca venceu em Inglaterra. Diz Mourinho que foi tudo o que teve de lhe recordar para que o sueco aceitasse o desafio.

Para um treinador nunca haverá nada melhor do que enquadrar este tipo de personalidade num grupo, desde que o “nós” se mantenha sempre a guiar todas as acções e decisões de todos. A paixão pelo jogo e pela vitória será sempre um atributo importante em qualquer atleta. Independentemente do estatuto ou personalidade própria.

Sobre Rodrigo Castro 219 artigos
Rodrigo Castro, um dos fundadores do Lateral Esquerdo. Licenciado em Ed física e desporto, com especialização em treino de desportos colectivos, pôs graduação em reabilitação cardíaca e em marketing do desporto, em Portugal com percurso ligado ao ensino básico e secundario, treino de futsal, futebol e basquetebol, experiência como director técnico de uma Academia. Desde 2013 em Londres onde desempenhou as funções de personal trainer ligado à reabilitação e rendimento de atletas. Treinador UEFA A.

5 Comentários

  1. A verdade, porém, é que nem toda a “rebeldia” valeu a Quaresma uma carreira de maior craveira do que aquela que efetivamente teve. Quando foi chamado para se impor em clubes de maior nomeada mundial, foi o que todos nós sabemos.
    Será que, correndo o risco de virem uns quantos fanáticos caírem em cima de mim, poderiam acrescentar Renato Sanches a esse perfil de jogador?

    • Pois, Ricardo, essa é uma forma brilhante de colocar a questão, assim quem vier discordar de ti corre o risco de ser rotulado como fanático, o que revela uma abertura ao diálogo e à discussão digna de registo. Seja como for, não percebi o teu ponto. Quaresma é rebelde e não teve uma carreira ao mais alto nível; Zlatan é rebelde e teve uma carreira ao mais alto nível. Portanto, não me parece que a rebeldia, por si só, seja uma característica pessoal que impeça qualquer jogador de singrar ao mais alto nível. Tu acreditas que Renato não conseguirá atingir esse nível, outros acreditarão em sentido contrário. Não me parece, contudo, que as crenças de uns sejam mais ou menos fanáticas do que as de outros, até porque já foram apresentados argumentos válidos e igualmente racionais (todos discutíveis, claro) tanto num sentido como no outro (aqui, no entre10 e no PdB). Mas o texto não fala apenas de rebeldia, fala também de narcisismo, que impede alguns jogadores de colocarem o colectivo à frente do individual, e parece-me que neste ponto não há muito por onde atacar o Renato. Mas mesmo que o Renato fosse um caso igual ao do Quaresma neste ponto, o texto ainda diz que é possível que jogadores narcísicos coloquem, em determinados momentos pelo menos, o individualismo de parte, desde que devidamente orientados ou picados. Conseguindo, assim, singrar ao mais alto nível. O Renato tem uma personalidade forte, o que só o ajudará na sua afirmação, mas nunca será condição suficiente se não for acompanhadas por muitas outras variáveis (técnica, decisão, posicionamentos e outras mais).

    • Pode ser sp visto de 2 maneiras. Sera q se n fosse tao atrevido tinha ainda junior aparecido no scp de jardel jvp e outros craques e ainda assim a assumir a bola sem medos….?

      Nc sabemos se n foi mais longe por ser assim ou assado, ou se nao teria sequer chegado onde chegou se nao fosse assim…

      Sobre o Renato, sem duvida q se n fosse desinibido e meio maluco n estaria neste momento nas bocas do mundo. Para o bem ou para o mal.

  2. Boa questão Marco,parabéns,na minha opinião,o principal problema é que quando os quaresmas desta vida e até zlatan como se viu em Barcelona não decidem não conseguem ser mais um no grupo,ficam perdidos e em vez de perceberem o porque,entram em choque com quem os quer ajudar,não é fácil para quem sempre foi estrela ser apenas mais um…Guerra de EGOS…pão de cada dia no futebol!!

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