Futebol! O jogo mais frustrante do mundo, por isso o mais difícil.

Klopp é reconhecidamente uma dos treinadores mais importantes no futebol mundial, e é-o por ter a principal competência que permite distinguir os bons dos melhores: conhecimento do jogo. E conhecer o jogo profundamente leva à compreensão do caos a que o mesmo está sujeito. É impossível fugir à aleatoriedade com que os imponderáveis decidem ou não influenciar o destino de cada equipa, e a luta dos grandes treinadores de hoje é tentar ao máximo que essa influência seja residual, no menor número de jogos possível. Criar rotinas, criar uma forma de atacar em conjunto, uma forma de defender guiada pelo posicionamento ofensivo, uma atmosfera comum a todos os elementos do grupo de trabalho.

No início da entrevista (de onde se fez os cortes), o apaixonante treinador alemão começa por dizer que o futebol é o jogo onde é mais fácil vencer adversários melhores. Concordo. E por isso, o jogo mais frustrante que se pode jogar. Um jogo onde ser bom não chega, e ser o melhor não é sinónimo de vitória. Porque a vitória nunca está apenas dependente da qualidade de cada um. É dessa forma que Klopp analisa, por exemplo, a excitante reviravolta contra o Dortmund em Anfield. Fala logicamente dos méritos da equipa, que no fundo ditam a maior ou menor proximidade do êxito. Mas tal nunca significará uma vitória, uma derrota, ou um empate. É preciso, também, ter sorte. Da bola que entra no momento certo para deixar o adversário de rastos, das oportunidades claras que são aproveitadas com uma eficácia tremenda, do aproveitamento do erro que o adversário cometeu e nos permite uma oportunidade de golo. É preciso ter uma força mental tremenda para superar momentos onde não é a qualidade a ditar o resultado do jogo, daí a dificuldade maior do futebol.

Reparem como ele afirma que nem ele (líder do processo) sabe bem como é que os jogadores reagiram tão bem ao facto de estarem em desvantagem, e como é que pela forma descontraída como entraram na segunda parte colocaram em campo o seu melhor futebol. Tantas vezes são os treinadores responsabilizados ou aclamados por coisas sobre o qual não têm qualquer mérito ou controlo. Aliás, o jornalista coloca a questão destacando a forma como ele motivou a equipa e a sua grande capacidade de liderança, e importância naquele jogo. E se tivesse perdido? Pois. Por vezes esquecemos que o grande mérito está demasiado longe do momento que antecede o mais recente sucesso. No treino.

Não se quer com isto entrar numa discussão sobre a maior ou menor complexidade do futebol em relação a outros, tão pouco afirmar-se a superioridade entre os desportos. É, e só, mais uma tentativa de explicar um fenómeno tão complexo e tão inexplicável como este. E é por isso que neste desporto, ainda que exista a necessidade de movimento e de relação com a bola, continuará a prevalecer o cérebro.

11 Comentários

  1. Acho que é mais “o jogo mais difícil, e por isso o mais frustrante”… se fosse fácil não seria frustrante, a causalidade é mais ao contrário 🙂

  2. klopp tem uma característica(parece me,aqui de longe) que poucos treinadores tem
    ..chega aos jogadores pelo conhecimento e por a emoção(compromisso,esquecem o EU)…são raros oa treinadores que conseguem ter isso…

  3. ” … e como é que pela forma descontraída como entraram na segunda parte colocaram em campo o seu melhor futebol.”

    Blessing, este é um dos principais problemas que o futebol tem para resolver e que entronca naquilo que dizes tantas vezes sobre as deficiências da formação em Portugal. É um problema que muitos excelentes jogadores enfrentam (vide Riquelme, em Barcelona, quando por lá esteve). Os dirigentes e até treinadores – a reboque talvez (não faço ideia) do público -, caem na tentação de deixar cair muitos bons jogadores somente porque jogam de forma aparentemente descontraída. Mas é por isso deve ser muito mais gratificante fazer parte do plantel do Klopp ou do Guardiola relativamente a Mourinho. Ou até, aqui bem perto, deverá ser muito mais fácil pôr em prática o que se sabe numa equipa de Vitória relativamente a Jesus.

    O futebol está-se a habituar a premiar as coisas erradas, tendência que Guardiola ou Klopp não invertem completamente porque são só 2 num universo de milhares. Ao nível grande, são se calhar das poucas excepções. Por isso é preocupante ver como exemplo Rio Ferdinand afirmar estar muito feliz pq Mourinho porá ordem na casa. Ordem, no sentido disciplinador. O que Mourinho lhes dará terá bem pouco a ver com disciplina, imagina-se.

    • Claro que o Guardiola dá primazia à técnica e capacidade de decisão mais do que Mourinho. Agora, também nem 8 nem 80. Guardiola dispensou Deco e Ronaldinho por exemplo, que são dois jogadores incríveis e que com certeza jogavam dessa forma descontraída. Não deviam era ser suficientes noutras vertentes que o modelo do treinador Espanhol requer.

      • É possível. Blessing ou os restantes saberão desenvolver essa hipótese. E houve outro “galáctico” (roubando o termo aos madridistas) que ele também quis dispensar mas só no defeso seguinte o concretizou. Não sei se foi Ibrahimovic ou Eto’o, ou até outro.

        Jogar descontraído não é jogar com desleixo ignorando os preceitos que os treinadores trabalham. Também não é jogar devagarinho ou a passo. O R. Sanches é por exemplo descontraidíssimo, joga à bola, não “se importa”. Vai lá para dentro e joga à bola e fá-lo a 100 à hora – descontraído nesse sentido. Há jogadores que cumprem rigorosamente o que se lhes pede mas ao mesmo tempo escondem-se e “fingem” que não sabem mais. De 6 em 6 minutos dão uma corrida bacoca qualquer só para os aplausos do público. O J. Moutinho é um bom exemplo – não da corridinha bacoca mas de esconder-se do jogo e limitar-se a cumprir, quando tem qualidade para muito mais. Esses sim são os preguiçosos e muito pouco descontraídos.

        • Entendi o teu ponto de vista.
          Tenho quase a certeza que esse galático era o Eto’o, que mais tarde foi incluído no negócio do Ibra.
          Gostei da corridinha bacoca ahaha.

      • Bruno, Dispensou Ronaldinho porque ele não estava bem da cabeça. E disse na conferência de imprensa que só um maluco podia dispensar um jogador como o Ronaldinho caso ele estivesse bem. Para quem não soube, Depois do Mundial 2006 Ronaldinho entrou numa profunda depressão. Os colegas relatam que chorava constantemente no balneário antes e depois dos treinos.

        Deco dispensou pela forma como “trabalhavam” nos treinos. Durante o tempo que esteve na B foi sempre vendo treinos dos A, e fazendo jogos de treino com os A. E percebeu a influência que tinha dentro do grupo. E quando se olha para um grupo não se olha só para a capacidade deste e daquele. Olha-se também para a forma como os outros reagem às reacções dos que mais influência vão tendo no grupo. O Barcelona estava a ficar preguiçoso porque alguns dos seus mais influentes também o estavam a ficar. Depois, Guardiola queria apostar em Xavi e Iniesta. Legítimo. Podia até ter falhado, mas eram as apostas dele. Deco perdia espaço, e não fazia sentido ter um monstro daqueles no banco.

        • Não fazia ideia que o Ronaldinho passou por uma depressão.
          Fiz umas pesquisas e pelos vistos tem sido recorrente na vida dele.

  4. ” Por vezes esquecemos que o grande mérito está demasiado longe do momento que antecede o mais recente sucesso. No treino.”

    Caro Blessing

    E muitas vezes, o treino e consequentemente o trabalho do treinador é minado pelas brincadeiras nas selecções.

    Sistematicamente, muitas vezes durante a época, nem sequer há jogadores suficientes para fazer um treino colectivo, depois chegam desgastados, muitas vezes com mazelas e lesões impeditivas de treinar e jogar.

    Pior ainda, os jogadores quando vão brincar nas selecções andarem a treinar noutros sistemas tácticos diferentes dos praticados pelos treinadores dos clubes, com movimentações diferentes, etc.

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