Cruzamento: O patinho feio do novo futebol.

VALENCIA, SPAIN - OCTOBER 04: Valencia manager Nuno Espirito Santo looks on prior to the La Liga match between Valencia CF and Club Atletico de Madrid at Estadi de Mestalla on October 4, 2014 in Valencia, Spain. (Photo by Manuel Queimadelos Alonso/Getty Images)

Muitas têm sido as críticas que se fazem às equipas modeladas para aproveitar o jogo exterior, atacando e criando quase que exclusivamente pelos corredores laterais. O cruzamento tornou-se, em muitas casas, o tipo de lance a evitar quando se quer definir um jogo ofensivo de qualidade. Não é dessa forma que se vem criticando por aqui quem “muito cruza”.

A critica que se faz ao Porto de Nuno Espírito Santo, não é ao facto de recorrer de forma exclusiva ao jogo exterior em organização ofensiva, nem tão pouco ao número de cruzamentos que faz por jogo. É, e só, a falta de preparação que a maioria desses lances tem. Ou seja, a equipa não faz por facilitar a tarefa do jogador que vai executar o cruzamento. Não trabalha o lance para que o portador da bola tenha menos adversários na sua zona, bem como na zona para onde o cruzamento vai entrar. É a falta de movimento para abrir, ou aproveitar, espaços que não impressiona. É completamente diferente, para o jogador que cruza, enfrentar o lateral adversário com o central obrigado a sair na cobertura (um contra um), do que enfrentar o lateral com a cobertura do médio defensivo ou do médio ala (um contra dois). É completamente diferente porque num lance há menor oposição sobre a bola e nas zonas de finalização, e ainda se cria necessidade de ajustes (muitos jogadores fora da posição natural); E noutro há maior oposição perto da bola, e as zonas de finalização ficam, pelo maior número pernas, melhor preenchidas. A falta de dinâmica, em oposição ao lance que se segue, é o que marca o tom crítico do actual futebol do Porto.

No exemplo utilizado é o avançado que dá largura e o médio ala que baixa, mas isso é só um exemplo. Poderia perfeitamente ter sido o lateral a avançar na largura e na profundidade ou mesmo o médio ala, e o avançado ou o interior a fazerem o movimento contrário. Importa é a mobilidade na procura ou na criação de espaços. Porque circular a bola, em largura, deixou de ser um factor que por si só desequilibra as equipas adversárias por mais velocidade que se meta no lance.

Ainda é cedo para perceber a ideia de Nuno, e apenas dentro de um par de meses se saberá melhor que rumo tomará este Porto.

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3 Comentários

  1. “O cruzamento tornou-se, em muitas casas, o tipo de lance a evitar quando se quer definir um jogo ofensivo de qualidade. Não é dessa forma que se vem criticando por aqui quem “muito cruza”.”

    Quando a jogada tem qualidade não há porque não cruzar. Pode ser uma forma imediata e fácil de criar uma ocasião de golo se as condições o propiciarem, estando a jogada e a bola a jeito, e se os intervenientes forem bons. Vendo por exemplo as diferenças de João Pereira com Paulo Sérgio para o JP de hoje, ele continua a abusar dos cruzamentos com a diferença de que hoje alguns, não muitos, criam perigo. Ele até cruza bem e em muitos casos é melhor cruzar do que fazer outras coisas para as quais não está vocacionado. É curioso que Jefferson é por exemplo um lateral tecnicamente superior a João Pereira mas não cruza com a qualidade de JP. Esse gesto técnico em particular JP executa-o melhor porque bem ou mal tem “sentido” para isso. É tecnicamente superior e é também mais inteligente na forma como joga, Jefferson em comparação com JP.

  2. Blessing,

    “Não há porque não cruzar” mas concordando com a ideia de que é um mau sintoma ver-se uma equipa cruzar muito. E ainda bem que assim é embora não se trate duma ideia generalizada. Com o tempo, provavelmente, generalizar-se-á. O problema, como dizes, é transformar essa boa impressão em “procurar jogo exterior é mau” e “cruzar é mau”. Mas de forma genérica, é uma boa ideia que serve de atestado à brutal evolução que o jogo – ao nível das principais equipas, e não só – sofreu nos últimos 15 anos. Agora se os jogadores não forem especialmente bons e se as equipas não funcionarem especialmente bem há coisas muito piores do que procurar cruzamentos. Dessa forma podem criar-se 3 ou 4 ocasiões de golo sem que a equipa adversária possa interferir na jogada. Para muitas equipas essas 3 ou 4 ocasiões de golo são muitas vezes as necessárias para vencer jogos e garantir permanências ou fazer campeonatos tranquilos. É numa medida “fácil” e tentador – imagino – para muitos treinadores, especialmente para os menos bons, trabalharem as suas equipas nesse sentido. Gostaria de me lembrar de uma expressão que um dia ouvi de Paulo Sérgio que achei muito boa. Nunca tinha ouvido semelhante coisa. Foi na sequência dum jogo na Luz que o Sporting perdeu por 2-0 para o Benfica de JJ, um jogo horrível do Sporting assim ao estilo do Vitória de Guimarães de Rui Vitória em que Paulo Sérgio no fim do jogo disse que a responsabilidade da derrota foi o Sporting não ter aproveitado a “dupla avenida”. Não é “dupla avenida” mas uma coisa bastante parecida com essa. Duplo corredor. Okay 2º corredor, era isto. “O espaço estava lá no 2º corredor mas o Sporting não aproveitou”. Isto para um espectador (ou para mim pelo menos) foi fascinante porque deu a ideia de PS ser um treinador muito à frente dos outros ou ao mesmo nível dos melhores, simplesmente por usar uma expressão “diferente” e transmitir a ideia de que o Sporting era só ciência. Normalmente há 1 faixa de cada lado, esquerda e direita, mas o Sporting tinha 2 de cada lado. Isto era brutal somado aos portáteis de Nuno Valente e ao Carlitos que 3 meses antes tinha dito que PS era uma mistura de Jorge Jesus com José Mourinho.

    Dizem a propósito disto que Paulo Sérgio poderá substituir Nuno E. Santo em Janeiro … Paulo Sérgio ou Paulo Bento que é (o 2º) um desejo antigo de Pinto da Costa.

  3. Só mesmo para finalizar: caso Jorge Jesus no fim da época saia do Sporting ouvi dizer que Bruno de Carvalho equaciona Rui Vitória para o seu lugar, independentemente de quem se sagrar campeão e isto caso RV não fique no SLB uma 3ª época. Rui Vitória, Van Basten e Wenderlei Luxemburgo. Um dois três. «Tem todo o perfil que procurávamos para a transformação que o Sporting precisa. «Com Van Basten o Sporting vai ter um futebol atractivo e inovador, no qual os adeptos se vão rever-se com satisfação. Cruyff deu-me as mais fabulosas referências sobre ele e isso diz tudo quanto à qualidade do treinador que escolhemos, que será basilar numa equipa que desejamos no espaço de 3 anos terá 8 jogadores da formação. Sobre a possibilidade de Mitchell Van der Gaag vir a ser o treinador-adjunto de Van Basten, Carvalho não confirmou nem desmentiu».

    Eu acredito.

    Ah outra coisa: William e Jorge Jesus, maravilha. Em frente Sporting.

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