Os princípios do jogo. Do bacalhau à brás à interpretação própria de cada um.

Fez furor e levantou discussões o excelente texto do Nuno Amado no “Soul Magazine”. “O futebol e o bacalhau à brás: A falácia dos princípios do jogo”.

Para quem desconhece, os princípios datam de algumas décadas atrás e tiveram em Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira os seus autores em Portugal.

Tal como o Nuno Amado, não estou certo de que conhecê-los, enumerá-los e aplicá-los à luz das suas definições seja algo de positivo e algo que faça sentido. Isto não significa que os renegue. Muito pelo contrário. Muita da forma como olho para o jogo decorreu da minha interpretação dos princípios. Que aos olhos de outrem poderá estar errada. Que poderá até diferir da interpretação que os autores queriam que os jovens treinadores fizessem deles.

A forma como Queiroz e Jesualdo sistematizaram o jogo ajudou-me de sobremaneira a tirar os meus considerandos sobre o jogo. Mas tais não são universais. Por exemplo. Na forma como interpreto o quarto princípio específico da defesa (concentração) é-me impossível conceber um método defensivo que opte por marcações individuais. Como posso garantir tal princípio se estou a pedir ao meu atleta que fique lá ao longe a marcar alguém? Todavia, já reparei em milhentas equipas de quem diz cumprir os princípios, e até de autores dos mesmos, a fazerem diferente da interpretação que EU faço deles.

Ou seja, os princípios foram um bom guia para chegar às minhas convicções. Sendo que a minha interpretação dos mesmos diferirá provavelmente de (quase) todos. Porque é minha! E é aqui que há que concordar com o texto do Nuno Amado. Não se pode querer explicar um jogo todo com base em cinco ou seis princípios. Porém, não se pode de forma alguma renegar que quem os souber usar para seu proveito próprio estará mais próximo de conseguir idealizar o seu jogo. E é nisto que o futebol será único. O meu jogo nunca será igual ao jogo de outrem. Porque o meu está apenas na minha cabeça. Cada um com o seu! … e tentar copiar sem reflectir, será sempre um passo para não sair do lugar.

E sobretudo, há que desconfiar sempre bastante de quem quer impingir conceitos somente porque os leu algures numa qualquer bibliografia. De quem quer forMATAR para uma única visão. Quando o caminho será sempre o do compreender.

 

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Estamos a falar de princípios. E apesar de universais, pois são fáceis de serem comumente aceites, não são um fim. É como dizes, são uma base para serem adaptados à forma de jogar que cada um pretende implementar e sobretudo terão sempre de serem adaptados perante o contexto como diz o Nuno.

  2. Boas,

    Como treinador de formação, transmito aos meus jogadores os princípios de jogo por considera-los uma peça fundamental. São quase como pequenas dicas que fazem toda a diferença na orientação a cada situação de jogo. Ainda assim como o nome diz “Princípios”, são isso mesmo, um principio! Não há maneiras iguais de jogar quando as ideias são diferentes, os princípios serão sempre pequenas orientações dos jogadores que farão a diferença na abordagem às diversas situações de jogo!

    Quero com isto dizer que os princípios de jogo deverão ser sempre ensinados, ainda que de treinador para treinador haja alguns retoques na sua implementação. Mas por isso é que também temos os sub-princípios, e os sub-sub-princípios e por aí adiante.

    Sucintamente quero concluir dizendo que os princípios são importantes, inicialmente, mas que depois o mais importante é obrigar-los a pensar e a encontrar mais soluções! Nem sempre uma progressão será o melhor caminho só porque há espaço para o fazer, entre outras situações!

    Cumps

    PS: Peço desculpa pelo mau português, mas estou em aula e o prof daqui a nada mata-me ;D

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