O lado tático da conferência de NES

Já abordei o assunto do quadro branco na conferência de imprensa do Nuno Espírito Santo noutro espaço, mas trago-o para aqui porque vários comentários entenderam que o treinador do FC Porto não abordou aspetos táticos na sua dissertação. Como não referi nada sobre esse assunto no artigo anterior, exploro neste a ideia de que, no discurso de NES, só se falou sobre tática. E isto porque, na posição que o técnico ocupa, não faz sentido que nenhum daqueles conceitos existam sem avaliação. Ora, para os avaliar, NES precisa da tática.

Em primeiro lugar, os já famosos 3 C’s – Compromisso, Cooperação, Comunicação. Todos estes aspetos necessitam de ferramentas de avaliação que são essencialmente táticas, na dinâmica que a equipa trabalha dentro do terreno de jogo. A associação entre setores, a solidariedade dentro dos mesmos e a forma de adaptação ao contexto do adversário dependem dessas três premissas.

Em segundo lugar, o aliar da União à Determinação. Conseguindo que a dinâmica da equipa esteja oleada, o factor Determinação será essencial mas, também, só passível de ser avaliado no terreno tático do jogo. Determinação, aqui, passará por entender a medida em que o jogador adopta os comportamentos preconizados pelo modelo de jogo, evitando fragilidades e reduzindo os erros cometidos.

Finalmente, a Atitude. O conceito é muitas vezes confundido como uma eventual “garra” que não explica, nem de perto, nem de longe, o seu verdadeiro alcance. Se entendermos a Atitude como uma postura intencional de comportamento, então compreendemos que associado ao território tático que NES imagina para a sua equipa, está uma herança sócio-cultural que representa uma imagem fiel que os adeptos têm do FC Porto.

Em resumo, NES poderá bem ter falado apenas de tática e de modelo de jogo, sendo curioso que tenha sublinhado o facto de que o sistema de jogo é, aqui, uma questão secundária. Há um elemento tático que predomina nas opções de modelo do treinador do FC Porto e é no encontrar de ferramentas para cumprir com a avaliação total das suas opções que a equipa poderá crescer. Para além dos resultados.

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Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

17 Comentários

  1. Peço desculpa mas descordo em absoluto. O NES falou de conceitos banais e universais que se defendem em qualquer organização e grupo que tenha de trabalhar em conjunto para atingir objectivos comuns e difíceis. Diga-me uma organização com as características que referi que não defenda e diga, por outras palavras e desenhos, aquilo que o NES disse. A única ideia que táctica que ouvi, e que se referia unicamente a futebol, foi o querer encurtar o campo para estar mais próximo do golo. Qual é a equipa que tem adeptos que não revêem no seu clube e sua mística a tal “atitude” que refere?

    • Sumo,
      esse é o lado não tático do discurso do NES. Mas não me custa acreditar que um treinador domine tão bem o seu modelo que o consiga explicar desta forma, com ferramentas para avaliar todos os pontos que abordou.

      • O problema é que ainda não vi – eu e muita gente, na verdade – um modelo claro de jogo do NES mas isso é outra questão, creio. O problema do discurso é mesmo esse, serve para tudo: o adepto do FCP vai olhar para ele de uma maneira, alguém como o Luís faz a leitura que faz do mesmo. Eu faço uma leitura voltado para o lado comunicacional da questão, tentando perceber porque é que um líder faz um discurso como aqueles, ainda por cima quando nada lhe foi perguntado, depois de 4 ou 5 vitórias seguidas.

          • Honestamente, enquanto adepto do FCP, este discurso preocupa-me. Quando um líder, seja na área que for, vem falar de união, cooperação, ter atitude, compromisso, é um sinal claro de que a organização está em crise e/ou vem de alguma derrota ou má notícia. É ver, por exemplo, o típico discurso do partido que perdeu as eleições; ou ver o discurso dos políticos quando a troika chegou cá, por exemplo. O FCP vem 4 ou 5 vitórias, e a última exibição foi talvez das mais conseguidas da equipa. E isso é que é estranho.

  2. Se o que é secundário é a disposição táctica (conforme o próprio Nuno disse ser 442, 433, 4132 não é o essencial) tendo a concordar. Certamente é possível fazer qualquer uma das disposições em campo funcionar, com estas premissas, uma ideia de jogo clara (nas cabeças dele e dos jogadores) e com a escolha certa de intérpretes em campo.

    No entanto, e porque só se vê um desses 3 elementos, no momento em que as coisas começarem a não correr bem não vai haver discurso motivacional “New Age” que lhe valha. Concordo em pleno com o artigo linkado.

  3. O NES simplesmente quis passar a ideia que há uma matriz de comportamento dos jogadores que é basilar para uma equipa ter sucesso. Sem esses pilares, não há modelo ou táctica por mais brilhante que seja que possa ter sucesso. Qualquer um que já tenha liderado pessoas, no futebol ou fora dele percebe isso facilmente. O facto de ele não ter desenhado quadros bonitos a explicar o modelo dele não quer dizer que não haja táctica. Mas enfim, pôs-se a jeito para ser criticado. Se falasse de arbitragem ou viesse com a cassette de banalidades do treinador não havia tanto artigo de opinião de doutorados em futebol a falar nisso.

  4. Incrivel…
    O Guardiola mostrou a táctica no Bayern, penso que num video e num quadro, foi bestial.
    O Emery fez um video a mostrar a táctica no PSG é um visionário.
    O NES faz isto e é motivo de piada….
    Portugal Portugal, tão adverso á mudança. Precisa sempre de referenciais externos para acreditar nas coisas…

  5. O que o NES fez foi fazer uns gatafunhos com uma série de generalidades, e isso vale “bola”, para mais quando quem tem visto os jogos do porto se há coisa que não é possível identificar é um modelo de jogo.
    Falar em atitude, união ou determinação, qual é a equipa seja de futebol ou de outra qualquer modalidade que não tem também esses como factores fundamentais?

    http://benficanascidosparavencer.blogspot.pt/

  6. Aquilo não tem nada a ver com táctica no sentido etimologicamente puro do termo. Absolutamente nada.
    A táctica não se baseia em conceitos abstractos mas sim em ordenações e disposições reais com dimensão mecânica e dinâmica.

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