O comportamento das equipas nasce, muitas vezes, daquilo que é o comportamento dos jogadores, mas tanto um como outro deve ser educado e formado, buscando uma ação que conjugue os princípios de perceção, oportunidade e decisão, de maneira a conseguir-se jogar com qualidade.
No entanto, para termos jogadores com capacidade de adaptação aos comportamentos que desejamos para a nossa equipa, é fundamental que estes estejam expostos durante todo o seu processo de formação a tomadas de decisão complexas e exigentes. De pouco vale pensarmos que, no dia em que formos treinadores de uma equipa profissional vamos ter as condições para colocar a nossa equipa a “jogar bonito” se, enquanto formos treinadores de formação, nada fazemos para mudar o cânone do jogo.
Muitos daqueles que nos lêem têm essa possibilidade e, ao mesmo tempo, responsabilidade, de oferecer aos jogadores do futuro um conhecimento mais aprofundado do jogo e uma noção diferente daquilo que o campo onde o disputamos oferece para ser explorado. Sim, estamos outra vez a falar do espaço e do tempo.
Segundo a abordagem ecológica, as duas noções são fundamentais para determinar o comportamento do jogador. Esta noção é importante para a vida de todos os dias e, na maior parte dos casos, consideramos que ela está adquirida por aqueles que chegam às nossas equipas. Ainda assim, estudos indicam que a realidade é diferente. Ou seja, trabalhar as noções de espaço e tempo faz parte do trabalho de quem forma jogadores.
Será bastante habitual, para quem observa jogos de formação, vermos jovens que reagem de forma intempestiva ao espaço e ao tempo que lhes é oferecido pelos adversários. Ora, esse comportamento, ao não ser corrigido no momento certo (formação), vai replicar-se quando forem seniores.
Pedro Tiago Esteves, Professor no Instituto Politécnico da Guarda, juntamente com Luís Vilar (Universidade Europeia), Ricardo Duarte (FMH) e Bruno Travassos (UBI-Covilhã), tem trabalhado este tema de forma mais aprofundada. Tentando resumir a sua explicação, um jogador terá uma determinada perceção do espaço e é essa perceção que determinará a identificação de oportunidades de ação. Quantos metros o separam do seu adversário mais próximo, como é que o posicionamento deste irá influenciar o tempo disponível para executar uma ação (passe, curto ou longo, condução, drible), como é que, para os elementos sem bola, se deve proceder à movimentação para receber em condições de dar seguimento ao ataque. Este trabalho de tomada de decisão, segundo o mesmo autor, depende menos do feedback do treinador do que de um treino que inclua tarefas que permitam a afinação destas capacidades, numa fase inicial, e a calibração da mesma, numa fase mais adiantada.
Enquanto esta afinação e calibração não estão consolidadas no atleta, as tomadas de decisão “em segurança” vão ser sempre prioritárias. Daí o passe longo, o perder a bola lá à frente, o entender da bola como algo que queima. Trabalhar estas noções e princípios desde cedo é a melhor forma de virmos a ter jogadores e equipas com comportamentos mais próximos daquilo que desejamos.
Brilhante meu amigo.
Fantástico Post, quero contudo colocar uma questão:
Não terá o lado psicológico extrema importância nesta matéria? O Facto de um jogador estar mais confiante ou ser mais tranquilo na tomada de decisão influenciará a sua percepção de tempo/espaço para a decidi
Obrigado, GRM.
Esta matéria é toda sobre psicologia. A confiança/tranquilidade do atleta no momento da tomada de decisão é influenciada pelo treino desse mesmo atleta, pelas experiências adquiridas e analisadas por essa via. Estamos a trabalhar o cérebro do atleta para o momento da tomada de decisão.
É exatamente esse o ponto do artigo.
Era o que pensava! O lado técnico aqui nem é chamado, certo?
É chamado, sim, porque a tomada de decisão também é influenciada pelas capacidades de cada atleta. Irei abordar isso num outro artigo, em breve.
Bom artigo
Concordo que a tomada de decisão e “o número de soluções” que o atleta vai ganhando depende essencialmente do treino e das experiências que vai somando.
Mas não descuremos a importância da comunicação do treinador que tem no caminho que o atleta vai percorrer. Porque se queremos um central a sair bem com a bola, ele vai errar muitas vezes e perder bolas “proibidas”!
Existem muitos treinadores que se queixam e repreendem os seus jogadores por baterem a bola na frente, mas quando tentam sair curto e cometem erros “matam” o jogador. Assim, o jogador não evolui nem uma coisa nem outra…
Parece-me uma problemática cada vez mais evidente. Mesmo em campeonatos Nacionais, onde o nivel devia ser outro, deparo-me com jogadores que mal arranjam a bola para poderem jogar, tendo muito ou pouco espaço. Falta de diversidade no jogar de cada um, fecha-se cada vez mais os processos e com isto os jogadores. “Este é para conduzir, este é para passar, este é…”. Rótulos e mais rótulos. Há claramente que haver um reenquadramento do nosso futebol e sobretudo dos nossos valores. A Alemanha ganhava muita coisa e mudou o paradigma, porque não fazermos o mesmo? Acho também que quem está a TOP tem uma responsabilidade muito grande, falam pouco sobre a formação! Parabéns, continua a postar coisas de qualidade