Pode a maneira como defendes condicionar o teu ataque? E porque queres tu, tanta bola no ar, FC Porto?

A resposta à primeira questão é óbvia, e terá sido uma das maiores dificuldades do FC Porto na partida de Copenhaga. Na Dinamarca percebeu-se o quão o jogo e o trabalho do treinador é muito mais que seleccionar jogadores. Escolher quem joga por si só, é pouco relevante quando se sabe o sem número de variáveis que estão em jogo. Apesar de um onze de natureza predominantemente ofensiva, foi bastante conservador Nuno Espírito Santo. Conservador porque estrategicamente optou pela segurança do ponto do que pelo arriscar do sentenciar da fase de grupos em plena Copenhaga. Naturalmente que quando se fala do “segurança do ponto” dependerá sempre do prisma de quem olha para o jogo. Será que pelo que é comummente optar pela segurança do ponto não será arriscar mais do que propriamente ser-se protagonista, quando individualmente tens os melhores em campo?

Porque apelidada de conservadora a estratégia do FC Porto na partida da quinta jornada da Liga dos Campeões?

Tudo a ver com a altura da pressão portista. Para manter o bloco junto, optou por recuar a zona de pressão, mantendo confortáveis na profundidade os centrais. Ao contrário do que optou, por exemplo, Jorge Jesus nas partidas com o Real Madrid.

zona-pressao-baixa

Retirou as possibilidades que o Copenhaga poderia ter na profundidade, Nuno. E beneficia do facto de ter uma linha defensiva com características individuais muito fortes (sobretudo capacidades físicas) que lhes permitem ganhar incessantemente os duelos defensivos.

Não há portanto, no FC Porto o jogo de profundidade (sobe / desce) em função de estímulos mais específicos, uma vez que a última linha opta sempre por não arriscar ter as costas muito vazias.

1728 1737

O grande problema da estratégia adoptada, por mais que faça a última linha sentir-se mais confortável, é que uma percentagem grande de bolas recuperadas, são recuperadas precisamente, em espaços muito baixos. E quando assim o é, das duas uma. 1. Bola recuperada tão baixa, no último terço, com equipa tão junta, que face à proximidade da própria baliza, opta-se por “cortar” ou “despejar” na frente, mantendo a bola na posse adversária. 2. Bola recuperada um pouco mais alta, mas ainda assim, no meio campo defensivo, e com muitos metros para comer até aproximação à baliza adversária.

Em posse, um chorrilho de más decisões. Em organização, são mais as bolas longas esticadas na frente que as vezes que opta por construir usando apoios dentro da estrutura adversária. Incrível como as primeiras quatro acções de Telles no jogo foram um corte para fora, e três passes por cima a esticar no seu próprio corredor.

Na transição ofensiva, e ao longo de demasiado tempo, quem sabe se pela própria juventude de todos os jogadores mais ofensivos dos azuis e brancos (Corona com vinte e três anos é uma espécie de “veterano” no sector), cada bola era usada para tentar “ir ao fim”. Quem sabe se por tanto tempo sem bola, quando a havia Jota, Silva, Corona, Otávio, queriam sempre acelerar e ir em inferioridade contra a defensiva adversária. Muito raramente, depois de metros ganhos, seguravam e entregavam nas coberturas para se iniciar ataque em organização.

Na Dinamarca, um FC Porto com pouca maturidade na frente, e alicerçado por uma estratégia conservadora sem bola, a deixar uma imagem bem diferente do potencial que tem.

 

P.S. – No(s) próximo(s) dia(s) (está a ser ultimado com rigor o processo) surgirão alguns textos semanais que serão exclusivos para os patronos do “Lateral Esquerdo”. Para quem pretender ter acesso a tudo o que por cá se faz, é favor registar no Patreon. E recordo que um euro mensal já será um contributo muito aprazível para o projecto. Depois do registo realizado, receberão uma mensagem com mais instruções. Sobre a recorrente questão sobre alternativa ao Patreon, é favor direccionar a questão para: lateralesquerdo.com@gmail.com, para perceberem se interessa a alternativa proposta.

Muito obrigado por ai estarem e pela ajuda que tantos já estão a dar ao projecto.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

5 Comentários

  1. Análise lúcida e bem explícita. Contudo, quer-me parecer (quase sempre) que a juventude do SO é uma característica…vista como defeito (limitação) devido às péssimas ideias (ou falta delas) no processo ofensivo. O jogo directo SD>SO é resultado da falta de qualidade individual dos 2 DC’s e Danilo para conseguir ligar curto com o SI. Depois desta análise penso que o NES prefere jogar longo no André para depois conseguir conquistar a 2ª bola por parte de Jota, Oliver ou Otávio…e a partir daí tentar criar qualquer coisa. Contudo, este FCP parece sentir-se mais confortável sem bola…mesmo quando a tem. Por isso tenta recorrentemente o cruzamento a 30 m da área, o último passe, a jogada individual ou o remate. Não tem paciência nem critério para criar o desequilíbrio na estrutura adversária. Força sempre. As questões que deixo são: será este um “futebol” de equipa grande? Será Rúben Neves um elemento tão desprezível no plantel como o tem demonstrado, ou alguém que poderá mudar o paradigma do futebol ofensivo do FCP? (excelente artigo do LE sobre Danilo/Rúben no últimos dias). Para finalizar, parece-me que os elementos do SO do FCP se tornam vítimas das opções estratégicas/MJ do treinador…e não da sua (suposta) falta de qualidade!

  2. Odeio-vos, vocês são o pior blog que há. Desde que me fizeram ver que tipo de jogador é o Telles que nunca mais consegui ver um jogo da minha equipa sem precisar de dirigir uns bons impropérios para a televisão. Já me arrependi de vos ajudar no Patreon.

    Curioso que depois dos primeiros 5 minutos em que o Telles perde 3 bolas e outra só não perde por acaso, isto vinha direitinho para aqui.

    A equipa do Porto parece partida. Ataca sempre com inferioridade, mas isso foi o que vocês revelaram da ‘pressa’ em ir para cima da defesa

  3. Há certos gajos que nascem com o cú virado para a lua (mas até gosto da foto, dá-lhe um ar quase angelical).

    Em relação ao post, excelente.

    Abraço

  4. Caro Paolo Maldini

    NES optou por limitar o risco de sofrer golos, jogou para o resultado sabendo que o 0-0 era positivo em termos de previsível apuramento, beneficiou também da ausência de Andreas Cornelius.

    Na frente, André Silva continua o mesmo incompetente; se jogasse no Barcelona e tivesse o fraco rendimento do Suarez seria considerado um dos melhores jogadores do Mundo, no Porto simplesmente não serve, é jogador para ser rapidamente despachado e por muitos milhões, ou ainda em última alternativa, “reestruturar” a sua utilização em campo passando a jogar no meio-campo que na frente de ataque é incomptente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*