Jogar bem / bonito implica defender mal.

Nos tempos mais recentes, alguns triunfos pontuais de equipas menos preparadas e menos trabalhadas para os momentos ofensivos, fez regressar dúvidas e questões. De repente, como que se legitimou o abdicar do jogo com bola como a melhor estratégia para vencer as partidas.

Quem tem bola defende mal. Tornou-se quase uma premissa. Talvez fruto de algumas equipas que valorizam bastante o jogo ofensivo, mas que sem bola não têm de facto os comportamentos mais desejáveis. Sejam eles a defesa zonal, as zonas de pressão bem definidas, ou as transições defensivas preparadas pelo próprio posicionamento em organização ofensiva. Naturalmente que tais exemplos poderão legitimar uma ideia perigosa porque errada. No fundo, é como em sentido inverso afirmar que ter a bola o jogo todo é o ideal porque o Barcelona quando defrontou o Carcavelinhos a teve, e goleou.

Há não muito referi que sem bola, até se pode controlar um jogo. Porém, nunca o resultado. Porque mesmo que estejas confortável, não tendo a bola, estarás sempre sujeito a que algo possa acontecer. Seja uma casualidade numa bola parada, ou uma genialidade de um qualquer adversário que naquele dia / momento / acção em específico esteve inspirado.

Com bola controlas jogo e resultado. Se tiveres capacidade para tal, naturalmente. Ter a bola por si só, sem ideias e sem ligação nos posicionamentos, mesmo que ousados, à transição defensiva, não garantirá sucesso. Todavia, não a ter e não apresentar comportamentos de qualidade no momento defensivo muito menos!

No fundo, tantas vezes o saber não ter a bola sobrepõe-se ao ter a bola, mas não a sabendo ter. Daí tantas dúvidas e mentes enviesadas. Porque ter a bola e saber tê-la, vencerá sempre o não ter, mesmo sabendo não a ter. Por mais que em alguns jogos em específico, fruto da aleatoriedade do mesmo, surjam resultados que o neguem.

E se a determinação e perseverança serão sempre e bem comportamentos apreciados, muito maior é o valor a pagar pelos que fazem a diferença naquilo que realmente importa. O trato da bola. A capacidade para com ela eliminar oposição, seja de que forma for.

E se é verdade que defender bem é mais fácil e requer menos trabalho e talento que atacar bem, não menos verdade é que o futebol é uma industria que move demasiado para que se continue a optar pelo que é mais fácil e não pelo que é melhor e mais atractivo. Mesmo que custe mais a operacionalizar.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

8 Comentários

  1. Tudo bem até ao último parágrafo. Mesmo que não fosse atractivo: isto é um desporto e ganha quem o praticar melhor. Por sorte e para muitos, neste desporto o melhor tem uma estética mais atractiva. Por sorte.

  2. Defender bem requer menos trabalho que atacar bem?

    Discutível, no mínimo.

    “Porque ter a bola e saber tê-la, vencerá sempre o não ter, mesmo sabendo não a ter.”

    Discutível novamente, não podemos classificar uma equipa como “sabe não ter bola”, então e o resto? Como é com bola? Competente? Se sim, tem também chances de vencer o jogo.

    “Por mais que em alguns jogos em específico, fruto da aleatoriedade do mesmo, surjam resultados que o neguem.”

    Fruto da aleatoriedade, why? Não pode ser fruto do trabalho?

    “E se a determinação e perseverança serão sempre e bem comportamentos apreciados, muito maior é o valor a pagar pelos que fazem a diferença naquilo que realmente importa. O trato da bola. A capacidade para com ela eliminar oposição, seja de que forma for.”

    Ora aqui está o que conta, eliminar a oposição, seja de que forma for… o que não significa nem de perto ter de se ter mais de x% de posse de bola num jogo para passar a ser visto como um estilo de jogo ofensivo aceitável.

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    Acho que tens uma ideia muito boa do futebol de posse, pões quase esse tipo de jogar num pedestal, quando o futebol já provou que ter posse está longe de significar ter sucesso.

    O futebol hoje é muito mais um jogo de reacção, reacção à conquista da bola, se uma equipa for competente nesse momento (rápida, objectiva e cínica no aproveitar de espaços deixados em aberto pelo adversário) está muito mais perto de ter sucesso do que uma equipa de posse. E isto não é apenas fruto da minha cabeça, estudos recentes revelam que nas principais ligas cada vez há uma percentagem maior de golos em jogadas rápidas do que num estilo de jogar mais lento.

    • “não menos verdade é que o futebol é uma industria que move demasiado para que se continue a optar pelo que é mais fácil e não pelo que é melhor e mais atractivo”

      Vai-se optar cada vez mais pelo que garanta sucesso dentro das 4 linhas porque garantindo sucesso aí também se garante fora ($).

  3. Há uma mistura de sabores entre o nuno e o maldini! Percebendo o que o maldini quer dizer, o nuno exemplifica que também é possível jogar de maneira diferente e ganhar 😉 dois maradonas do perceber futebol.

    Se fosse possível e quando for mais possível de acordo com alguns jogos do paços, uma análise ao vasco. Que depois de um magnífico trabalho nos juniores, conseguindo lançar com paulo fonseca bários na equipa principal, assume o papel de principal com uma equipa que não foi a sua escolha. Penso que contra o belenenses já devemos ver pontos interessantes!

    Grande abraço para vocês

    • Não sou o Amado, muito menos um Maradona do perceber o futebol mas obrigado pelas palavras 😀

      Olha, é engraçado, um bocado em contra-ponto contigo eu simpatizo com o Belenenses e o Quim tem feito um óptimo trabalho, vem de uma série invencível de 5 ou 6 jogos e tem feito exibições bastante seguras como com o Porto para a liga, Estoril fora ou até agora com o Marítimo. Mas estou também curioso para ver o trabalho do Vasco 🙂

      Pedro (Maldini) estava aqui a pensar numa coisa que gostava de te perguntar e pensei que seria interessante (é um bocado à youtube, é certo) mas ter um perguntas e respostas aqui do site, dos visitantes para ti e outros membros da equipa que queiram participar ou algo assim…

      Abraço a todos

    • Não era preciso teres dito pois dava para perceber 🙂
      Grande texto em que acrescentava só um ponto: sem bola só controlas o jogo; com bola podes dominá-lo. E em qualquer dos casos podes perdê-lo…

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