O que mudaria com Jorge Simão em Braga?

Após a anunciada saída de José Peseiro do Sporting Clube de Braga, Jorge Simão surge como opção preferencial para ocupar o cargo de treinador no clube minhoto. Em termos de “evolução natural”, estaremos perante a aposta mais provável, até porque os bracarenses têm servido de “casa de crescimento” para muitos treinadores que têm sucesso nos clubes de segunda linha na Primeira Liga portuguesa. Jorge Jesus, Domingos Paciência, Leonardo Jardim, Jorge Paixão (a aporta mais arriscada), Sérgio Conceição ou Paulo Fonseca cumpriram, todos eles, esse mesmo percurso, sendo José Peseiro, das duas vezes que esteve na frente do clube, a exceção.

Pode concluir-se, assim, que a escolha de treinadores se vai fazendo, no clube minhoto, ao sabor dos resultados alcançados em clubes com menos meios. Até porque entre as diferentes opções para o cargo, coexistem ideias de jogo bastante diferentes, algumas delas quase na oposição de princípios. Se Jorge Jesus e José Peseiro sempre tiveram no momento ofensivo o seu principal foco, Domingos Paciência ou Leonardo Jardim podem ser considerados treinadores em que a organização defensiva é primordial. Paulo Fonseca, até pelo contexto da sua carreira, chegou a Braga numa fase de maturação que lhe permitiu uma aposta mais pensada e elaborada dos diferentes momentos do jogo.

Com Jorge Simão, a confirmar-se a chegada do técnico a Braga, a equipa volta a ter um técnico bastante consciente do seu papel de liderança, como demonstrou nos clubes onde passou, mas também um treinador que tem alicerçado o seu progresso numa organização defensiva férrea, levada ao extremo no atual Desportivo de Chaves, que pontua na Liga Portuguesa abdicando de uma ideia de jogo ofensivo organizado. O plantel, pensado de e para José Peseiro, está numa nota completamente oposta, o que poderá levar a questionar se, podendo Jorge Simão ser o homem certo para “despertar” a equipa bracarense, acabará por encontrar no Minho as condições necessárias para aplicar a sua ideia de jogo.

Se realmente Jorge Simão acabar por ser o novo treinador do Braga, teremos matéria para entender como a sua evolução, estudada e publicada*, em questões de liderança, acabará por contrastar com um contexto que pouco parece ajudar ao seu conhecido modelo de jogo.

E não esqueças que em termos de futuro, a tua imagem profissional não passa só pelos resultados que vais conseguindo

Jorge Araújo

*Araújo, Jorge (2016), O Treino do Treinador, Edições Teamwork.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

9 Comentários

  1. Jorge Simão no Braga, enquanto antecâmara dos grandes, e com o Braga a lutar por poucas competições é uma boa notícia. Está na hora de voltar a ver a que horas joga o Braga.

  2. Eu acho interessante o trabalho que o Abel está a fazer na equipa B, ao nível de filosofia de jogo. Se lhe derem tempo (o que não vão dar, com certeza) pode tornar o futebol da equipa principal muito mais interessante.
    Concordo com o Luís Cristóvão que o Jorge Simão é um treinador que não traz nada de verdadeiramente inovador. Além disso, parece-me pouco coerente que alguns críticos que tenho visto condenem a equipa arsenalista pelas exibições pouco convincentes (a nível classificativo está igual ou melhor que o ano passado) e depois elogiem a opção por um treinador que é muito mais conservador. Não vejo como as exibições poderiam melhorar.

    • Fernando, as críticas é muito bonito quando se perde. Quando se ganha, podem haver críticas, mas o pessoal chuta-as para canto.

      O que determina tudo são os resultados e o Jorge Simão tem provado que consegue bons resultados, em parte porque também sabe escolher os projetos em que entra.

      Mas é talvez o treinador com mais potencial no nosso campeonato, por isso, por que não?

    • Fernando,

      eu não escrevi que o Jorge Simão “não traz nada de verdadeiramente inovador”. Nas questões de liderança, creio que será até o caso contrário, pela forma como se tem rodeado e evoluído.

      Leia o livro.

  3. Não estarão a cometer o mesmo erro que cometeram com o RV? I.e., achar que o facto de uma equipa não ter uma capacidade criativa muito forte significa que quem a lidera não tem capacidade para a criar tendo os instrumentos adequados (jogadores)?

    O Chaves tem critério a sair e sabe atacar. Por opção estratégica, e porque sabe que não tem capacidade para se sentir confortável a controlar o jogo com bola, prefere não o fazer. Quando os objectivos mudarem, quando a matéria-prima mudar, o modelo de jogo altera-se e evolui. E acaba a ter resultados. Jorge Simão tem-se sabido sempre adaptar às exigências inerentes ao sítio a que chega e cumprir sempre os diferentes objectivos.

    • Gonçalo,

      não leia no meu artigo uma crítica ao Jorge Simão que, como bem compreenderá pelas referências, é um técnico que admiro e com um percurso de evolução pessoal que poderia fazer escola em Portugal.

      Leia, isso sim, que o Jorge Simão vai ter um desafio bastante diferente de todos aqueles que teve até agora, num contexto de outra exigência e com jogadores que não escolheu, o que implicará uma mudança de perfil no modelo de jogo que tem sido o seu.

      Ou seja, estamos a sublinhar o desafio que aí vem e não a tecer juízos de valor sobre a escolha.

      • E eu compreendo. Mas fiquei com a ideia que há algumas dúvidas de que o treinador seja capaz de se habituar a um contexto (e exigência) diferente, que obriga a modificar com eficiência aquele que é o seu (eficaz, para outro contexto) modelo de jogo. E eu acredito mesmo, mesmo que poucos como ele são tão capazes de dar um futebol sempre diferente mas sempre eficaz perante os também diferentes contextos que vai apanhando (e que ainda vai apanhar) na carreira.

        Eu, se fosse António Salvador, não tinha despedido Peseiro. Porém, despedindo, só via dois treinadores com qualidade para pegar no Braga nesta fase (treinadores bastante diferentes, mas unidos pela qualidade): Marco Silva e Jorge Simão. São as apostas mais seguras.

        Acrescento que despedir Peseiro nesta fase, com um Guimarães forte e bem liderado por Pedro Martins, é um risco grande…

        Abraço!

  4. “Se Jorge Jesus e José Peseiro sempre tiveram no momento ofensivo o seu principal foco”

    Discordo e penso que até tens vários textos neste blog a discordar. JJ tem no momento defensivo o principal foco de trabalho. Não quer dizer que não passe muito tempo a atacar, estamos em Portugal.

    “Paulo Fonseca, até pelo contexto da sua carreira, chegou a Braga numa fase de maturação que lhe permitiu uma aposta mais pensada e elaborada dos diferentes momentos do jogo. ”

    Não percebo porque é que o PF tem uma aposta mais pensada que JJ ou Peseiro. Sei que hoje em dia está na moda falar bem do PF mas não vejo em que é que ele é diferente dos outros.

    “O plantel, pensado de e para José Peseiro”

    O plantel foi é pensado de e para o mercado já que lhe venderam Rafa, Boly, Luiz Carlos e perderam Josué. E não vi reforços de qualidade a entrar para colmatar essas baixas. Um plantel pensado para o modelo de Peseiro precisa de muito mais qualidade na frente, não é de Wilsons Eduardos…

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  1. O desafio de Jorge Simão – Lateral Esquerdo

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