Noção de como se joga o jogo; o contra-ataque

Perguntava um dia a um treinador de futebol porque é que não se treinava mais as situações de jogo de contra-ataque. “Não há tempo para tal”, foi a resposta. Confrontado com o facto de boa parte dos jogadores nem sequer terem noção de onde se posicionar quando a sua equipa obtém uma situação de transição rápida com superioridade numérica, esse treinador confessou-me que esses princípios, quando não são reforçados, se perdem (partindo do princípio que foram ensinados). Ora, perante tais confissões, aquilo que me pareceu é que muitos dos nossos jogadores nunca foram expostos ao ensino de determinadas situações do jogo e que, por consequência disso, não têm noção do jogo que jogam.

Relembro essa conversa e essa triste convicção minha ao ver o segundo golo do Guingamp frente ao Paris SG, esta tarde. Recuperação de bola, ocupação dos corredores, consciência do posicionamento, linhas de passe abertas para, com um só toque, encontrar o espaço para rematar com maior probabilidade de sucesso.

Não sei se o Guingamp treina, ou não, esta situação, como não sei que tipo de percurso educativo tiveram estes três jogadores ao longo da sua carreira. O que sei, porque está provado nas imagens, é que todos eles têm uma profunda noção de como se joga o jogo. Por isso mesmo marcaram este golo.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

4 Comentários

  1. Acho que um ponto importante quando falamos em transição ofensiva: tentar ao máximo conduzir pelo centro do terreno para a partir daí decidir. De maneira a que seja mais imprevisível é difícil de defender por parte do adversário. Pelo centro terás sempre mais opções. E aquele passe foi a grande decisão do lance…

    Este post lembra-me de um bom ano. Tive uma época de experiência como treinador adjunto de uma equipa de futsal amadora, com um treinador que já levava experiência na primeira divisão francesa. Treinava-se bastante transições, uma das ideias base do modelo de jogo era a defesa zonal com aproveitamento da transição para fazer golo. Os princípios básicos: onde quer que a bola fosse interceptada, conduzir pelo centro. Fixar o adversário para soltar.

    Qualquer semelhança com o futebol não será ao acaso…e no treino a que diz respeito, estar por dentro dá-nos também outra visão e questões sobre o treino de futebol. Nomeadamente algo que muito referem aqui, a qualidade de decisões e a rapidez com que é pensada e executada…

    Um treinador dizer isso faz me confusão…porque o tempo de treino não será assim por aí além…porque são processos ‘simples’ na minha opinião…e criar rotinas, mesmo sem muita criatividade do treinador no treino, não deverá ser muito complicado…digo isto, pela curta experiência no futsal, em relação ao momento de transição…

    Bom post!

    • Percebo o que dizes mas acho.que acaba por ser redutor afirmarmos que o segredo está na procura pelo meio, porque eu sou de opinião que em qualquer situação ofensiva a solução é mesmo essa (usando os corredores claro, mas para atrair) até porque se reparares o primeiro passe entra para fora e depois quem o recebe e que trás para dentro, fixa e solta. De todo o modo, parece que de facto sabiam o que estavam a fazer!!

  2. Se, em termos teóricos, conduzir a bola pelo corredor central oferece melhores condições para a tomada de decisão, o que penso acontecer neste lance é um trabalho de equipa que compreende o potencial de explorar a primeira fase do contra-ataque pelas faixas (sobretudo após uma bola parada, a oposição aí é sempre mais escassa), com os restantes jogadores a fazerem a leitura correta na ocupação dos corredores.

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