As rotinas e a compreensão do jogo. O jogo que se liga.

Rotinas no futebol definidas como a repetição exaustiva de comportamentos em determinadas situações. Treinadores como Jorge Jesus em Portugal ou Antonio Conte na Europa são quase obsessivos com a forma como pretendem que se repitam os movimentos, com ou sem bola, nas mesmas situações.

Tais ideais ajudam bastante os seus jogadores na forma como retiram dentro do máximo possível a aleatoriedade e o caos do jogo. Como que há sempre um guião para seguir, facilitando a cada jogador as suas decisões. Porém, há também o reverso da medalha. Um jogo que poderá tornar-se mais previsível (se as individualidades não forem criativas muito mais ainda), e mais passível de se tentar contrariar do ponto de vista estratégico, depois de compreendido.

A total ausência de rotinas remeter-nos-à para o jogo de década(s) passada(s), onde nada estava treinado do ponto de vista táctico. Cada um por si, desarticulação total nos momentos defensivos. Ligações ofensivas esporádicas e em função de quando a casualidade o permitia.

O ideal num jogo que se pretende cada vez mais actual, passará sempre por um modelo com uma base forte de organização, mas que permita a liberdade necessária a cada um dos intervenientes para criar, desde que devidamente enquadrado com o comportamento dos colegas. Em suma, uma liberdade em cima de rotinas. Liberdade que exigirá sempre uma compreensão rápida do jogo.

Num só lance do United, um chorrilho de erros, a fazer perceber de tudo. Desde a importância de rotinas para ajudar a decidir melhor, à falta de compreensão do jogo que leva à repetição de um comportamento numa situação que ficou diferente por um erro.

O jogo que se liga. Apontadas as muitas debilidades da última linha do United em tudo o que envolva a bola, a referência de que porque o jogo se liga em ataque – defesa. Não somente parte em desvantagem numérica logo quando constrói, condicionando o jogo ofensivamente porque tem de ter jogadores do sector médio mais próximos para iniciar os ataques pela incapacidade dos centrais o fazerem, como a mesma falta de qualidade com bola remete o United para mais momentos de dificuldade pelas perdas confrangedoras dos seus centrais.

  1. O incrível erro de Rojo com bola, a falhar um passe de infantil, a transformar o ataque em defesa;
  2. A falta de rotina da posição de defesa central de Carrick que o leva ao erro, de não baixar metros para as costas de Jones, assim que se percebe que é o central inglês que ficará para a contenção ao portador;
  3. A incapacidade de Valência e de Rojo para interpretarem o lance, leva-os a darem a mesma resposta rotinada de sempre que central sai. Ligado o modo automático não entendem sequer que as condições do lance mudaram porque Carrick errou e não baixou. E terem compreendido o lance traria sempre uma de duas opções diferentes do habitual só baixar e juntar. A mais inteligente e que requeria maior compreensão e velocidade de racíocinio. a) Depois de rupturas feitas, sem bola ter saído, bastaria inverter movimento para matar todo o lance colocando em fora de jogo os adversários. Ou a que requeria menor plasticidade mental. b) Perceber que Carrick por erro de falta de rotina não estava no lance, deveriam comportar-se como se tivessem somente três, encurtando bastante a distância entre ambos, fechado mais o corredor central.

Por mais rotinas que se treinem, nada garantirá o sucesso da compreensão do jogo. Sobretudo se esta se mostrar a elevada velocidade. Por mais que determinadas situações padrão aconteçam, entender é estar preparado para responder às alterações rápidas do contexto. Como seja, o erro de um colega.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

4 Comentários

  1. Mais do que falta de rotinas (Carrick comporta-se como médio) parece mais uma gritante falta de qualidade de Rojo e Valência. Características semelhantes, são dois jogadores com um grande jogo físico, com velocidade (não de pensamento), características muito apreciadas em inglaterra mas, com muito pouco conhecimento de jogo… bastava um passo em frente e a jogava acabava… mas para isso era preciso pensar!! lol!

    • Sim… É isso que tb é referido. Todo o quarteto do Utd da presente época vai saltar fora na próxima. Não é por acaso..

  2. Off topic:

    O que já ha alguns anosa se vem falando por aqui:

    R – Esperava mais de alguns jogadores que vieram no verão?
    BC – O Jorge [Jesus] tem uma maneira muito particular de jogar. É um treinador diferente e é por isso que é o melhor. O Jorge sabe o que quer e como quer, em cada posição, em cada momento. Os jogadores têm de se adaptar a isto. Porque não é tudo ao ‘molho e fé em Deus’, tendo fé na capacidade criativa de cada um. É isso que eu gosto no Jorge. É muito metódico e, a partir do último terço do terreno, venha lá a criatividade toda à tona. Há jogadores que assimilam mais rápido e há jogadores que assimilam menos rápido. Infelizmente para o Sporting, os jogadores estão a assimilar menos rápido. Mas acho que estamos no bom caminho. Com o Jorge Jesus, os jogadores têm de estar muito bem preparados para mudar o que sabem e reaprenderem um pouco, isto tudo sem perderem as suas características individuais e a criatividade. Têm de saber mudar o chip, pois o Jorge sabe muito bem aquilo que pretende para cada posição.

    Bruno de Carvalho hoje no Record

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