No início da temporada, André David foi um treinador seguido com muita curiosidade por parte dos nossos leitores, muitos deles também treinadores, que alimentavam com o transmontano a mesma ambição de chegar aos campeonatos profissionais. Para muitos foi uma espécie de oportunidade de ver “um dos nossos” a chegar a esse nível, tentando perceber de que forma a sua adaptação decorreria, servindo quase como um guia para o futuro de tantos outros que acabarão por percorrer o mesmo caminho. Numa conversa com ele, agora que já houve tempo para fazer um balanço da sua passagem pelo Académico, é curioso poder sublinhar que uma das frases mais sonantes acabe por tocar neste mesmo ponto. “Achei que a capacidade de adaptação não tem limites”. Este é o seu discurso direto.
Sobre as experiências no Tourizense, Oliveira do Hospital e Bragança, equipas do Campeonato de Portugal
Esses anos de trabalho tornaram-me um melhor treinador por varias razões. Trabalhamos me equipas com objetivos coletivos distintos, trabalhamos com jogadores de varias nacionalidades e culturas e trabalhamos em contextos e organizações muito diferentes. Acabamos durante este percurso por desenvolver um aspecto que considero muito importante, a capacidade de adaptação aos diversos contextos e capacidade de trabalho nos mesmos.
Sobre a chegada ao Académico de Viseu, as diferenças sentidas e a retificação de processos
Ao nível do treino não tivemos de fazer grandes adaptações, o volume de trabalho foi algo que vivenciamos noutros contextos. […] Encontrámos as resistências normais das primeiras semanas de trabalho, onde há necessidade de introduzir e trabalhar vários comportamentos do nosso jogar até ao primeiro jogo do campeonato. É altura onde aparece a dúvida, o erro,a teimosia e a resistência algumas mudanças. […] O processo de treino é mesmo isso, refletir e rectificar, partir e juntar, até ficar o processo afinado. Se olharmos para a equipa como um Formula 1, a afinação do motor, da aerodinâmica, a escolha de pneus e os testes durante a semana é o treino, a corrida é o jogo.
Sobre a escolha das equipas técnicas que o têm acompanhado
A construção da equipa técnica foi sempre muito difícil ao longo dos anos, pois a disponibilidade financeira dos clubes é apenas para o treinador principal. Por isso não tive a oportunidade de, por diversas ocasiões, manter os meus adjuntos.
Considero três áreas muito importantes na construção da equipa técnica: a área da condição física, a área de analise de rendimento ( adversário e da própria equipa) e, a mais importante, a área da Metodologia de Treino.
Sobre um balanço do que aconteceu no Académico de Viseu e os planos para o futuro
Há vários erros no meu percurso no Académico, desde uma pre-época curta, à escolha dos adversários nesse período e a forma como isso influenciou a construção do nosso jogo. A escolha do plantel, que não passou por mim, e a falta de força na tomada de decisões importantes para o plantel. O meu maior erro foi o querer agarrar aquela oportunidade e achar que a capacidade de adaptação não tem limites. […] Temos de olhar para esta situação como uma oportunidade para fazer o que não podemos quando estamos no activo. Refletir e fazer um balanço desta experiência é o primeiro passo, depois aproveitar para estudar e enriquecer nas diversas áreas, se possível realizando estágios com alguns colegas.
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Sou viseense e gostava do André David. Mas é muito complicado algum treinador conseguir resultados no académico (subida de divisão) porque o plantel está longe da qualidade individual de outros. Por muito boas ideias que se tenha.
http://www.mvpdesportiva.com/2016/12/entrevista-andre-david.html