Saída a três e superioridades numéricas. Dortmund na Luz.

A saída a três na construção é cada vez mais recorrente nas equipas que pretendem dominar o jogo com bola. Um terceiro elemento numa linha mais recuada, permite que se criem ligações com todos os corredores. E permite mais facilmente anular o ou os avançados adversários do lance, possibilitando ao central que fica livre espaço para progredir, obrigando a que seja um adversário do sector médio a sair ao central. Em suma, cada vez mais utilizado como forma de garantir ligação em todo o campo, e usando a superioridade numérica, começar a mover as peças da estrutura adversária. Desequilibrando o jogo desde trás.

No jogo dos oitavos de final da Liga dos Campeões, ao grande desnível individual bem evidenciado em muitas zonas do campo de jogo, somou-se uma incapacidade do SL Benfica, sobretudo na primeira parte, para colectivamente responder às dificuldades que o jogo estava a dar.

É verdade que impediu que Weigl pudesse ter um papel activo no início de cada jogada. Porém, nunca conseguiu que a sua primeira linha tapasse progressão adversária. Rafa e Mitroglou eram ultrapassados com demasiada facilidade, não havia reajuste de nenhum deles para a linha média de onde alguém teria sempre de sair ao central que progredia.

Da vantagem numérica a toda a largura do campo na construção, entrava pela progressão do central, em vantagem numérica em cada corredor. De onde ou já entrava com espaço para desequilibrar e aparecer dentro, por vezes até nas costas dos médios encarnados, ou atraía equipa do Benfica para posteriormente explorar o outro corredor. É que a bola rolará sempre bastante mais rápido que a basculação de uma linha de quatro…

Dos desequilibrios causados pelas superioridades numéricas nos espaços por onde decidiu mover-se, e das ligações entre sectores e corredores desde trás, desequilibrou todo o jogo a equipa alemã.

Num post datado da visita do Napoli à Luz, foi aqui mostrado o quão preparada estava a equipa napolitana para a construção semelhante do SL Benfica.

E o exemplo muito parecido ao da estratégia napolitana de outra equipa portuguesa na Liga dos Campeões, adoptado para a saída a três adversária.

Na Alemanha, só um SL Benfica preparado de forma diferente do ponto de vista táctico e estratégico poderá sobreviver ao enorme poderio adversário.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

18 Comentários

  1. Não achas que na segunda parte aconteceu um bocado o que sugeres? Reparei que o F. Augusto e também o Pizzi (menos vezes) saíram mais na pressão com o resto da equipa a ajustar.

    Mesmo assim só funcionou durante alguns minutos. O que me fica do jogo de ontem é, em primeiro lugar, a enorme diferença de qualidade individual. Pelo menos metade dos titulares do Benfica tinham dificuldades em dominar a bola, enquanto do outro lado mesmo em situações difíceis saía tudo a um e dois toques e boas execuções!

    Em segundo lugar, uma organização ofensiva de excelência da parte do Dortmund. Por acaso achei que o bloco baixo do Benfica controlou mais ou menos bem o corredor central, tirando uma ou outra vez. O perigo veio mais pelo corredor lateral.

    O problema é que eles têm solução para isso. Está fechado onde mais gostamos de ir? Não tem maka! E não é com charutos e cruzamentos à toa. É atraindo o adversário, acelerar quando acham que deve ser, aproximar de quem tem a bola mas com outros colegas à procura de outros movimentos diferentes. Muito bom este Dortmund.

    Para o Benfica os eliminar vai continuar a precisar do Ederson, da sorte, mas seria fixe se o RV pudesse ser um bocado mais elaborado como treinador. Talvez a experiência do ano passado com o Bayern, dos jogos com o Nápoles, possa ajudar o homem. Bem precisa de ajuda.

    • Pressão do Pizzi e do Augusto? Mas qual pressão? No máximo ajustaram em função da opção do portador da bola.

      Foi um senhor abafo, tal como tinha sido com o Nápoles, e não acho que o homem tenha aprendido algo com isso. Ele prefere destacar a união, crença e os três pastorinhos…

      Dortmund a confirmar tudo o que se esperava, apesar da pausa de Inverno. Excelente equipa, muitas horas de treino e jogadores totalmente comprometidos com a ideia ofensiva de Tuchel.

      • «Em segundo lugar, uma organização ofensiva de excelência da parte do Dortmund. Por acaso achei que o bloco baixo do Benfica controlou mais ou menos bem o corredor central, tirando uma ou outra vez. O perigo veio mais pelo corredor lateral.» Também me pareceu retirar isto do jogo. Pareceu-se-me que a prioridade era fechar o corredor central e tentar lidar com o que viesse do corredor lateral. Eu diria que face à diferença de qualidade individual de parte a parte isto até foi bem conseguido.

  2. Caro Paolo Maldini

    A superioridade alemã foi total em todo o tempo de jogo e em todo o campo, além disso, nem se pode dizer que houve mérito defensivo do Benfica, porque simplesmente não houve, apenas existiu uma enorme vaca.

    Apenas uma nota negativa no Borussia que a maioria já nem se lembrará, Aubameyang em vez de passar o período de paragem de Inverno a treinar-se com o resto da equipa, foi brincar na selecção, é natural que hajam consequências desagradáveis.

  3. Muito bom post!
    Estive a primeira parte toda a rezar para que ele retirasse ora o Rafa ou o Carrillo, felizmente para o Benfica aconteceu (tarde!) ao intervalo. Precisamente o que falas, bastava mudar de flanco e o meio estava aberto, e o treinador fala de disponibilidade e sacrificio defensivo mas nao vi isso. Nos dias de hoje um jogador que nao se disponibiliza tacticamente ou fisicamente pela equipa nao funciona para mim. Esta critica vai muito para Rafa e Salvio. Estavamos a perder completamente o meio, com as mudancas posicionais dos jogadores do Dortmund, depois a linha defensiva puxa para tras porque tem receio da velocidade dos avancados e perdemos abrindo espacos que nem o Fejsa pode percorrer. Pizzi e muito bom com a bola e esta melhorando no posicionamento defensivo mas estamos muito dependentes da velocidade e inteligencia de Fejsa. Gostei imenso da forma como o Dortmund se movimentou. Adoraria um post um pouco mais em detalhe dessas movimentacoes.

  4. O Benfica melhorou bastante na 2a parte. A entrada do Filipe Augusto deu origem a um 4 1 4 1 defensivo. Apartir daí a história do jogo foi significativamente diferente. Estou mesmo em crer que o penalti foi uma situação destabilizadora da equipa que desde o inicio da segunda parte estava a controlar bem o processo ofensivo do Dortmund. As bolas deixaram de entrar entre linhas e os ataques eram preferencialmente pelas laterais sem grande sucesso. Não é caso para desânimo. Mas sim para ajuste.

  5. Na minha opinião o Benfia só pode jogar de igual para igual se tentar recuperar a bola o mais à frente possível. Linhas muito juntas e recuadas contra este Borussia não me parece boa ideia. Ontem o Benfica conseguia fechar o caminho para a baliza a 2 a 3 iniciativas do Borussia e depois a bola entrava onde já a equipa não conseguia recuperar. O Borussia teve todo o tempo para decidir e não teve pressão para decidir mais rápido/mal. Acho que esse “medo” só pode ser causado se o Benfica pressionar à frente.

  6. O rafa podia ter feito esse equilíbrio, mas tb acho que lhe foi dado a ideia de ficar com weigl. Era preferível que ele baixa-se para equilibrar,do que mais uma unidade no meio campo a meu ver, até porque o Benfica não joga muito dessa forma. Mas foi uma alternativa que ajudou.

  7. O Guedes dava jeito para contrariar aquela saída a 3…quanto ao resto, após o jogo de ontem continuo na dúvida se a melhor solução é apostar no bloco baixo fechando ao máximo o corredor central ou subir as linhas e ficar exposto às gazelas do Borussia (que ontem estiveram em noite não, mas são sempre um perigo). Todos sabemos que o Vitória n é um génio táctico, mas lá vai somando conquistas aqui e ali na Champions. P.S.Espero que volte a convocar a vaca lampiónica para a 2.ª mão =))

  8. Boas,

    Sendo eu admirador das caracteristicas do Pizzi, tenho vindo a ficar desiludido com o desempenho dele em jogos contra equipas de maior qualidade. Se contra a maior parte das equipas da Liga Portuguesa me parece um jogador acima da média que está sempre 2 passos à frente do adversário, contra equipas de valor igual ou superior ao Benfica parece-me um jogador abaixo do banal. Neste jogo, pareceu-me que grande parte dos lances de perigo do Dortmund surgiram de perdas de bola dele, sem falar que pareceu durante o jogo todo andar a fugir da bola.

    Cumprimentos

    • os elogios ao pizzi foram sp contextualizados dentro da realidade portuguesa.. e ao contrário do Nelson ou Ederson, nc foi sequer sugerido q está na hora de ir para outros campeonatos, por alguma razão…

      • Caro Paolo Maldini,

        Então na tua opinião é um jogador apenas à medida da realidade portuguesa?
        Se sim, o Benfica não lucraria mais com o Horta, jogador com maior margem de crescimento e possibilidade de evoluir?

        Cumprimentos

        • Mas parte da evolução não passa por se afirmar primeiro na realidade portuguesa? Ou o facto de poder vir a ter um nível Mundial justifica que se sente alguém que dá mais à equipa?

  9. Com um meio campo Pizzi/Fejsa é impossível ao SLB parar um Dortmund.
    Na segunda parte é torcer para um dia de defesa atinada e que Ziv e Jonas estejam inspirados.
    De resto, perder com o Dortmund é perfeitamente normal.

    Foi amasso. Mas prefiro amassos destes do que aqueles que levei dos Hapoels ou Leverkusens…

    • O Leverkursen desse ano era uma senhora equipa! Soluções para todos os gostos e muito agressiva com bola!

      Se o Benfica definir mal as zonas de pressão na segunda mão ao intervalo já vai atrás na eliminatória.

  10. Depois de todo o vosso palavreado, ganhou o Benfica. O futebol, tal como ele é, um jogo e apenas um jogo, derrotou-vos. Estão despedidos.

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  1. Correcções ao intervalo. SL Benfica vivo na eliminatória. – Lateral Esquerdo

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