A sobrevalorização da estratégia

Não seria novidade a dificuldade que representaria, para o Benfica, o jogo em Dortmund. Não só pelas as particularidades do modelo alemão mas também pelas baixas que já se anteviam.

Como tínhamos falado, seria necessária uma abordagem estratégica muito forte para contrariar o jogo da equipa da casa. Ainda assim, parece-me óbvio que contrariar não chega, condicionar não chega. É preciso algo mais.

O Benfica foi, durante quase toda a primeira parte, competente do ponto de vista defensivo. A estratégia delineada foi colocada em prática em muitos momentos e isso acabou por condicionar o adversário. O problema é que o futebol é um jogo onde não existe uma linha a separar o que fazes quando defendes e o que fazes quando atacas. Por mais que falemos de momentos de jogo, a verdade é que o jogo é indivisível, fluído e contínuo. A forma como pretendes defender, terá sempre implicações na maneira como vais atacar.

Rui Vitória, respondendo ao porquê da presença dos três médios, deixando Mitroglou sozinho na frente: “…fundamental era não deixar que a zona intermédia contrária pudesse alimentar os seus atacantes em movimentos com passes de rutura nas costas da nossa defesa, aumentar os níveis de agressividade nessa zona, ter mais jogadores para puder compensar os corredores laterais…porque têm uma dinâmica de três defesas que depois projeta os dois laterais mais pelos corredores.”

Estas preocupações foram reveladas na forma como a equipa abordou a construção adversária. A forma como Salvio foi perdendo capacidade para pressionar o central do seu lado é um indicador que reflete o receio do Benfica durante todo jogo. Com os extremos a baixarem, de forma a controlar os laterais, o Benfica foi recuando, perdendo capacidade para pressionar e, sobretudo, para contra-atacar. Se a principal referência de posicionamento passa a ser o adversário, é normal que quando se recupera a bola, os posicionamentos não sejam convenientes para quem quer explorar o possível momento de desequilibro do opositor.

Para além dos problemas que foram surgindo em organização defensiva e da incapacidade em transição, o Benfica foi muito limitado na sua abordagem ofensiva. A escolha do onze influenciou, claramente, não só pelas características dos jogadores como pela sua qualidade. Os posicionamentos adotados prejudicaram a capacidade de ligar o jogo. A equipa de Rui Vitória descaracterizou-se. Não foi capaz de criar e quando o fez não esteve preparada para finalizar da melhor forma. Faltaram convicções mais fortes para que, perante um adversário com um perfil bem vincado, a equipa não comprometesse a identidade em função da estratégia.

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

18 Comentários

  1. “Faltaram convicções mais fortes para que, perante um adversário com um perfil bem vincado, a equipa não comprometesse a identidade em função da estratégia.”

    Faltaram, faltaram…O que falta é qualidade perante os jogadores do Dortmund. Se o SLB jogasse como joga contra o Arouca o cabaz era de natal.

  2. Apenas um reparo que me surge: penso que não era o Salvio que pressionava o central do seu lado, assim como não era o Cervi. Eles acompanhavam os laterais e era o André Almeida e o Pizzi quem saía aos centrais de cada lado (recuando para fechar linhas quando ele não tinha a bola), sendo que Mitroglou pressionava o central do meio e tinha atenção ao Weigl, quando este recebia para criar (embora Pizzi também fosse lá)…

    De resto, boa análise. Achas que a troca de André Almeida por Filipe Augusto logo no 11 inicial poderia ter sido benéfica nesse sentido, de acrescentar algo na construção depois da bola recuperada?

  3. Parece-me que eram os dois médios, Almeida e Pizzi, que tinham como funçao parar a progressão dos centrais equanto que os alas ficavam com os laterais. Acho que um dos problemas relacionados com a organizaçao ofensiva e o contra-ataque também foi a escolha dos jogadores e não só o seu posicionamento porque principalmente o Salvio e o Eliseu não são bons para um jogo de posse porque todas as suas acções levam a que a equipa perca a bola.
    Gostava de ter visto o André a trinco e o Samaris ao lado do Pizzi porque o grego garante uma maior qualidade com bola o que era importante ofensivamente e o André é mais posicional e não seria apanhado fora de posição tantas vezes.

  4. Fidalgo, és o maior! Temos de emigrar todos 😀

    O SLB esteve muito melhor preparado ontem que quando venceu! Sem dúvida que a falta de qualidade individual para um jogo desta natureza (velocidade a que se sucedem as situações) é demasiado notória. 5,6 jogadores que apertados a perdem sp (falei disso no post do SCP tb). O próprio Pizzi perdeu nesta eliminatória mais bolas perigosas com a equipa toda aberta e no meio campo defensivo que na época toda… a minha dúvida é sobre se mantendo tudo… com outros elementos (Rafa, Zivkovic… claro que Jonas, Grimaldo e Fejsa provavelmente n poderiam, mas já ajudariam a equilibrar um pouco…) mesmo que em posições diferentes… se não teria conseguido ser diferente com bola… É que indo buscar uma frase do Pastore numa entrevista que publicarei brevemente por aqui… o meio campo, o meio campo… e o do SLB de ontem, individualmente, mal chega para o Feirense… não sei se mesmo tipos como Rafa ou Ziv como interiores se não davam outro andamento aquilo. Mas isso pode ser um perfeito disparate! Quem os conhece no treino saberá…

    • Falta de qualidade individual?

      Quando se senta o André Horta para ter o andré almeida no meio campo 90 minutos, quando se manda o Rafa para a bancada e se mete o salvio a titular… (e nem falo do jonas) merece-se perder. O Benfica jogou à defesa contra uma equipa cujo ponto forte é o ataque. O primeiro lance do jogo é a sintese da abordagem do Benfica a este jogo: pontapé de saída – bola para trás – passe longo para a frente, salvio n recebe (natural) e a bola sai pela linha lateral. Em 3 segundos (!) a bola já estava na posse do adversário. E eles nem precisaram de nos pressionar, nós fizemos questão de lhes dar a bola.

      • Horta.. outro que poderia ter ajudado… como Ziv, Rafa… creio q foi um 11 mt de caracteristicas mais preocupadas so c momentos defensivos… o 11 q jogou tem mt pc qualidade individual p este nivel. Isso é indiscutível! Se poderia ter sido outro… ja o dei a entender q sim… mas quem treina c eles saberá estado fisico e capacidsds p perceber jogo noutras posicoes…

  5. Não concordo com várias coisas – e parei de ver o vídeo quando utilizas uma jogada má para exemplificar o que dizes. Quando poderíamos fazer o mesmo para justificar exactamente o oposto.

    Se a estratégia não pode ser tudo, e de facto é la palisse, a tua sugestão de pressão, publicada no outro dia, também não seria a indicada porque na minha opinião deixaria meio campo na profundidade – precisamente a zona e os movimentos mais confortáveis para o Dortmund.

    Também achei que até ao segundo golo o jogo foi perfeitamente dividido. O Benfica criou pouco mas ainda foi capaz de roubar duas ou três bolas altas e ter jogadas com bastante potencial e com acções interessantes.

    Sobretudo, o Dortmund quase não criou o que tem de ser um elogio ao Benfica. Sempre, tendo em conta a valia individual e colectiva dos alemães.

    Após a recuperação, a bola longa só foi usada quando não havia outras opções. Foram várias as vezes que o Benfica saiu a tocar com Cervi, Pizzi, Semedo e até Salvio.

    E tudo feito com calma, facto que enervou um bocado o Dortmund, parece-me.

    Agora, concordo com um dos pontos que levantaste sobre a ligação dos extremos sobretudo a defender. Não tinha me apercebido disso durante o jogo e não me parece bem. E são posicionamentos que dificultam a chegada à frente.

    No entanto, se às vezes acabou por ser uma linha de seis, repara que eles metiam cinco homens na mesma zona. Facilmente.

    Depois do segundo golo epá o jogo é outro. Já não tem nada a ver com os primeiros 60 mns. Aqui sim, muito espaço, muitos erros, muita correria e pouca cabeça.

    Uma festa para o Dortmund.

    O que entendo no geral sobre o texto é que o problema do Benfica – para lá das diferenças colectivas e individuais – está sobretudo no modelo de jogo. É uma coisa mais geral. Ao nível das ideias e de como se concebe o jogo de futebol. Se assim for, estou de acordo.

  6. Ou então é mesmo Rui Vitória que, enquanto estrategista, é, generalizando, fraco.
    Passo a explicar. Não é preciso ser-se treinador encartado para se perceber uma coisa: o jogo do Benfica tende a valer-se em demasia da qualidade individual dos jogadores. Contra quase 90% das equipas da nossa Liga, isso chega e costuma sobrar. Contra equipas de valia equivalente, Rui Vitória faz exatamente aquilo que fez contra o Dortmund e fez contra o Napoli e contra o Bayern e contra o Atleti, ad infinitum.
    Ontem, num raro momento de lucidez, Carlos Daniel acabou, de forma indireta, por expor isso mesmo, ao “acusar” o Benfica de jogar como equipa pequena. Inclusive, pegou numa frase do Pizzi: “A nossa estratégia era aguentar e, depois, partir para o contra-ataque.” A isto, CD respondeu, e bem: “O treinador do Tondela, a jogar na Luz, não o diria melhor. O treinador do Nacional da Madeira, a jogar no Dragão ou em Alvalade, não o diria melhor.”
    É verdade que tem havido ocasiões em que isto tem resultado: a época passada (muito miraculosamente!) em Alvalade, esta época contra o Sporting na Luz, esta época no Dragão, a época passada em Madrid, esta época (outra muito miraculosamente!) em Lisboa contra o Dortmund. Mas não resultou em ambos os jogos contra o FC Porto na época passada, não resultou em Lisboa contra o Atleti, não resultou contra o Bayern em ambos os jogos, não resultou com o Napoli em ambos os jogos, nem mesmo contra o Besiktas nos minutos finais dos dois jogos.
    Termino com outra citação de CD: “Quem joga como uma equipa pequena está sempre mais perto de perder.”

      • Se contarmos o rácio resultou/não resultou, ficamos em 5/9. E mesmo que acrescentasse o Braga-Benfica da época passada (aka O Jogo Que Salvou A Pele A Rui Vitória), continuaria a ser um saldo negativo.

    • concordo plenamente. o benfica com vitória joga á defesa em todos os jogos grandes, e mesmo em portugal é isso que acontece. Como o Carlos Daniel disse, o Borussia não é nenhuma equipa de outro mundo, não é O real, o barça,ou o Bayern.
      O benfica está bastante dependente do jonas na construção do jogo ofensivo e de Fejsa pra fechar caminhos da baliza. são os jogadores mais preponderantes do Benfica. Pizzi pouco acrescenta na construção e vai camuflando isso com os golos que marca. Samaris não é jogador pra ser titular do Benfica. é preciso reforçar a posição 8 com um jogador de créditos firmados. Um box-to-box capaz de pressionar alto e de construir a partir de trás e mesmo fazer a condução de bola, assim como Enzo e o Renato faziam. está mais que visto que o Benfica não tem equipa para jogar em 4-4-2 em jogos complicados. sempre que sofre uma pressão alta, o seu jogo é altamente afetado e só com rasgos individuais consegue chegar ao golo. a sorte não perdura para sempre, é preciso jogar mais, muito mais. caso contrário estão a jeito de sentir um dissabor no final da época

    • Ricardo, o seu comentário tem pelo menos erro factual. Em casa, no ano passado contra o fcp perdemos com muito, muito azar pois tivemos muito mais em cima deles que o inverso. Acho que o crescimento do benfica este ano ficou muito condicionado pela longa lesão do grimaldo que tira diversidade ao jogo do benfica, à longa ausência do Jonas e agora intermitente (acho que o RV teve falta de confiança ontem em colocar a jogar de inicio), à lesão agora do fejsa e ao azar do filipe augusto que eu penso que foi contratado para exatamente fazer um upgrade do mc do benfica para este jogos e também se lesionou.

  7. Confesso a minha admiração por este blog, não me considero capaz de analisar o jogo como vocês o fazem..mas ainda assim…e mesmo tendo em atenão as baixas, se o objectivo era povoar o meio campo não seria preferivel apostar num andré horta que seria capaz de dar outra capacidade na saída de bola ?

    Já agora e lendo os comentários, não o faz contra equipas de maior valia apenas rui vitória, também faz com equipas de menor valia principalmente fora de casa, como em braga, em chaves ou noutros lados esta temporada ainda que os resultados tenham disfarçado essas debilidades..

    abraço e bom trabalho

  8. o dortmund sem kagawa reus gotze guerreiro schurrle e com jogadores interessantes mas nada de especial (durm schmelzer bartra sokratis entre outros) é assim tao melhor individualmente que o slb?

    das duas uma. ou os jogadores maravilha do slb nao sao o que se pinta e afinal nao vao todos para os bayerns e uniteds e aí sim o dortmund é muito melhor, ou entao sao uma maravilha e os 4-0 traduzem a diferenca de qualidade dos treinadores.

    confesso que em termos de 11s iniciais e de 18 disponiveis para jogar nao vi uma diferenca assim tao grNde entre as equipas, exceptuAndo no medio defensivo/pivot, em que o weigl é de outro mundo e o samaris nao cabe nem num guimaraes

  9. Boa articulação e sincronização durante os momentos de organização defensiva. Tentativa de transição “mais apoiada” mas demasiado errante.
    Não dá para alargar muito para não descoser. Jogos pequenos “não contam”. Em jogos grandes (tirando o da Luz contra o FCP da roleta Peseiro), é sempre encolhido para esticar. Demasiados jogos onde até correu bem. Mas tem que começar a ganhar. Caso contrário, quando tem que assumir, abrir defender em campo mais largo com menos, não sabe.

  10. Muitas pérolas por aqui…

    “Não jogar o x, o y, o z”, porque estamos lá todos os dias a ver o treino

    “O Dortmund não é um Real”… hahahaha o Real Madrid que colectivamente é 0 e levou banhos de Nápoles (infinitamente melhor equipa) e até mesmo do SCP que com jogadores muitíssimo inferiores vulgarizou o campeão europeu no Bernabéu

    Mas o melhor mesmo é valorizar o que diz Carlos Daniel! Sim, Carlos Daniel!!!

    Obrigado Senhor pelos opinadores do pós-jogo…

  11. Quem teve razão foi Pizzi, nas declarações que fez, rapidamente boicotadas. O nosso jogo passava por manter a bola longe da área e povoar o meio-campo, e tentar numa jogada fazer um golo. Estratégia que resultou o ano passado com Porto e Sporting, mas que não chega para o Dortmund. Em breve vamos ver novo jogo com o mesmo modelo táctico, quando receber o Porto. É esperar para ver

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