O jogo não pára quando a bola descansa no pé de um génio

Há não muito num texto sobre a formação escrevia aqui

Futebol de petizes, traquinas e benjamins, cada vez mais parecido com um espetáculo circence, que visa alimentar o ego do pais, e por vezes dos próprios treinadores. Miúdos na arena a tomar decisões que vêm da bancada. Em busca de um possível sucesso imediato, guiados por quem não entende sequer o que é uma boa decisão. Por isso, tantos crescem a “saber” que na linha de fundo se cruza, que a bola não se guarda por demasiado tempo e que se houver oportunidade para rematar, não há outra decisão possível. Formatar miúdos desde sempre. E ainda pior, formatá-los com ideias erradas. Formatá-los para que nunca percebam o jogo. Para que nunca entendam contexto e coloquem as suas decisões em função deste.

Sobre a percepção geral sobre o jogo, o destaque de mais um texto genial do não menos genial Saber Sobre o Saber Treinar aqui.

…tudo isto perante a impaciência da bancada que lhe pedia para acelerar em condução, na sempre presente vertigem pela velocidade descontextualizada

Ser melhor é não ter amarras na decisão. Não ter constrangimentos de fora. Mesmo que o público se perda de amores por quem entrega sempre de primeira. Ou por quem acelera em todos os momentos. Decidir bem é analisar contexto. Porque por vezes guardar a bola, mesmo que pareça que por demasiado tempo permite que as coisas aconteçam. O jogo não pára nem acaba quando a bola descansa no pé de um génio.

Consegue imaginar tal situação em qualquer bancada portuguesa? Equipa a perder e portador parado com bola no pé a olhar em frente. Do profissional ao amador, do futebol sénior ao de crianças?

Tantas são as vezes em que o talento tem de ser surdo e perseverante.

 

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

8 Comentários

  1. Incrível como o Pastore leu/preveu a jogada. Pareceu jogada de vídeo-game.
    Um outro lance que me veio a mente em que o jogador teve a paciência de achar o momento certo, foi o Neymar exatamente contra o PSG no jogo do 6 x 1. Acredito que pouquíssimos jogadores daria o corte no defensor no último lance do jogo e então cruzar para área, dar a assistência ao Sergi Roberto. A probabilidade de um jogador tentar cruzar no desespero era imensa e o erro era praticamente certo.

    • Ora bem! Ainda no sábado fez imensa falta mas os brutamontes entraram todos, seja de início ou durante o jogo. O ilustre Vitória que não abra a pestana que vai ver o que lhe acontece. Esta coisa de ser amigo de todos depois também pode dar em parvoíce. O homem com estas escolhas está a deixar um veneno em relação ao Salvio que ainda se vai virar contra ele.

  2. Caro Paolo Maldini

    Diakhaby teve tempo mais do que suficiente para se posicionar correctamente e induzir Pastore a ter que ir pela lateral e não pelo meio.

    É esta a formatação que deve ser ensinada nestes casos, proteger o meio, proteger a baliza e tentar que o adversário não progrida pelo meio, não remate à baliza, não cruze nem varie o flanco.

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