Futebol português em equação simples

Imaginem que o futebol português se baseava nesta fórmula de equação bastante simples.

Uma cidade com investidores locais focados em fazer do clube da terra um projecto afirmativo no panorama nacional. Essa capacidade de investimento torna-se atractiva para capitais estrangeiros que complementam a aposta inicial. Com bom investimento evoluem também as estruturas associadas ao futebol profissional no clube. Criam-se projectos a médio prazo para a formação, criam-se equipas b ou projectos satélite, chamam-se para o clube pessoas competentes para as várias funções necessárias.

Esta fórmula, trabalhada ano após ano, conduz ao sucesso e sobrevive, quer a episódicas más escolhas de treinadores, quer a saídas de jogadores para clubes com maior capacidade financeira.

O sucesso traz mais gente para acompanhar os jogos, em casa ou fora, deste conjunto. Este tipo de apoio leva a equipa a ficar mais perto da superação. A superação acontece e a equipa fica mais perto de atingir objectivos bem altos na temporada.

Se vos parece impossível, recuem até à noite de ontem para ver o Desportivo de Chaves – Vitória de Guimarães. Um estádio cheio. Duas equipas afirmativamente em busca de um sonho. Qualidades individuais e colectivas associadas a um jogo de tensão elevadíssima. O drama da indecisão até ao minuto final.

Imaginem que o futebol português se baseava nesta fórmula. Que no final do jogo, o treinador vencedor, Pedro Martins, dissesse que “é difícil explicar o jogo, foi vivido tão intensamente que é difícil”. Ou o treinador derrotado, Ricardo Soares, a pedir desculpa, publicamente, à equipa de arbitragem porque, nas suas palavras, “não posso protestar dessa maneira, é um bom árbitro”.

Imaginem, foi ontem à noite.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

8 Comentários

  1. Esses projectos são difíceis de executar num país que neste momento não tem cultura desportiva. Costumo dizer que gosto de futebol porque em criança ao domingo à tarde ia ao 1º de Maio ver o Braga e a noite via o “Domingo Desportivo” em que via golos de qualquer que fosse a equipa Chegava à segunda e tinha vontade de jogar. Hoje em dia, confesso que não vou tantas vezes como gostaria à pedreira, mas pior que isso o futebol é feito para 3 grandes e os restantes são meramente figurantes. Em vez de golos, temos uns palermas profissionais a discutir de tudo menos futebol na TV. O resultado, estádios vazios e cafés cheios de aspirantes a dirigentes de um grande.

  2. Que sonho o jogo de ontem. Totalmente merecedor do nível de uma meia-final (e até de algumas finais) da Taça de Portugal. Infelizmente são ilhas.

    Pode ser que sirvam de exemplo. E que grande temporada está a fazer o Chaves. Acham que há capacidade para manter o nível para o ano?

    • Acho que a principal lição é aos de outras equipas “pequenas”. O problema em Portugal não é os grandes portarem-se como grandes, é os pequenos portarem-se como delegações dos grandes.

      Peguemos num equivalente ao Sheffield Wednesday, onde está agora o Carvalhal. Tem o Santa Clara (actual sexto classificado da segunda liga) uma dimensão de adeptos na bancada proporcionalmente equivalente? E até estamos a falar de um clube que tinha todo o potencial de ser “bandeira regional”.

  3. “Imaginem que o futebol português se baseava nesta fórmula de equação bastante simples.

    Uma cidade com investidores locais focados em fazer do clube da terra um projecto afirmativo no panorama nacional. Essa capacidade de investimento torna-se atractiva para capitais estrangeiros que complementam a aposta inicial. Com bom investimento evoluem também as estruturas associadas ao futebol profissional no clube.”

    Caro Luís Cristóvão

    Só mesmo imaginando, porque os eleitores escolheram dar cabo da realidade, escolheram livremente o caminho para a pobreza ao votar à esquerda em diversas eleições.

    Não há investimento nem sequer há dinheiro para a manutenção do que já existe. Estrela da Amadora e outros clubes simplesmente desapareceram.

    Se deixar de haver financiamento externo simplesmente deixará de haver alimentos.

    • Pah não sei se és um troll ou não, se és, admiro a coerência e a quantidade de comentários.

      Se não, admiro a criatividade e a capacidade de pegar em assuntos que não têm qualquer relação, como o rendimento do jogador e o facto de brincarem nas seleções e apoio/investimento aos clubes locais mais pequenos com o voto em partidos de esquerdo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*