Ideias de um jogo cada vez mais pensado. Xabi Alonso.

A fascinante entrevista de Xabi Alonso ao “The Tactical Room” a reiterar muito do que vem sendo por cá passado há imensos anos.

… vejo que eles estão a sair a três e nós vamos pressionar com dois e não com três… e saem fácil… sou muito consciente disso…

Em que se fixa primeiro (no jogo)?

Nos sistemas e em como podemos atacar desde a saída, desde a primeira fase, a segunda e a terceira, e como cortar a eles a primeira fase, segunda e terceira… Para mim são muito claras. A primeira é a de iniciação, a segunda a da elaboração e a terceira a de execução. É o que distingo quando jogo. Quanto melhor defendes, melhor atacas e quanto melhor atacas, melhor defendes. E quanto melhor roubas a bola melhor atacas porque controlas o jogo…

 

A forma de sistematizar o jogo que ajuda a minimizar o caos. A perceber o que se está a passar, para que se possam dar respostas. Entender a dinâmica adversária para preparar e adaptar as respostas em cada fase, em cada situação.

 

Se chegamos ao intervalo com o 2 a 0 provavelmente tudo mudaria, mas não foi assim e ficou a sensação de que perdemos o nosso momento. Na Champions os detalhes definem tudo (sobre o penalty falhado que poderia ter colocado o Bayern a vencer por 2 a 0 o Real em Munique)

As provas por eliminatórias, que se definem nem sempre por quem é o melhor, mas por factores pouco controláveis. Mais aleatórios. Detalhes que jamais poderão determinar mais ou menos competência. Muito diferente de uma prova de regularidade, onde os melhores vencerão praticamente sempre.

 

Para chegar a essa situação (ter de fazer um “carrinho”) teve de acontecer algo antes… Algum erro teve de acontecer para te obrigar a recorrer ao “carrinho”. Se antes estivesses melhor posicionado, ou se tivesses usado o corpo de melhor maneira terias antecipado e não tinhas de ir ao chão. Por isso para mim não é tão importante…

Carrinhos e outros “cortes” tão mensuráveis pela estatística que nunca perceberá o que realmente importa. O posicionamento. A forma como jogadores se movem e tomam decisões. Se há uma intervenção muito grande do ponto de vista defensivo, provavelmente é porque algo de errado estará por trás.

“Poderão os números explicar o jogo? Poderão os números avaliar a exibição individual de um qualquer jogador?

Nem por sombras. Nos dias de hoje em que as equipas são autênticos colectivos que se devem mover em conjunto e que o jogo não é mais o somar de características e funções diferentes de cada jogador, numa era em que todos devem participar em todos os momentos, há duas variáveis que definem todo um rendimento.

Posicionamento e Tomada de decisão / acção.

Como se avalia estatisticamente um mau posicionamento?

Lisandro, é tido como o melhor central do Benfica. Porque somará muitos desarmes e vencerá muitos duelos, entre outras variáveis. Mas como se avaliará estatisticamente o seu posicionamento? Recorde o golo do empate do Moreirense na Taça da Liga, e a distância a que estava de Jardel, e a altura a que estava de Ederson com bola tão próxima? Não poderá o mau posicionamento ser a causa de posteriormente se ter de intervir mais? Mau controlo da profundidade, bola nas costas e lá vai em sprint resolver o lance e ganhar pontos na avaliação individual. Bom posicionamento da profundidade e o passe não sai, nem intervém. Jogo menos conseguido.”

Aqui.

 

Para mim o Busquets e o Lahm (os melhores tacticamente). Há os que agarram na bola e vão definindo consoante o que surge, eles não. Pegam na bola e dizem “vou fazer isto para acontecer aquilo”. Isso é inteligência e conhecimento do jogo!

Para mim o futebol é isso. Saberes o que fazer em cada momento. Se tens qualidades físicas e técnicas para executar mais riqueza terás, mas o grande jogador é o que sendo bom no 1 contra 1, também é o que conduz para dar vantagem e superioridade ao colega.

O futebol evoluiu. Uma riqueza táctica que faz pensar um pouco no xadrez. “Tu fazes este movimento, eu faço o outro. Tu mudas aqui e eu mudo ali”. Para quem gosta de táctica é apaixonante…

O processo do treinador está no que vão gerando e treinando durante a semana. Estou a compreender tudo muito melhor com o passar dos anos…

As decisões. Recordar o texto “Entender um génio. Bernardo Silva” Aqui. Fazer isto, para acontecer aquilo. Dar vantagem e superioridade ao colega.

 

Marca-me muito a companhia. Os que vão jogar à minha frente. Que recebam bem para que possa colocar o passe tenso para entre médios e defesas adversários, e assim os meus passes serem mais efectivos.

Ainda muito recentemente aqui:

“William a crescer com a presença de mais jogadores com capacidade para se mostrarem nos melhores espaços. Mais soluções e demonstra toda a sua categoria com bola, ligando a construção com as zonas de criação, como nenhum outro médio defensivo faz em Portugal.”

Num jogo que cada vez mais requer pequenas sociedades de jogadores como forma para desequilibrar estruturas adversárias, o crescimento e qualidade de uns, será sempre o crescimento e valorização de outros. Porque o jogo é colectivo, o sucesso depende também cada vez mais da qualidade dos colegas. Da realidade em que se está inserido. A um nível elevadíssimo, por vezes basta um / dois elementos com qualidade muito abaixo dos restantes para prejudicar todo um jogar.

 

P.S. – Na drive e na plataforma do Patreon poderão encontrar a entrevista completa (e não só a entrevista) no upload que foi feito hoje!

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Grande grande post.

    Uma parte que retive, porque ontem mantive a minha enésima discussão sobre o triunvirato William/Danilo/Fejsa.

    Começaram logo a atirar-me estatísticas para a cara (duelos ganhos, recuperações, tackles com sucesso, etc…), todo um manancial de OPTA que só irrita e que não espelha o verdadeiro papel de um jogador de futebol dentro de campo.

    Talvez por ser do Sporting, talvez pelo William ser o meu jogador preferido do plantel, sei lá, não interessa, não consigo colocar os outros dois próximos do nível dele.

    A maneira como se posiciona (evitando os tais carrinhos que o Xabi fala), como se relaciona com o talento, como serve de plataforma giratória para toda a equipa, acho-o claramente superior aos outros dois, e o único que poderia jogar numa equipa treinada pelo Xabi, por exemplo.

    Grande Xabi, este gajo vai dar treinador.

    Um abraço,

  2. Artigo muito interesante ( aquele video do Bernardo é tao bom!) mesmo se vou ser outra vez chato e nao gostar de certas afirmaçoes ou montagem das frases do Xabi.

    Essa do xadrez,jà, porque a diferença é que no xadrez ou nessa sistemazaçao do jogo é como se fosse as peças do xadrez iguais entre os dois adversarios e nao é o caso. Os jogadores de cada uma das equipas tem diferenças. Ainda por cima, o meu sistema nao serà igual se quero guardar jogadores que desequilibram mais que os outros. E assim que Luis Enrique ao inves do Guardiola queria que o Messi( que defende pouco para preserva lo) fizesse diferenças vindo da esquerda e para nao desequilibrar o sitema defensivo, que ele nao pode defender na esquerda, o Luis enrique começou a defender em 4/4/2. Faço isso porque o Messi desequilibra o sistema defensivo mas ele é daqueles como diz Xabi que agarra na bola e està sempre inventando novos caminhos e espaços…
    Foi igual com o Kroos que defende na esquerda e vou preferir um Casemiro que tem menos bola em vez de um William porque prefiro dar espaço ao meu melhor jogador e defender as suas costas.
    Como os jogadores sao diferentes, hà uns mais rapidos que tem capacidade de corrigir posiçoes, e porque eles nao tem direito se les compensam graças as suas forças? ( Um Renato Sanches tem capacidade de voltar à posiçao inicial muito mais rapido que o William) Como hà defesas muito rapidos e que vao compensar uma mà posiçao na profundidade ( Sergio Ramos)com uma forte capacidade de desarme.

    Por isso tudo, os meus jogadores vao ser sempre a primeira razao para compor o meu sistema mais que aqueles que respeitem um sistema ideal de jogo tal um xadrez e uma sistematizaçao total do jogo.

    E para acabar, o campeonato nao define a melhor equipa. Se a equipa A é melhor na organisaçao ofensiva e a equipa B na transiçao ofensiva e sabe conter a tal organisaçao ofensiva e que ganhe sempre os jogos com a A mas como o campeonato é fraco, a A ganha mais jogos…Em que desporto, aquele que é melhor, é aquele que ganhe so com os pequenos e nunca com os grandes? A liga dos campeoes com ida e volta é perfeito e temos 180 minutos para que o melhor surje…Eu entendo que os semi finalistas nao apetece aos seguidores do blog mas tem que se entender que hà varios sistemas de jogo, uns rigidos e outros com mais agilidade para dar primazia aos jogadores.

  3. O Xabi e o Busquets têem a ciencia da construçao do jogo com timing do passe justo seja curto ou longo com uma ideia do ritmo e de lançar jogadas trabalhadas. O Lahm, o Thiago e o Modric sao inteligentes porque com a sua tecnica sao dos melhores a fixar com a bola e passar ao homem livre. No jogo sistematizado, eles sao dos melhores executantes. E temos o Kroos que tal um Zidane cria consoante como està o jogo e sem sistematimos. Ele vai ter momentos de construçao, de fixaçao, de desequilibrios mas o génio é que nada està premeditado e é muito dificil de ler. Os jogadores na sua frente têem obrigaçao de ligar os ataques mas estao sempre a mudar de posiçoes e o Kroos sabe sempre como lidar com o jogo movente( o marcelo, o casemiro e os centrais servem de ponto de apoio proximo). Aqui està a diferença do sucesso do Real que nao teve preciso de detalhes como dito no artigo para ganhar( essa da primeira parte nao foi tanto conseguido como o Xabi pense e se nao fosse canto e penalti inventado foi vazio em desequilibrios). Quem tem sistemas na organizaçao ofensiva pode ser lido muito facilmente , quem tem liberdade no jogo é imprevisivél. Acho que o Zidane teve essa ideia do jogador maestro no mundial 2006 em que numa equipa sem o minimo de inteligencia colectiva, ele ligou os jogadores em torno dele e jogou uma partitura perfeita sobretudo contra o Brasil. Sao poucos a poder fazer isso porque é preciso ser completo( fintar, passes curtos e longos no bon timing, uma proteçao de bola fantastica, uma visao extraordinaria, uma intuiçao que é quase inata…) porque adaptar se ao que se move sempre, é sempre muito dificil.
    Sempre o jogador mais importante que o sistema…
    Falando de jogadores, a descoberta ou confirmaçao de uma joia durante a ediçao da liga dos campeoes: o Dybala

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