O “efeito borboleta” no “xadrez” dos Arcos

“…acima de tudo porque entendemos que eram jogadores que tinham essas características que pretendíamos para o jogo de hoje. Ter mais profundidade, apanhar, em alguns momentos, a equipa subida do Rio Ave e explorar também as costas.” Rui Vitória, sobre a utilização de Rafa e Jiménez

Frente a um Rio Ave que se antevia altamente capaz no processo ofensivo, o Benfica adotou um conjunto de comportamentos que limitaram imenso o jogo do seu adversário.

A forma como o Benfica pressionou a construção do Rio Ave foi bastante importante para não deixar a equipa de Luís Castro confortável. No entanto, foram as dinâmicas ofensivas que mais condicionaram a equipa da casa. O Benfica apresentou uma construção reforçada, com Pizzi e Fejsa a baixarem, ainda mais do que o habitual. Mesmo sem um futebol apaixonante, a equipa revelou ideias para bloquear o adversário ao mesmo tempo que tentava chegar a zonas de finalização.

O Rio Ave apresentou-se no seu habitual 4-1-4-1. Posicionados num bloco médio alto, deixaram espaços nas costas que o Benfica tentou conquistar. Essa situação era conhecia das duas equipas e até foi abordada em conferência de imprensa. A colocação dos extremos em zonas centrais, nas costas dos interiores do Rio Ave (Krovinovic e Tarantini), foi determinante para desencadear um conjunto de comportamentos que retiraram à equipa de Luís Castro capacidade para criar.

Para aproveitar com qualidade o posicionamento alto da linha defensiva do Rio Ave, o Benfica colocou Cervi e Rafa por dentro, libertando os laterais para movimentos que tentavam explorar esse adiantamento. A colocação dos extremos foi chave. A presença de Rafa e Cervi no corredor central fez com que os interiores do Rio Ave se preocupassem em demasia com o fecho dessas linhas de passe. A forma como o fizeram, optando por baixar em vez de pressionar os médios do Benfica, fez com que fossem recuando ao mesmo tempo que o portador ia avançado sem pressão. O Benfica atacou a profundidade de forma constante e através de vários protagonistas: Jiménez, Cervi, Rafa, Grimaldo e Nelson Semedo. Estas ações provocaram um baixar da linha defensiva do Rio Ave porque o portador da bola nunca estava pressionado. Mesmo ignorando a capacidade de Lindelof para conduzir, os visitantes foram ganhando metros.

A derivação dos extremos para dentro também provocou arrastamentos de Rafa Soares e Lionn, que permitiram a entrada em diagonal dos laterais benfiquistas. Este comportamento foi claramente intencional.

Sem capacidade para pressionar, o Rio Ave acabava por recuperar a bola em zonas baixas e o espaço que encontrava para transitar promovia um jogo menos elaborado. Sem bola para atacar como gosta e com Gil Dias e Héldon muito baixos (acompanhavam Grimaldo e Nélson Semedo) a equipa ficava refém dos momentos em que o Benfica aliviava a pressão.

O Rio Ave nunca ganhou capacidade para pressionar a construção do Benfica e, isso, retirou-lhe tempo e espaço para criar em zonas onde é mais forte. Com o posicionamento dos extremos e os ataques à profundidade constantes, o Benfica foi fazendo o Rio Ave recuar. Para quem quer ser protagonista, baixar em demasia raramente facilita.

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

8 Comentários

  1. O Benfica fez uma boa partida, sem ser fantástico, mas com boas ideias contra uma equipa que também tem qualidade individual (ainda que longe do que o Benfica tem disponível) e colectiva. Boa propaganda para quem aprecia o jogo.

  2. Eu vejo pessoal a falar por aí que o Benfica mais uma vez jogou mal e que eventualmente teve sorte e afins. No entanto, a meu ver o Benfica fez um bom jogo, pressionou alto como o fez na época passada em vários jogos, deixou de fazer esta época, não percebo porquê, visto que está mais que visível que a equipa é forte nesse processo.

    Quanto ao jogo, foi um bom jogo de futebol, primeira parte muito táctica de ambas as equipas. O Rio Ave não é um clube onde se possa dar ao luxo de avançar até mais não, tem que haver sempre cautela no processo ofensivo e foi o que se viu da parte do Benfica. O Pizzi fez um jogaço a meu ver, falha alguns passes, mas a próprio posição onde joga faz-lo arriscar isso mesmo. O Benfica podia ter chegado ao golo muito mais cedo, mas o Grimaldo, por mais raro que pareça falhou uma recepção onde ia isolado para a baliza. A opção por Rafa a meu ver foi bem concebida, apesar de ser melhor na esquerda. Este jogo tinha tudo para ser de Zivkovic, um jogador que vai para o interior do campo, onde tem um pé que já mostrou provas que é uma mais valia, já Rafa é muito vertical. Mas não foi mal pensado, até para explorar as costas da defesa do Rio Ave.

    O golo nasce numa jogada onde espelha bem a perfeição de um contra-ataque. Um passe a rasgar a defesa do magistral Jonas, Salvio a dar continuidade ao lance (em fracções de segundo pensei que Salvio ia tentar o golo, mas… depois vi que era o Jímenez do outro lado, eles são muito amigos, não poderia ter sido de outra forma)… bola para o Raúl e com frieza, bastante pressão pelo significado do jogo que era, encosta lá para dentro.

    Parabéns ao Rui, parabéns ao Benfica.
    E que venha o tetra, apesar de AINDA nada estar ganho.
    Rumo ao 36!

  3. Vi so um pouco o jogo mas no vosso video, e que é realçado à primeira vez, vê se onde se vai abrir o espaço graças ao entendimento e cumplicidade entre jogadores:
    1/Quando Krovinovic rodopeia à segunda e desquilibra uma primeira vez e pede apoio, o Tarantini poe-lhe a bola no espaço mas a jogada acaba porque o Rafa Soares parou antes e nao soube adivinhar o espaço que ia abrir.
    2/Na ultima jogada do video, outra vez o krovinovic a ver antes de receber a bola o espaço à frente dele e a pedir ao tarantini de adiantar se e ele dà de primeira.

    Os movimentos dos jogadores em redor do criativo sao fondamentais.
    No vosso artigo, o Xabi dizia que o passe pode ser tenso se ele sabe que o colega a recebe bem de primeira e essa velocidade do passe a permitir avançar mais rapido a jogada.
    Eu diria tambem que a criatividade de um jogador aumenta se os colegas entendem ao mesmo tempo que ele as possibilidades numa fase de jogo.
    Como vocês dizem, mais tecnica e cerebro ao mesmo tempo aumentam a criatividade de cada um.

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