Histórias da bola. Lições de liderança.

Eu tinha sido suplente, e como a equipa não tinha respondido, tinha alguma esperança de alcançar a titularidade. O discurso do treinador foi apocalíptico para toda a equipa, e muito especificamente para o jogador que ocupava a minha posição, a quem ele acusou de não ter atitude, de ser pouco aplicado com as instruções que tinha recebido e de ter realizado uma exibição lamentável. Nessa altura, já me imaginava com a camisola de titular no jogo seguinte, mas o treinador encerrou o discurso de uma forma desconcertante. “O que se passa é que sabes que és a minha debilidade, e que jogues bem ou mal, no jogo seguinte vais ser sempre titular!”. Como é fácil de perceber, deixei cair de imediato a camisola de titular que já imaginava. A minha sensação foi de que estaria de fora para sempre. Uma declaração de incondicionalidade é sempre uma má ideia. Se de facto se tratava de uma debilidade e pretendia declará-la para fortalecer a confiança no seu melhor avançado, deveria fazê-la em privado. Porque a partir do momento em que a fez de forma pública, os que lutávamos pela mesma posição perdemos toda a esperança de tornar útil o nosso esforço. Não me considero uma pessoa rancorosa, mas já lá vão várias décadas desde esse episódio, e como podem comprovar, não o esqueci. A razão é simples, temos muito boa memória para os actos de injustiça…

Jorge Valdano

 

Sobre Rodrigo Castro 219 artigos
Rodrigo Castro, um dos fundadores do Lateral Esquerdo. Licenciado em Ed física e desporto, com especialização em treino de desportos colectivos, pôs graduação em reabilitação cardíaca e em marketing do desporto, em Portugal com percurso ligado ao ensino básico e secundario, treino de futsal, futebol e basquetebol, experiência como director técnico de uma Academia. Desde 2013 em Londres onde desempenhou as funções de personal trainer ligado à reabilitação e rendimento de atletas. Treinador UEFA A.

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