Entender é diferente de decorar. Lições de campeões europeus.

Com a moda dos modelos que têm sempre os laterais projectados ofensivamente e o um médio que baixa para proporcionar uma construção a três, surgiram muitas opiniões de que esta é a melhor forma para em organização ofensiva se poder ter mais possibilidades de chegar com bola aos espaços mais adiantados. Muito comummente há quem dispare opiniões sobre a qualidade de um modelo ou de um treinador porque este tem os laterais mais baixos ou mais subidos, entre outras opções relativamente aos posicionamentos.

Na verdade, tais pensamentos ou considerações só revelam um desconhecimento sobre o que é o jogo. Não há receitas infalíveis porque no jogo tudo depende do contexto.

Se é o posicionamento alto do meu  lateral que vai levar o extremo adversário para trás, entrando na situação defensiva, então não será melhor ter o lateral baixo para trazer o extremo e ganhar mais espaço no meio campo ofensivo?

Este é um jogo em que tudo o que fazes provoca reacção no adversário. E também da forma como ele reage importa as decisões que se tomam. Não há pois uma receita certa. Não há pois um modelo perfeito se nos seus posicionamentos não é maleável. Porque o que é bom perante um opositor poderá não ser perante o outro. Por isso é este um jogo de inteligência. De engano. Um jogo onde jogas contra o outro e com o outro, sempre na tentativa de o enganar.

Nós não trocamos a bola só para a mover. Isso acontece porque queremos mover os adversários.

O exemplo da selecção sub 17 da Espanha. Quantos não dirão que o posicionamento demasiado baixo dos defesas laterais e do duplo pivot da equipa “roja” é errado em organização ofensiva? Contudo, perceber o jogo é outra coisa. É perceber o que isso provoca. E é precisamente pelas opções na forma como defende a selecção inglesa, querendo ser proactiva na recuperação, que o posicionamento na construção dos jogadores espanhois é o ideal para o contexto! Se eles querem vir morder, então há que estar baixo… chamá-los a morder para aumentar o espaço nas suas costas e esperar pelo momento de lá colocar a bola.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. “Nós não trocamos a bola só para a mover. Isso acontece porque queremos mover os adversários.”

    Caro Paolo Maldini

    Colocar um jogador entre os centrais dificultando assim a variação de flanco, permite que os jogadores dos sectores recuados não tenham que se mover tanto. Os ingleses também entenderam isso sendo que lhes falta aproximar linhas, porque o espaço entre linhas é enorme.

    Off-topic

    https://blogvisaodemercado.pt/2017/05/napoles-nao-permite-milik-zielinski-participem-no-europeu-sub-21-inter-ofereceu-6-me-ex-vit-guimaraes/

    Estes também estão a evoluir ao nível directivo.

  2. “Na verdade, tais pensamentos ou considerações só revelam um desconhecimento sobre o que é o jogo. Não há receitas infalíveis porque no jogo tudo depende do contexto.”
    Esta frase resume o quanto este projecto tem vindo a evoluir e o estado de elevada maturação em que se encontra. São tantas pérolas de conhecimento em tão pouco tempo que sinceramente acho que não há capacidade para fazer a digestão merecida. Há muito que são um espaço que promove o entendimento, só atingível por quem (se) questiona, em detrimento de uma perspectiva fundamentalista (que mesmo assim muito me ensinou). Ironicamente e sem que eu perceba porquê a participação na caixa de comentários foi a única coisa que decresceu…
    Os míseros euros que gasto no patreon não pagam tanta qualidade e espero sinceramente que continuem a aumentar subscritores.
    Um abraço. Nunca parem.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*