Com a moda dos modelos que têm sempre os laterais projectados ofensivamente e o um médio que baixa para proporcionar uma construção a três, surgiram muitas opiniões de que esta é a melhor forma para em organização ofensiva se poder ter mais possibilidades de chegar com bola aos espaços mais adiantados. Muito comummente há quem dispare opiniões sobre a qualidade de um modelo ou de um treinador porque este tem os laterais mais baixos ou mais subidos, entre outras opções relativamente aos posicionamentos.
Na verdade, tais pensamentos ou considerações só revelam um desconhecimento sobre o que é o jogo. Não há receitas infalíveis porque no jogo tudo depende do contexto.
Se é o posicionamento alto do meu lateral que vai levar o extremo adversário para trás, entrando na situação defensiva, então não será melhor ter o lateral baixo para trazer o extremo e ganhar mais espaço no meio campo ofensivo?
Este é um jogo em que tudo o que fazes provoca reacção no adversário. E também da forma como ele reage importa as decisões que se tomam. Não há pois uma receita certa. Não há pois um modelo perfeito se nos seus posicionamentos não é maleável. Porque o que é bom perante um opositor poderá não ser perante o outro. Por isso é este um jogo de inteligência. De engano. Um jogo onde jogas contra o outro e com o outro, sempre na tentativa de o enganar.
Nós não trocamos a bola só para a mover. Isso acontece porque queremos mover os adversários.
O exemplo da selecção sub 17 da Espanha. Quantos não dirão que o posicionamento demasiado baixo dos defesas laterais e do duplo pivot da equipa “roja” é errado em organização ofensiva? Contudo, perceber o jogo é outra coisa. É perceber o que isso provoca. E é precisamente pelas opções na forma como defende a selecção inglesa, querendo ser proactiva na recuperação, que o posicionamento na construção dos jogadores espanhois é o ideal para o contexto! Se eles querem vir morder, então há que estar baixo… chamá-los a morder para aumentar o espaço nas suas costas e esperar pelo momento de lá colocar a bola.
“Nós não trocamos a bola só para a mover. Isso acontece porque queremos mover os adversários.”
Caro Paolo Maldini
Colocar um jogador entre os centrais dificultando assim a variação de flanco, permite que os jogadores dos sectores recuados não tenham que se mover tanto. Os ingleses também entenderam isso sendo que lhes falta aproximar linhas, porque o espaço entre linhas é enorme.
Off-topic
https://blogvisaodemercado.pt/2017/05/napoles-nao-permite-milik-zielinski-participem-no-europeu-sub-21-inter-ofereceu-6-me-ex-vit-guimaraes/
Estes também estão a evoluir ao nível directivo.
“Na verdade, tais pensamentos ou considerações só revelam um desconhecimento sobre o que é o jogo. Não há receitas infalíveis porque no jogo tudo depende do contexto.”
Esta frase resume o quanto este projecto tem vindo a evoluir e o estado de elevada maturação em que se encontra. São tantas pérolas de conhecimento em tão pouco tempo que sinceramente acho que não há capacidade para fazer a digestão merecida. Há muito que são um espaço que promove o entendimento, só atingível por quem (se) questiona, em detrimento de uma perspectiva fundamentalista (que mesmo assim muito me ensinou). Ironicamente e sem que eu perceba porquê a participação na caixa de comentários foi a única coisa que decresceu…
Os míseros euros que gasto no patreon não pagam tanta qualidade e espero sinceramente que continuem a aumentar subscritores.
Um abraço. Nunca parem.
Muito obrigado pelas palavras. Grande abraço