A paixão segundo Leonardo Jardim

A paixão, palavra que enche a boca nos discursos de dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos de todos os clubes, talvez seja a noção que mais contradições gera entre aqueles que vivem e trabalham no fenómeno desportivo. Porque conduz, constantemente, a enganos e confusões de interpretação.

Sem dúvida que o adepto vive apaixonado pelo seu clube, pela sua modalidade de eleição, gerindo até a sua agenda para fazer convergir sua a vida com a possibilidade de acompanhar as suas equipas. No entanto, esta paixão em nada se compara com a daquele que tem em mãos todo o processo de organização da equipa, o treinador.

Apenas vou deixar de treinar. Porque, quando somos treinadores, não temos vida. Trabalhamos 12 meses sobre 12 meses. O campeonato acabou, estou de férias, mas estou a dar esta entrevista. E para a semana vou reunir-me com os dirigentes. Depois tenho de preparar a pré-temporada. É complicado. Passo cinco horas ao telefone, estou na Internet. Quero ficar no futebol, mas com outras funções. Não sei ainda, mas talvez diretor-desportivo, ou conselheiro.

Leonardo Jardim

Não será por isso estranho que Leonardo Jardim coloque uma meta temporal na sua função. Tal como Pep Guardiola, na sua famosa conversa com o cineasta David Trueba, elogiava a capacidade de Javier Clemente ou José António Camacho prolongarem as suas carreiras no Iraque ou na China, por causa do que dizia ser o “síndrome do velho realizador”. Aquele que estará disponível para fazer o que seja de maneira a ficar na profissão.

Para técnicos como Leonardo Jardim, a paixão é um desafio vivo às suas capacidades. Não é a dedicação ao jogo que o motiva. É a sua capacidade de o transformar. Mas, consciente, do preço demasiado alto que há a pagar por se dedicar a enfrentar um monstro. Por isso combate com a sensação de que um dia o seu dever estará cumprido.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

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