O “eu” antes do “nós”. Guardiola meets Estiarte.

Barcelona coach Pep Guardiola, center, reacts after winning the final Club World Cup soccer match against Estudiantes in Abu Dhabi, United Arab Emirates, Saturday, Dec. 19, 2009. Barcelona defeated Estudiantes 2-1. (AP Photo/Bernat Armangue)

Falava recentemente no texto “Chaves do balneário. Escolhas de um treinador” (aqui) sobre o quanto cada vez mais o lado da pessoal / personalidade das pessoas que terás no processo, importa para que seja mais ou menos fácil navegar em direcção a um bom porto.

Haverá sempre quem compense uma menor ligação ao grupo e aos objectivos colectivos, com uma qualidade tal que obrigará a que se consiga enquadrar tais características ou capacidade num nós. Mesmo que naquele indivíduo o “eu” seja demasiado grande.

Sobre estes traços, Manel Estiarte, reconhece-se como o individualista que foi durante tanto tempo. Até ao momento em que o conseguiram mudar. Em que cresceu.

Ao longo dos anos com Pep, quando há um jogador mais individualista, sempre lhe digo: Pep, tranquilo, não tentes compreendê-lo. Aceita-o simplesmente. São os demónios do individualismo…

Os individualistas necessitam sentir que jogaram sempre melhor que os outros, que marcaram mais… Podes ter ganho, mas se não marcas cinco golos, não estás bem. Não é natural, não é bom para a equipa… É um demónio que tens dentro, que não se explica, que não se mostra, que só entendem aqueles que nasceram e viveram no individualismo…

Eu tive a sorte de conviver com uma geração de jogadores muito fortes de Madrid, que também me ajudaram a mudar. Porque antes deles chegarem, a bola era minha. Mas, eles também a queriam, e estavam a borrifar-se para a minha hierarquia e para se lhes pedia que me dessem a bola. Se reclamas e ele te responde que não te passou porque podia rematar, que fazes? Ficar enfadado ou aceitar. Eu aceitei. Percebi que o colectivo era mais importante que eu.

Com o passar dos anos acabei por me dar conta que sempre joguei com um respeito reverencial por parte dos meus colegas… mas não me queriam. Apoiam-te porque marcas golos, mas não te querem. Então, tu mudas e começas a defender e a jogar para a equipa em vez de jogar para ti. Baixas, reduzes o número de contra ataques em que não baixas a defender e ficas a meio caminho…e claro, marcavas golo, mas os teus defesas estão a falar mal de ti porque não ajudas… deixei de fazer essas coisas. Já não paro em terra de ninguém, baixo para defender e ajudo como um louco para recuperar a bola e começo a ouvir “muito bem! obrigado!” Começo a dar tudo pela equipa e o respeito passa a ser outro sentimento. Sinto-me querido! Troquei muitos tiques individuais desnecessários por acções colectivas…

Manel Estiarte

Nem todos conseguirão em tempo útil perceber o trabalho de um treinador e a importância do nós. Gerir personalidades é nos dias de hoje um desafio imenso para quem pretende liderar. E a citação de Estiarte uma óptima ferramenta para se partilhar com “os individualistas ao extremo”.

P.S. I – Entrevista completa de Estiarte na drive do Lateral Esquerdo.

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Novos uploads realizados nos últimos dias, disponíveis na drive. Pep Guardiola, Jorge Valdano e Xavi!

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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