
Falava recentemente no texto “Chaves do balneário. Escolhas de um treinador” (aqui) sobre o quanto cada vez mais o lado da pessoal / personalidade das pessoas que terás no processo, importa para que seja mais ou menos fácil navegar em direcção a um bom porto.
Haverá sempre quem compense uma menor ligação ao grupo e aos objectivos colectivos, com uma qualidade tal que obrigará a que se consiga enquadrar tais características ou capacidade num nós. Mesmo que naquele indivíduo o “eu” seja demasiado grande.
Sobre estes traços, Manel Estiarte, reconhece-se como o individualista que foi durante tanto tempo. Até ao momento em que o conseguiram mudar. Em que cresceu.
Ao longo dos anos com Pep, quando há um jogador mais individualista, sempre lhe digo: Pep, tranquilo, não tentes compreendê-lo. Aceita-o simplesmente. São os demónios do individualismo…
Os individualistas necessitam sentir que jogaram sempre melhor que os outros, que marcaram mais… Podes ter ganho, mas se não marcas cinco golos, não estás bem. Não é natural, não é bom para a equipa… É um demónio que tens dentro, que não se explica, que não se mostra, que só entendem aqueles que nasceram e viveram no individualismo…
Eu tive a sorte de conviver com uma geração de jogadores muito fortes de Madrid, que também me ajudaram a mudar. Porque antes deles chegarem, a bola era minha. Mas, eles também a queriam, e estavam a borrifar-se para a minha hierarquia e para se lhes pedia que me dessem a bola. Se reclamas e ele te responde que não te passou porque podia rematar, que fazes? Ficar enfadado ou aceitar. Eu aceitei. Percebi que o colectivo era mais importante que eu.
Com o passar dos anos acabei por me dar conta que sempre joguei com um respeito reverencial por parte dos meus colegas… mas não me queriam. Apoiam-te porque marcas golos, mas não te querem. Então, tu mudas e começas a defender e a jogar para a equipa em vez de jogar para ti. Baixas, reduzes o número de contra ataques em que não baixas a defender e ficas a meio caminho…e claro, marcavas golo, mas os teus defesas estão a falar mal de ti porque não ajudas… deixei de fazer essas coisas. Já não paro em terra de ninguém, baixo para defender e ajudo como um louco para recuperar a bola e começo a ouvir “muito bem! obrigado!” Começo a dar tudo pela equipa e o respeito passa a ser outro sentimento. Sinto-me querido! Troquei muitos tiques individuais desnecessários por acções colectivas…
Manel Estiarte
Nem todos conseguirão em tempo útil perceber o trabalho de um treinador e a importância do nós. Gerir personalidades é nos dias de hoje um desafio imenso para quem pretende liderar. E a citação de Estiarte uma óptima ferramenta para se partilhar com “os individualistas ao extremo”.
P.S. I – Entrevista completa de Estiarte na drive do Lateral Esquerdo.
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