Criar dúvidas. Caminhos para vencer e para aprender.

Deixámos de ter verticalidade e espaçamento entre linhas. Mesmo quando estamos em ataque continuado é preciso criar dúvidas no adversário, é preciso fazer mudanças de ritmo

Sérgio Conceição

 

Na conversa entre Maurício Pellegrino, treinador do Alavés, e Sito Alonso, treinador da equipa de basquetebol do Baskonia, salta a ideia de que, nos jogos colectivos, para lá de se entender que uma equipa é melhor ou pior, há um princípio de incomodar, no jogo, o adversário, que permite que todos tenham a ilusão de poder vencer. O incómodo causa-se no adversário com o recurso a opções que este não tenha o hábito de enfrentar ou que tenham sido propositadamente preparadas para o enganar.

Luís Cristóvão aqui

Num texto soberbo, o Luís explicava para quem queira entender o que mais importa quando se joga… um jogo! Enganar a oposição. E enganar a oposição envolverá sempre soluções diferentes, criativas. Soluções que lhe criem dúvidas. E não obedecer eternamente a um mesmo padrão.

No futebol, nem sempre se pode catalogar o certo ou o errado. Porque mesmo o que é certo na maior parte das vezes, poderá ser errado em determinado contexto, e vice-versa. Tudo depende de como moves, enganas a oposição.

Por isso, há quem pense que um lateral que não esteja a dar profundidade está sempre mal posicionado, ou revela “más” ou “ultrapassadas” ideias do seu treinador. Ignorando que perceber do jogo é outra coisa!

Tantas vezes não há certo ou errado. Porque tudo dependerá do contexto e do que provocam determinadas decisões no adversário.

O mesmo posicionamento poderá ser insípido se pensarmos numa perspectiva de progressão e ser mais ofensivo, ou acrescentar e contribuir para aproximar do sucesso. Contexto. Pois claro.

 

Os laterais do FC Porto recebem mais baixo. E não movendo oposição, o FC Porto nunca beneficia ofensivamente de tal opção. Acabam a esticar por cima no mesmo corredor.

Diferente o que provocou a Juventus na partida do Dragão. Com a opção deliberada de ocasionalmente mover a oposição. Porque ala saía rápido na contenção ao lateral, lateral “italiano” a baixar propositadamente metros para mais próximo do seu central com único intuito de mover ala do FC Porto. Afastando-o da linha de quatro do meio. Com o intuito de abrir espaço entre médio ala e médio centro na linha de médios azul e branca.

Lateral mais baixo da Juventus, a mover e afastar peças por obrigar um elemento da linha média do FC Porto a subir mesmo em situação defensiva para sair na bola, no sector defensivo adversário. Perdendo ligação com o seu sector.

De uma decisão aparentemente mais “defensiva” aproveitava com assertividade para ser uma equipa mais ofensiva e com maior capacidade para chegar às costas dos médios adversários.

 

Pep por vezes não deixava os laterais subirem… para evitar que o adversário depois forme uma linha com seis ou sete defesas. E isso provoca ires buscar vida a outros espaços…

Xavi

Tudo no jogo passa por enganar a oposição. E se assim o é, não se pode contar com fórmulas ou padrões estáticos perfeitos!

Seria, no entanto, muito estranho que a evolução, em qualidade, da análise do desporto se fizesse com o objectivo de fechar respostas como definitivas e tentar cristalizar soluções para tudo o que acontece. Como se os jogos colectivos pudessem ser respondidos como um jogo de Trivial Pursuit.

Luís Cristóvão

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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