Exclusivo Luís Castro. Modelo e processo de treino do treinador com o futebol mais excitante da Liga.

O seu Rio Ave foi a equipa sensação da temporada passada. Não somente pelos resultados (no período com Luís Castro ao leme foi quinto, à frente de Braga e Marítimo, que terminariam nos lugares Europeus), mas sobretudo por um futebol encantador. Um jogo de paixão e inteligência que muito justamente cativou Portugal inteiro.

Ficou célebre a flash em que perguntou se o entrevistador queria que colocasse tudo atrás e um à pesca na frente, depois de uma injusta e muito desafortunada derrota em Alvalade, num jogo que dominou de princípio ao fim.

Sobre o resultadismo do seu modelo, só nas últimas três temporadas teria chegado à Europa com o Rio Ave com a percentagem pontual obtida, e teria garantido duas subidas de divisão, pudesse o FC Porto B subir. O título de campeão nacional da temporada 2015 / 2016 na segunda Liga é seu.

Mas porquê o estilo de jogo apoiado que tanto impacto teve na Liga?

Primeiro porque é integrador de todos os jogadores. Todos os jogadores participam no momento ofensivo e no momento defensivo e todos se sentem entusiasmados com as propostas de treino que nós fazemos e sinto-os sempre muito disponíveis

É um estilo de jogo que os adeptos gostam, e gostam também de ouvir a crítica positiva, mas fundamentalmente porque é um estilo de jogo que nos tem levado a muitas vitórias e como no futebol o principal é ganhar aliado a uma qualidade de jogo, quando possível vou fazer sempre isso. Quando não for possível, quando verificar que o plantel não dá para o fazer, temos de optar por outro caminho, pois também o faremos, mas já o farei a violentar-me um pouco mas é a minha profissão e muitas vezes nós temos de percorrer caminhos que não defendemos a 100 por cento, mas que para rentabilizar alguns plantéis temos de o fazer porque acima de tudo as instituições querem é ganhar e nós temos é de dar vitórias. Mas até agora tem sido bom. Houve um ano na equipa B em que subiamos de divisão, no outro fomos campeões e no Rio Ave também saiu bem. Portanto, acho que é para continuar, é um jogo estético, os jogadores são muito valorizados… nós na última época devolvemos o Petrovic ao Sporting, o Rafa ao plantel do Porto, o Krovinovic vendido, o Roderick vendido, O Gil devolvido ao Monaco, os jogadores do Rio Ave bastante valorizados. Portanto é um estilo de jogo integrador em que todos saem valorizados, inclusive o treinador.

 

Sobre o Modelo de Jogo, como lá chega e como vai crescendo…

…Claro que todos os modelos são dinâmicos. Chego lá através do treino. O treino comporta todos os momentos. Os 4 momentos estão sempre a ser trabalhados em treino, sempre com grande incidência sobre os princípios a potenciar e a melhorar. Na recuperação queremos também sempre retirar o melhor deles. Portanto as recuperações são sempre tidas em conta para termos um bom desempenho, quer em treino quer em jogo. Cada treino, a nossa principal preocupação para além da recuperação é o lado aquisitivo do treino e isso tem dias específicos em que nós vamos pondo em prática aquilo que são as nossas ideias em cada dia da semana. Numa semana padrão temos as nossas preocupações e é isso que faço sempre, numa perspectiva de melhoria do modelo… o modelo vai sofrendo mudanças, quer em termos sectoriais quer em termos individuais … a proposta de um jogador, uma proposta a um sector, ou uma proposta à equipa tem algumas nuances portanto é um processo dinâmico e nós vamos fazendo evoluir da forma que entendemos em função daquilo que vemos do desempenho do treino em jogo, individual, colectivo. Portanto isso é sempre analisado e fazemos fluir e levar o treino e o modelo para determinadas direcções embora o modelo e a nossa ideia seja a mesma, há algumas nuances

 

Processo de Treino:

Os cuidados na elaboração do exercício, para chegar onde idealiza…

Exercícios são feitos em função do nosso modelo de jogo e das nossas dinâmicas. Preocupa-me a forma como ele é acolhido pelos jogadores, e que o exercício contemple todas as preocupações que fizeram nascer o exercício. Se eu quero que a minha equipa jogue com uma linha alta, se quero que pressione após a perda, se quero que haja jogo por fora, jogo por dentro, com formação de triângulos, que haja coberturas, que tenha profundidade, que haja basculações, marcações individuais com coberturas, haja entrada pelo corredor central… se eu quero tudo isto, a partir do momento que parto para a elaboração do exercício parto com todas estas preocupações atrás de mim, e essa é a minha principal preocupação. Depois de colocar em prática vejo o grau de satisfação dos jogadores. A forma como o exercício flui e a forma como eles estão dentro do exercício e o à vontade com que eles estão. Perante o jogo… algumas das nossas ideias no exercício se ele for bem aceite… está aceite pelo grupo e a partir dai faz parte como um dos muitos exercícios que nós propomos em função dos princípios e dos sub princípios a trabalhar… mas não gosto muito de falar em princípios e sub princípios, isto e aquilo… gosto de falar em como ataque, e em como defendo

Todas as citações de Luís Castro foram feitas em exclusivo para o Lateral Esquerdo. Fica aqui um forte agradecimento por permitir-nos a todos aprender um pouco mais!

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Excelente condutor de homens, e a nível estético a querer sempre capacitar um jogo bonito e positivo.

    Expetativas altas para ver como se comporta no Chaves.É crível que coloque os Flavienses a jogar bem, e para o primeiro terço da tabela.

    Parece-me que no futuro acabará por treinar um dos maiores do Minho!

  2. Caro Pedro,

    Achei o artigo imensamente interessante e rico em conteúdo.
    Face à entrevista, apreciei a forma como os conteúdos do trabalho do mister Castro ficam facilmente expostos pela clareza e objetividade com que se exprime.

    Estive a observar o vídeo. Denotei a presença de sub-princípios do momento ofensivo, que já tinham emergido em outros dos exercícios. Gostaria de ouvir a sua opinião sobre o último exercício do vídeo, relativamente à forma como este procura fazer emergir as dinâmicas. Quais os pontos fortes? Porque escolheu incluí-lo no vídeo?

    Abraço e continuação de um bom trabalho,

    João Diaz

  3. Um tipo que tenho vindo a aprender a admirar. De certa forma dá-me um quentinho pensar que este nível de competência e bom jogar não serve para um determinado candidato ao título. Por outro, ganha e muito bem a nossa Liga em ter um clube como o Chaves sempre bem orientado.

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