Dificuldades para pensar e criar em Alvalade.

A segunda jornada a abrir com um jogo com pouquíssimos lances claros de golo. Situação anormal, quando se percebe que em campo esteve um candidato ao título que jogava no seu reduto.

Já por cá se abordou a influência dos dois pensadores (Pizzi e Jonas) no volume ofensivo do SL Benfica, e é precisamente do que mais carece a equipa leonina. Muitos executantes, alguns muito bons, outros não tão bons, mas sobretudo gente que prima mais pela forma como executa do que como pensa. A ausência de William serviu ainda mais para acentuar a tendência. Com Doumbia e Bas Dost na grande área, não precisará a equipa leonina de criar em mesmo número que os rivais para fazer golos. Porém, criar menos será sempre sinónimo de maiores dúvidas na partida e no resultado.

Percebe-se claramente o porquê das opções do treinador leonino. São todos os que dão garantias de executar aquilo que o próprio treinador idealiza. Falta criatividade, maior qualidade técnica e inteligência para executar um jogo que cumpra os padrões impostos, mas que traga também dificuldades inesperadas aos adversários.

Battaglia é o regresso do treinador leonino a um médio defensivo competente, com cultura táctica e capaz de se impor nos duelos nos momentos defensivos, mas que ofensivamente está muito longe de conseguir ligar o jogo por dentro como William o fazia. Piccini traz maior competência no posicionamento defensivo, mas ofensivamente não supera Schelotto. Tem as exactas mesmas dificuldades. A tomada de decisão e a qualidade técnica, evidenciando-se por um perfil de alguém que procura sempre o jogo mais vertical, e muito menos as combinações colectivas, que não usem somente o extremo do seu lado. Acuña ainda bastante longe de mostrar que é apenas mais um para executar. Executa bem, sem dúvida, mas sem conseguir evidenciar-se pela forma inteligente como toma decisões, mas muito mais pelos gestos e decisões simples. Há que continuar a tentar percebê-lo.

Bas Dost a voltar a ter um jogo muito fraco fora da grande área, embora procure ligar-se muito mais do que antes, com muitos erros técnicos e decisões que faziam perder a bola, ou na melhor das situações apenas a conservavam sem aproximar nunca a equipa do golo, e Daniel Podence, um futuro jogador de elevado nível, ainda a crescer. A precisar de errar para continuar a evoluir e transformar-se no que promete o seu futebol.

Sem bola, novamente o melhor do Sporting de Jorge Jesus. O treinador do Sporting já havia mencionado em Vila das Aves que o melhor momento do Sporting havia sido o defensivo. Em Alvalade praticamente não despendeu tempo em organização defensiva, mas quando o fez esteve sempre muito bem organizado e seguro, e nos momentos seguintes à perda foi sempre uma equipa capaz de pressionar, ou quando tal não era possível, de se agrupar e assegurar organização.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

19 Comentários

  1. Boa tarde,

    Achei que tudo foi feito muito depressa, muito no intuito de vergar, de triturar.

    Até no início da construção, os centrais entravam com bola controlada à bruta, sem pensar se estavam a atrair jogadores ou não, interessava era fechar o Setúbal nos últimos 30 metros.

    Isso não me pareceu muito lógico, porque o Setúbal acabava a jogar com 9 centrais e o Edinho a jogar a 6. Não havia espaço.

    Aqui reside a grande diferença do Adrien para o Pizzi, o Pizzi chama-os para abrir o campo e depois distribuir ou combinar…

    Aliás, o melhor período do Sporting coincide com a entrada do bruno, não tanto por causa do Doumbia. O Bruno sabe tudo sobre como atrair, fixar e combinar.

    Com o Bruno, não veríamos tantos erros por parte do Podence, penso eu.

    O meu rico William faz tanta falta…

    Um abraço

  2. E o que dizer do Mathieu? Num texto tão grande, não havia espaço para falar sobre aquele que vai ser de muito longe o melhor central deste campeonato?

    Também se devia dar uma palavra ao Sétubal que ocupou muito bem o corredor central e não deu grande margem ao Sporting para criar algo por lá. Ah, e já agora, Adrien e Battaglia juntos nunca mais.

  3. Percebo que seja monótono ver uma equipa controladora e talvez demasiado paciente na criação de situações de finalização mas prefiro assim do que o que aconteceu na última época em que a falta de critério deu azo a que se cruzassem bolas para a grande área a contar com o Bas Dost, na crença que algumas dessas bolas dessem em golo. Não vimos esse Sporting ontem…e ainda bem. Como é obvio, preferia ver mais vertigem no ataque e mais jogo anterior. Para mim houve excessiva basculação em alguns momentos mas antes assim.
    Os tais “pouquíssimos lances claros de golo” aconteceram porque não é só uma equipa que joga…Quero ver se os outros grandes conseguem não perder pontos contra o Aves e contra o Setúbal. Duvido. Acho que a falta de criatividade diminuirá quando o Adrien sair…ainda que também diminua a capacidade de pressão. Para já, noto melhorias relativamente à última época.

    • Frederico, concordo muito mais com a opinião do Gonçalo

      “Achei que tudo foi feito muito depressa, muito no intuito de vergar, de triturar.

      Até no início da construção, os centrais entravam com bola controlada à bruta, sem pensar se estavam a atrair jogadores ou não, interessava era fechar o Setúbal nos últimos 30 metros.”

      Achei até que faltou o aborrecimento que tu falas para se poder fazer coisas melhores e diferentes, em vez de executar, executar, executar, quase sem respirar.

      • “Achei até que faltou o aborrecimento que tu falas para se poder fazer coisas melhores e diferentes, em vez de executar, executar, executar, quase sem respirar.”

        Maldini,excessivamente padronizado?

      • Maldini, “reposta” este porque faz todo o sentido. Confesso que no jogo contra o Setúbal não concordei tanto. Hoje, foi isto e ainda pior…Já não sei se é desgaste do modelo ou falta de alguém que dê soluções novas – um Teo ainda faz muita falta e a verdade é que, para mim, o Gelson apesar de ser fora de série não vê “mais além”. E nem falo do William…

    • Basta os outros “grandes” terem a ajuda a criar ocasiões flagrantes a 11 metros da linha de golo para não perderem pontos, mas isso não cabe neste blog.

  4. Isto.

    No entanto, um Sporting que ainda pode crescer muito. Basta que o JJ queira colocar em campo os melhores. Em outros tempos, foi obrigado a optar por novas opções que não vão na sua linha de pensamento mas que elevaram o futebol da sua equipa.

    Bruno Fernandes vai ser o Pizzi do Sporting. Um upgrade ao Adrien tendo em conta o que oferece um e outro. No futebol português vale mais ter um Pizzi/Bruno Fernandes que um Adrien.

    William se ficar e a formar meio com Bruno Fernandes é o melhor meio-campo que o Sporting apresenta desde à muitos anos. Criatividade e ligação a todos os níveis. Vai beneficiar com isto o Podence também que vai ter mais espaço para fazer aquilo que é melhor.

    Piccini não serve para o Sporting.

    Sem Coentrão a equipa perde ideias na esquerda.

    Importante continuar a perceber Acuña. Jogador de processos muito simples e com um pé esquerdo com bastante qualidade. Não parece ser alguém que vá ver o que os outros não alcançam mas é um excelente executante para juntar a William, Bruno Fernandes, Gelson e Podence.

    Só com este meio-campo, o Sporting pode ter o Bas Dost na frente. Quem jogar atrás precisa de dinâmicas muito fortes para permitir que o holandês tenha aproveitamento.

    Muitas equipas jogam em bloco baixo mas um bloco tão baixo e organizado como o Vitória estou curioso para ver porque não havia qualquer espaço para jogar.

  5. Ainda existem mtas dúvidas ofensivamente o que é perfeitamente normal…1 mês e meio da nova ideia para mathieu bataglia acuna piccini…Sim o Sérgio já conseguio no porto…mas os jogadores são os msm…e Ricardo e aboubakar tem porto dentro deles(já jogaram em anos anteriores)

    • Mas olha que não sei se o Piccini tem vida para isto, por muito que o jota ande em cima dele.

      O Battaglia vai ter muitas dificuldades a 6,não me parece nada talhado para aquilo.

      O Mathieu é um gajo muito batido, não vai ter grandes dificuldades.

      E o outro é bom jogador, mas quando as pernas começarem a tremer (ele já vem com o campeonato argentino nas pernas) quero ver. Espero que o Jota ande a batalhar no Iuri.

      • O sucesso do Sporting passará muito pela fase final do mercado e pela forma como o JJ vai montar a equipa depois disso.

        Sporting com William e Bruno Fernandes é diferente de um Sporting com Battaglia e Bruno Fernandes. Claro que o Sporting pode procurar outro tipo de características para 6 e até ter sucesso mas isso vai implicar tempo.

        Piccini não tem condições. Pode ser útil e até evoluir ao longo da época mas não é um lateral completo que posso oferecer o que o Sporting precisa.

        Central e alguém para o lugar de Acuña será essencial.

  6. Não concordo nada com a comparação entre Piccini e Schelotto. Basta ao primeiro saber que tem limitações (coisa que o segundo simplesmente ignorava) para o tornar um jogador muito mais inteligente ofensivamente. considero o italiano com melhor capacidade de execução que o Schelotto, mas a grande diferença está no que refiro acima. E acredito que com o decorrer da época isso vai ser evidente para todos.

  7. Não concordo com a comparação entre Piccini e Schelotto. Basta ao primeiro saber que tem limitações (coisa que o segundo simplesmente ignorava) para o tornar um jogador muito mais inteligente ofensivamente. considero o italiano com melhor capacidade de execução que o Schelotto, mas a grande diferença está no que refiro acima. E acredito que com o decorrer da época isso vai ser evidente para todos.

  8. A vertigem q o JJ exige nas suas equipas, impossibilita aquilo q se gosta por aqui q é um jogo pausado e com inteligencia.. Rapido e bem nao há quem (exepto alguns iluminados) pelo que os erros na construção se devem acho, à velocidade com q se quer jogar. Este ano com as individualidades que tem o Sporting fica mais proximo do objectivo, pois normalmente o numero de ocasioes q criou neste jogo chega para o ganhar.

    Era interessante colocar um video cm as ocasioes ou bolas na grande area do setubal e ver a enorme quantidade de jogadores cm hipoteses de finalizar, ao contrario do “Bas à pesca” como na epoca passada.

    Chegar à frente cm muitos e rapido nem sempre decidindo bem, pode ser uma opcao valida à ideia chegar à frente cm muitos, devagar e sempre a tomar as melhores decisoes!

  9. Vejo aqui uma enorme quantidade de wishful thinking quando eu só vislumbro um deja vu… Ah e o Piccini tem sido horrível. Não é jogador de futebol. Sorry.

    • Um deja vu onde deixaste de ser eterno terceiro atrás do Paulo Bento para seres crónico candidato/campeão?

      Quanto ao Piccini estamos de acordo.

      Um abraço

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