Homem ao homem e transições ofensivas.

Bem sucedido nos resultados que obteve, quando decidiu travar Hazard e o meio campo do Ajax na final da Liga Europa através de marcações individuais, José Mourinho acabou por voltar a confundir jogos ou adversários com as suas decisões.

Tudo passou pelo factor surpresa. A marcação individual a campo inteiro, continua a ser um entrave ao bem defender. Defender bem é proteger a baliza e não defender adversários. O objectivo maior sem bola é não sofrer golos e não evitar que seja jogador específico a fazê-los.

Porém, numa era em que os próprios modelos ofensivos se moldaram totalmente à modernidade das defesas zonais, a surpresa trouxe dificuldades por inesperadas. É muito fácil desmontar marcações individuais, por um trabalho de posicionamentos e arrastamentos que afastem os defesas do centro do jogo. Para que perceba de forma mais fácil, seria um pouco como colocar dez jogadores junto à linha lateral para levar para lá os seus dez marcadores, e deixar todo o campo para jogar 1×1, aumentando espaço quando se tem a bola. A questão maior é que o factor surpresa trouxe equipas impreparadas para o método defensivo que estava em desuso.

Na recepção do City ao Everton, surgiu a equipa de Ronald Koeman a pretender também eliminar determinadas peças dos citizens pelo recurso a marcações mais apertadas.

Ainda que o resultado não tenha sido o esperado pelos comandados de Pep, a equipa de Guardiola, cujos jogadores primam sobretudo pelos traços cognitivos e entendimento do jogo foi amiúde dando as respostas necessárias para conduzir o City ao sucesso.

Não, o jogo não vai evoluir no sentido contrário ao do caminho percorrido até hoje. A surpresa que Mourinho trouxe e usou para vencer mais uma prova europeia, e que parece ter voltado a influenciar outras equipas, já lá vai.

Nos planos de jogo há que preparar respostas para dar perante tais métodos. Respostas preparadas, como seja o chamar adversários todos ao lado oposto à bola, para dar condições maiores de sucesso ao portador, e as marcações individuais voltarão ao desuso e esquecimento a que estavam vetadas.

Guardiola que há não muito tempo referiu que a sua organização ofensiva era muito mais trabalhada e pensada no Bayern e no City do que em Barcelona, porque na Catalunha, a preocupação maior era criar condições para que a bola chegasse à hora e no local certo a Messi, e que a partir daí era com o astro argentino, a passar pelas dificuldades que todos os outros também sentem em organização ofensiva. Independentemente da muita qualidade no processo ofensivo, ter Messi era, é e será sempre um facilitador absolutamente incomum quando se está em ataque posicional. Ninguém decide e cria como o argentino, e sem Messi, mesmo tendo o City jogadores de inquestionável valor e perfil, as dificuldades são maiores para se criar lances de sucessivo perigo.

Também por isso, o City a não poder desaproveitar os momentos óptimos para após a recuperação da bola contra atacar. Óptimos porque mais espaço e menos oposição. Mesmo que tal esteja muito longe de ser essa a principal forma ou estratégia com que Guardiola pretende vencer a Premier League.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

1 Comentário

  1. curioso o facto dos 3 golos do city até agora não tenham sido como pep pensa ser o caminho…mas sim como a premier esta moldada!!

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