Sonho de uma noite de Verão no Pireu.

Faz-se aqui um parênteses, para reforçar a competência dos treinadores portugueses. É uma falta de noção muito grande andar-se em Portugal a discutir se há ou não processo nas principais equipas lusas. Pode não se gostar de como X ou Y jogam, e tal é natural, negar evidências é que não. Quem pretender ver o que é verdadeiramente uma equipa sem processos, é virar-se para as ligas periféricas que estão ainda hoje nos tempos vividos em Portugal há sete, oito anos atrás. A equipa grega, treinada por um Albanês, não tem um movimento colectivo, seja defensivo ou ofensivo.

Quarenta e cinco minutos soberbos de uma exibição com muito dedo de Jorge Jesus. Não, não foi somente trocar Bas Dost por Doumbia, e esperar que a “magia” acontecesse. E já agora, quantos antes da partida lamentaram tal opção? Preparar a vitória na Grécia, foi bastante mais que trocar elementos. Foi preparar e condicionar o jogo para que este fosse ao encontro do idealizado e das características dos jogadores leoninos.

Sim, os jogadores do Sporting são francamente melhores que os do adversário, mas foi porém, do que é colectivo, e da forma como Jesus preparou o jogo, que a equipa leonina viveu uma página de ouro na Liga milionária, apenas manchada por demasiadas perdidas e pelas desatenções finais que tornaram o resultado enganador.

Tudo perfeito. O controlo em organização defensiva, no habitual 442, e o identificar por todos os elementos dos momentos em que se troca o controlo defensivo pelo pressing para recuperar a bola, para posteriormente sair em transição ofensiva para ataque rápido. O comportamento táctico de um excepcional Bruno Fernandes. Não é somente o que define com bola no pé, nomeadamente os timings com que solta e para onde solta, iniciando os contra ataques, mas também a forma como ocupa o espaço e mantém a organização defensiva do Sporting tal como a idealiza Jorge Jesus. Também do ponto de vista defensivo, Bruno é o segundo avançado perfeito, pela forma como se relaciona com a linha média e garante a ocupação do espaço.

Enquanto os onze jogadores do Sporting sabiam o tempo e o momento em que a defender, trocavam referências posicionais por individuais para apertar e roubar a bola, e ainda assim, manter a equipa organizada atrás, os jogadores do Olympiakos corriam pelo campo sem qualquer critério. Uns aceleravam e iam marcar enquanto outros viam, e vice-versa.

E a cada recuperação, o Sporting estava preparado para ser perigoso e poder chegar ao golo. Porquê? Porque foi Jorge Jesus quem pelos indicadores definidos para pressionar, definiu o momento e o espaço predilecto para recuperar. Equipa grega aberta, e espaço nas costas para saídas de Doumbia, Gelson ou até de Bruno.

Jesus sabia como o Olympiakos abriria a equipa e tentaria jogar, e montou a ratoeira, desde logo bem evidente quando ainda no pré jogo se percebeu que Doumbia faria parte das opções iniciais.

Na Grécia assistiu-se a uma verdadeira lição táctica. Há cinco, seis anos atrás em Portugal, as equipas de Jesus traziam disto todos os fins de semana. Hoje, a nossa Liga, mesmo com pouca qualidade individual comparativa com as grandes Ligas Europeias, mesmo que com tantas vezes um jogo muito pouco aprazível, é inúmeras vezes superior do ponto de vista táctico a todas as outras ligas de campeonatos menores. Desse equilíbrio colectivo, emergiu, novamente nos anos mais recentes em Portugal a qualidade individual como o factor diferenciador.

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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

5 Comentários

  1. De facto uma exibição extraordinária na primeira parte e ainda boa parte da segunda.

    Mas pensar o que seria se jogasse Coentrão à esquerda, tal o potencial de lances que por ali poderiam ter surgido que se perderam por falta de qualidade da segunda linha, já que nem vale a pena falar nos lances defensivos que contra uma equipa mais forte seriam fatais.

    É certamente a área mais débil deste plantel, as laterais defensivas, ainda que o Piccini esteja claramente a melhorar a todos os níveis com a confiança que vem acumulando.

  2. Uma pergunta: no processo defensivo, muitas vez os meios esquerdos e direitos interiores desciam para completar a linha defensiva do Sporting, até que no final estava uma linha de 5 jogadores. Isso não desequilibra muito o meio campo, dai que o Bruno tinha que descer para compensar os vazios ? Qual é a vantagem de um tal processo jà que em tempo normal uma linha de 4 parece suficiente ? So se enfrenta uma equipa cuja mudança de flancos no processo ofensivo seja muito rápido e eficiente…..Factores que me parecem complicados para garantir attaques mortíferos.

    Fabio

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