Desde o início do “Lateral Esquerdo” que se passou a pouca importância para o resultado final, de uma das principais causas invocadas pelo público em geral para o insucesso: A falta de atitude ou de compromisso.
Se uma equipa com melhores jogadores, ou de maior dimensão perdia para uma teoricamente inferior, tudo era explicado pela falta de atitude ou de correria dos melhores. Quem lida ou lidou com atletas, reconhecerá que não há quem entre em campo para perder. Quase tudo se pode explicar pelo comportamento táctico, erros individuais e uma aleatoriedade que está sempre presente no jogo. Muito mais do que uma maior ou menor vontade de vencer.
Recordo o livro do Xesco Espar: “Joga com o coração, a excelência não é suficiente”. O autor dá uma imagem muito interessante. A emoção é um multiplicador. Se não tens nada, ou o tens mal trabalhado… então multiplicas por zero e o resultado será zero. A emoção é importante, se junta a outras coisas que são fundamentais. Se trabalhas bem, se os jogadores sabem o que hão de fazer em campo, se estudaste a fundo o teu adversário, se tentaste controlar a ansiedade dos teus jogadores, se tens um plano de jogo… A emoção é importante… mas tem de vir aliada a ideias. Mas ter regularidade e efectividade, as emoções têm de ser trabalhadas de forma coordenada com os restantes factores de rendimento…
Júlio Garganta
Uma das “pequenas” coisas que aprendi na passagem pelo futebol foi precisamente que é verdade que não perdes por falta de vontade ou atitude, mas que é possível mexer com as emoções. É possível aumentar a adrenalina e com isso aumentar o foco e a concentração, e ficar portanto aquele um por cento mais próximo de vencer do que antes de tocar nas emoções.
O futebol é um jogo de organização e de talento. A experiência prática trouxe-me a percepção clara de que é ainda mais do que isso. Por ser um jogo jogado por humanos, tudo o que somos conta. Ser inteligente o suficiente para também manipular a emoção para proveito próprio será sempre uma vantagem. Sem nunca esquecer o que refere o professor Júlio Garganta: É um multiplicador. E se não há nada para multiplicar, nada muda.
Mas colocar emoção e coração em cima da inteligência, organização e talento, será sempre um caminho óptimo para o sucesso.
Boa noite. Que bom é continuar a aprender convosco e que bom é a referência ao Xesco, que foi meu Professor no Mestrado de Treino de Alto Rendimento na Universidade de Ed. Física da Cataluna. Que grande Homem. Jogar com el Coraçon continua a seguir-me no meu humilde trajeto. Continuação de bom trabalho!!!
Grande Mário! Forte abraço! é sempre um prazer ter-te cá
Na tua pratica, achastes tambem que as amizades dentro do grupo de trabalho serviram de multiplicadores?
Nao saberei se foi um multiplicador e na minha pregunta tambem queria saber, com a tua experiencia, se os laços de amizade eram fortes a nivel profissional.
Posso estar enganado mas temo que o futebol infantil com o desaparecimento da espontaneidade ligado à pratica na rua, que era uma escola de vida para o Alberto Camus, venha a ser somente uma academia de aprendizagem e de especialisaçao.
Adorei a ideia de Bielsa de contruir alojamentos de madeira no campo de treino do Lille para os jogadores conviverem muito tempo juntos durante a pré época. Pena minha, com o fracasso desportivo do Lille, é uma multiplicaçao a zero por enquanto…
Para aproveitar esse artigo que fala do aspecto humano, tao pouco evocado por aqui, e que na pratica de treinador vem a ser muito importante, queria acrescentar mais reflexao sobre essa dimensao.
Eu li algures que um antigo jogador do Chelsea Mourinho/primeira época, de quem ja nao me lembre o nome, queixava se do seu novo clube porque nao havia amizades entre jogadores e relembrava os tempos do Chelsea e dos amigos que deixou là; ele agradeceu os colegas/amigos pelo prazer que foi jogar com eles e acabou a anedota elogiando Mourinho porque obrigou os jogadores a conviver uns com os outros.
Depois de ler esse artigo, relembrei me do Chelsea que ganhou a liga dos campeoes sem o Mourinho e com um treinador ( Di Matteo) que mais ninguem se atreviu a rever. Paolo, falavas de organisaçao e talento a multiplicar com um humano e isso nao està longe disso pensando que, com outra organisaçao sem relevancia, os mesmos jogadores ganharem ao grande Barcelona. Ninguem duvide da superioridade gritante desse confronto a favor do Barça_ diferença individual e coletiva_ mas se havia uma oportunidade de ganhar: era manter a melhor organisaçao defensiva possivel e ganhar os duelos para algumas jogadas mais com o coraçao que com os pés e cerebro.
Para manter uma organisaçao baixa com o Barcelona é preciso de muita coragem, concentraçao e solidariedade e para ganhar jogadas ofensivas é preciso transcender se fisicamente. Quer isso dizer com qualidades humanas extra futebolisticas puras (Hoje, no Marselha/PSG, o Rabiot, que jogou muito bem, perdeu um duelo facil perto da grande area que apanhou de surpresa a retarguada parisiense e deu o golo marselhese na ultima jogada do segundo tempo deles).
Esse Chelsea ganhou graças à parte humana acrescentado à organisaçao defensiva; nao é de certo a melhor equipa a jogar, esse tipo de jogar tem muita imprevisibilidade, so se consegue ganhar poucas vezes e de certo nao é um hino ao futebol; mas esse feito do Chelsea vem a demonstrar que mesmo se a parte emocional é a menos importante comparando com o talento e a organisaçao, quando ja nao hà mais nada a esperar com um desequilibrio de superioridade gritante para o adversario , esse aspecto é tambem uma possibilidade para vencer.
Essa componente do futebol que muitos consideram injusta porque nao ganha a melhor equipa é um piquante a mais desse desporto porque o irracional està sempre presente e dà uma imprevisibilidade possivel a qualquer jogo, e em vez de queixar nos, deveriamos inclinar nos diante das equipas campeas desse desporto tao dificil.
PS: José, nao entendi tudo o que tu dissestes.
José, detesto estragar-te a opinião… mas este texto estava escrito 2 dias antes do UTD perder para a Liga…