Iuri Medeiros, Rafa Silva, honestidade e coerência.

O treinador do Manchester City, Pep Guardiola, está a introduzir um conjunto de medidas para unir o plantel.

De acordo com o Daily Mirror, Guardiola criou várias rotinas no dia a dia dos seus jogadores. Gosta de reunir todos nas refeições, de sair com eles ao cinema, trabalha a alimentação de cada um dos seus atletas, com os nutricionistas, pelo que têm refeições personalizadas. Têm de regularmente fazer analises ao sangue e o peso é controlado.

Jornal A Bola, online

Num grupo onde se discute futebol, debateu-se a notícia, e destaco com vocês a opinião do Bruno Pereira:

Não sejas justo, coerente e honesto com as conversas com os jogadores, e a aplicar castigos e vais ver se ir ao cinema com os jogadores ajuda alguma coisa…

Isto na mesma semana em que Jorge Jesus afirmou após o jogo com o Famalicão:

A ausência de Iuri? Posso convocar 18 e quis dar oportunidade ao Mattheus. As decisões são em função do que treinas…

E Rui Vitória na antevisão ao jogo da Taça:

Só joga quem trabalhou e mereceu…

 

Há jogadores com uma qualidade tal quando comparados com os colegas, que mesmo baixando concentração e qualidade na semana de trabalho, a diferença que fazem ao fim de semana é de tal forma grande, que é impossível abdicar do seu talento. E porque essa diferença se faz notar de forma muito clara, os próprios colegas o percebem. Por exemplo, na semana em que Messi por algum motivo estiver pouco participativo e distante, todos entenderão que o astro deverá ainda assim ir a jogo, porque é tão superior aos demais, que não há como abdicar dele. É como a história do aluno que sem estudar tira 20, e do outro muito esforçado e cumpridor, mas que não consegue passar da nota 13.

Na gestão de um grupo, levar a jogo o aluno de nota 20 mesmo quando não se esforça, não é problema. Porque aumenta de sobremaneira as hipóteses de nos resolver problemas, e os colegas sabem! Embora também se devam delinear estratégias, percebendo motivações do tal aluno / jogador, para lhe aumentar a participação.

Os problemas poderão começar quando há dois, três ou quatro alunos de notas similares e o menos dado, menos concentrado e participativo continua a ser premiado em detrimento dos outros. Não é tão claro que o aluno de quinze, deva continuar à frente do de catorze nas opções, se a disponibilidade não é a mesma. Até porque quando a diferença não é grande, as opiniões dentro de um próprio grupo podem divergir, e é ai que surgem sentimentos de injustiça, e aumentam as dificuldades na gestão do grupo.

As mensagens que Rui Vitória e Jorge Jesus passaram nesta semana são claras. Ao contrário do que o grande público pensa, as oportunidades não surgem ao fim de semana. Todos os dias são uma oportunidade para mostrar qualidade, competência e capacidade para apresentar rendimento. Nenhum treinador precisa de ver um jogador ao fim de semana para perceber se ele tem ou não tem qualidade e capacidade para entrar nas opções.

Quem trabalha e trabalhou com Rafa Silva e Iuri Medeiros sabe bastante bem porque continuam a ser talentos adiados.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

14 Comentários

  1. Isso é verdade mas acho que também é preciso ter em conta que há jogadores de “treinos” e também já jogadores de “jogo”.

    Isto é, há jogadores que não treinam recorrentemente como devem e depois chegam aos jogos e produzem muito e também há jogadores que treinam muito bem e que (por várias razões) não conseguem produzir nada.

    Concordas?

    • concordo … há tipos que fazem tudo certo mas que sentem o “clima”, e outros é o contrário. O problema destes dois casos é que no “clima” também ainda não provaram ser diferentes para melhor ou tão melhor que justifique…

  2. Declaração de interesses: sou fã do Iuri Medeiros e do Rafa Silva, mas sinto-me frustrado por ver que podiam dar muito mais do que o que dão. Ainda assim, honestamente não sei quanto disto é culpa própria e quanto disto é culpa de quem não os sabe gerir.

    Segundo ponto: já leio o vosso blog há anos (“before it was cool”, ehehehe) e concordo tanto convosco que acabo por nunca fazer nenhum comentário. Desta vez, discordei (em parte) e aproveitei para comentar.

    Agora passando ao comentário em si. Gostei da analogia do aluno, o problema é quando o professor prejudica o aluno de 15 porque sabe que ele poderia chegar perfeitamente ao 18 e dá as oportunidades ao aluno de 12 porque de facto se esforça. É isto que tem acontecido no caso do Iuri, sobretudo depois do Iuri ter um teste fraquito (pudera… meter o Iuri na ala esquerda a despejar bolas para a área nos últimos 20 minutos é o equivalente a colocar o William a extremo com a missão de ganhar a linha em velocidade!) em que foi completamente riscado das contas para se dar todo o mérito aos medíocres que se vão esforçando e conseguem andar pela positiva.

    Se concordo que em circunstâncias semelhantes, se deve premiar o mérito e o esforço, discordo que o Iuri, o Mattheus e o Bruno César estejam em circunstâncias semelhantes.

    Relativamente ao Rafa, o problema é menor dada a qualidade dos extremos do Benfica. Não joga o Rafa, joga o Zivkovic, o Salvio, o Diogo, o Cervi ou o Manel. A qualidade é tanta que de facto trata-se de premiar o mérito entre jogadores de qualidade similar.

    • Carlos, muito obrigado pela atenção!

      O problema é que eles não provaram ser de 15 se os colegas são de 12… embora perceba que consideras mais niveladas as alternativas no slb…

      o Iuri começou à frente de todos os que referes, e ai ele não provou ser tão diferente dos outros que lhe permita passar à frente deles andando a passear e não cumprindo…

      https://www.lateralesquerdo.com/2017/06/11/o-caderno-desactualizado-o-desmontar-e-o-modelar/

      ” porque era um grupo com um passado de jogo e de vivências já bem notório, nunca foi possível ter o modelo de jogo e todos os comportamentos idealizados. Porque simplesmente há sempre quem não cumpra. Ou por não estar disponível, ou por ser incapaz. Independentemente disso, quem é melhor será sempre melhor. Cumprindo mais ou menos. Um exemplo exagerado para que perceba. Tem o Cristiano e o Karamanos no plantel. O Cristiano não cumpre com a movimentação ofensiva, não cumpre de forma tão eficiente na ocupação do espaço, não cumpre com o estabelecido defensivamente. O Karamanos cumpre com absolutamente tudo o que o modelo de jogo pede. Quem joga? O Cristiano, obviamente! Então, há que pegar no que faz o Cristiano e começar a modelar. Ou seja, pegar no que dão as individualidades e ir modelando, integrando as individualidades no modelo. O Cristiano por vezes, não fecha o lado esquerdo? Então há que criar uma forma de o fazer, sempre que tal acontece. Porque no fim do dia, a equipa terá sempre mais hipóteses de ganhar com o Cristiano mesmo com um modelo que já sofreu algumas alterações, do que com o modelo original mas com o Karamanos a jogar.”

      na minha opinião, o Iuri não está neste patamar que leve um treinador a modelar o seu jogo porque ainda assim sai melhor com ele que com outros…

      • Exatamente.

        E se no Boavista e no Moreirense não havia dúvidas que estava num patamar superior, no Sporting isso não acontece.

        Ou dá ao pedal ou vai acabar pelos clubes de meio da tabela, ou vai para uma equipa mediana no estrangeiro.

  3. Excelente post uma vez mais. Só um aparte não deixa de ser factual que o melhor jogo do rafa pelo benfica foi quando fez dupla de ataque com o Gonçalo Guedes numa posição em que parecia um falso 9 a deambular pela frente toda de ataque.
    Isto para dizer que obviamente grande parte da culpa senão toda é sempre do jogador, neste caso também na minha opinião resulta que o rafa não é extremo e para o Rui Vitória ele conta como extremo… a sua continuidade no benfica no curto prazo estará dependente do futuro do clube nas competições europeias …
    E que dizer do famoso gabigol, o benfica avança para a sua contratação exactamente para que ? Porque está história diz como treinas dir te ei se jogas … neste caso não havia muita margem de engano já que em Itália tinha muita fama de festivaleiro, saídas pra discotecas e pouco compromisso no treino …
    No caso do iuri, o post diz tudo a analogia é simples nos clubes onde andou emprestado e brilhava sucessivamente, era o messi lá do sitio … treinasse mal seria sempre titular…
    abc

  4. É relativo… É a tua opinião e de outras pessoas mas há mais opiniões sobre o tema.

    De certeza que era isso que o JJ pensava do Bernardo Silva. Estava erradérrimo. Coerência é algo difícil de conseguir e mais ainda de definir. JJ é coerente em algumas coisas e noutras nem tanto, o Vitórias (por exemplo) é mais coerente mas menos criativo e conhecedor de certos aspectos, sobretudo ideias e operacionalizações de jogo/treino. No caso dos atletas, coerência pode ser sinónimo de oportunidade (cá está algo que JJ nem concebe, nem sequer formula enquanto mera hipótese; ele desenha uma lista de opções na mente – um, dois, três, quatro – e para mudar de opinião é preciso rodar o planeta em sentido contrário).

    É que há atletas com muito mais minutos do que o Iuri que são opções profundamente incoerentes (destaco o Bruno César e o Alan Ruiz – mas há mais).

    O caso do Rafa é diferente mas não deixa de ser um bocado na mesma linha. A diferença está na quantidade de oportunidades que o Rafa teve e na quantidade de opções de nível semelhante ou superior ou de características diferentes para a mesma posição no plantel do Benfica.

    Sou daqueles que consideram o Rafa um excelente jogador e com potencial para ser muito melhor do que tem sido, tanto no Braga como no Benfica.

    Não fiquei minimamente chocado com os 16 milhões. Agora, continuo a achar que o Rafa tem problemas ao nível da decisão: quando pode chutar passa, quando o passe deve ser curto sai mais esticado, quando deve orientar a recepção a bola cola e quando deve colar, orienta o corpo. Às vezes parece que anda lá só para chatear e fazer tudo ao contrário. Dá ideia que lhe falta aquele feeling – ontem fez um bom jogo mas nada demais para o que pode fazer. Para além destas pequenas indecisões aparenta ser um jogador ansioso quando em competição.

    Talvez o facto de não ter uma sequência de jogos lhe retire confiança, não sei, mas também já teve tempo suficiente para levantar a cabeça.

    E claro que também acho que noutro modelo de jogo com mais qualidade, mais facilmente o Rafa se destacará.

    • “É relativo… É a tua opinião e de outras pessoas mas há mais opiniões sobre o tema.”

      Não podia estar mais de acordo. Agora relativamente ao Iuri, pergunta lá ao Miguel Leal e ao Pedro Emanuel o que acham do Iuri 😉 E infelizmente para o açoriano estas opiniões são as mais comuns.

  5. “Se não sou titular com Ancelotti, Benítez e Zidane, não vou ser parvo ao ponto de procurar problemas onde não os há. Afinal, o responsável sou eu e é isso que quero ver, de forma a melhorar para fazer parte das opções” Isco, pouco antes de passar a ser opção regular o ano passado… E hoje é o que se sabe.

    • Essa citação do Isco devia estar emoldurada em todos os balneários onde pessoal treina para a competição do país. Mesmo. Vejo essa treta em tantos desportos, gajos que se deixam afectar pela mentalidade de “têm de ser os outros” que até irrita.

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