Quem pedia De Rossi, e o encanto e desencanto dos discursos

Talvez as pessoas não saibam, mas seguramente que não há uma única afirmação que se faça para fora que não seja sempre ponderada por forma a não ferir susceptibilidades. Diz-se o que imaginamos que os nossos e o público gostarão de ouvir. Nada do que um jogador ou treinador atira na imprensa, significa ser o que pensa. Pode até calhar ser, mas será demasiadas vezes apenas uma casualidade. Porque o que de facto se está a pensar, não pode ser aberto ao público, para não ferir susceptibilidades internas.

Pedro Bouças, Lateral Esquerdo aqui

Enquanto falo com várias pessoas cuja proximidade ao jogo é menor, noto o quão tentam julgar treinadores ou jogadores por afirmações que proferem.

Aquele treinador diz que temos de fazer isto, ou aquilo. Que isto está bem, ou está mal, logo é banal, não tem soluções e é incapaz de ultrapassar problemas. Ou pelo contrário, diz três ou quatro frases que nos entram pelos ouvidos e subitamente passa a ser um treinador que queremos seguir.

Cada vez mais o treinador é uma personagem. Sobretudo na sua comunicação. Nada do que os intervenientes dizem deve ser usado para analisar o que quer que seja. Fazê-lo é um disparate e revela um desconhecimento gritante sobre o que envolve gerir um grupo que lida diariamente com a comunicação social. Querer perceber se as coisas estão a ser feitas de forma correcta ou incorrecta, envolverá sempre entender que relação se pode e deve ter com a comunicação social nas declarações que se fazem.

Há tantos jogadores inteligentes. Tu és jornalista e sabes bem que só se pode dizer aquilo que os clubes querem. Hoje em dia tu se dizes uma palavra mal tens logo um problema e os jogadores tentam fugir disso. Como só podem dizer três frases numa entrevista, ficam muito limitados e as pessoas não veem o outro lado do jogador.

Rúben Amorim

 

Sobre Rodrigo Castro 219 artigos
Rodrigo Castro, um dos fundadores do Lateral Esquerdo. Licenciado em Ed física e desporto, com especialização em treino de desportos colectivos, pôs graduação em reabilitação cardíaca e em marketing do desporto, em Portugal com percurso ligado ao ensino básico e secundario, treino de futsal, futebol e basquetebol, experiência como director técnico de uma Academia. Desde 2013 em Londres onde desempenhou as funções de personal trainer ligado à reabilitação e rendimento de atletas. Treinador UEFA A.

2 Comentários

  1. “Nada do que os intervenientes dizem deve ser usado para analisar o que quer que seja.”

    “Querer perceber se as coisas estão a ser feitas de forma correcta ou incorrecta, envolverá sempre entender que relação se pode e deve ter com a comunicação social nas declarações que se fazem.”

    Meu caro,

    As duas frases que destaquei são do mesmo parágrafo. De certeza que foi isto que quiseste escrever?

    Que estas coisas são todas trabalhadas e preparadas só não entende quem é desatento ou enfrenta sérios problemas cognitivos e de raciocínio. Mas também é preciso ter muito cuidado com as expressões “nada”, “nunca”, “jamais”, “sempre”, “verdadeira”, porque nunca significa mesmo nunca e sempre significa mesmo sempre. Mexer com palavras nem sempre é fácil.

    Dito isto, não concordo nada com a primeira fase que destaquei e concordo totalmente com a segunda. Porque se o palavreado é, normalmente, escolhido a dedo e trabalhado com base em cartilhas e briefings e mensagem redondas – isso não significa que não tenha alguma intenção ou que, cruzado com outros dados, não possa servir de base para uma análise mais ou menos objectiva.

    Parece-me uma la palissada e por isso não entendo o que este texto está aqui a fazer.

  2. Independentemente das cartilhas, há sempre sinais, traços que se conseguem extrair dos discursos de cada um. E consegue-se “chegar lá” e perceber.

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