Estratégico Mourinho no Emirates

Num texto recente, aqui, mencionei o longo legado, bem visível que José Mourinho deixa no futebol

A alteração do paradigma do processo de treino, a construção de um modelo de jogo, a influência sobre gerações de jovens que com ele quiseram tornar-se treinadores, as portas abertas no mundo, e até a relação com a imprensa

Acrescentando o lado estratégico onde como pouquíssimos é uma referência de nível mundial

A todas estas, juntar-se-à o lado estratégico do jogo, se um dia o treinador português resolver explicar jogo por jogo o que na sua mente idealizou.

Foi precisamente exacerbando o lado estratégico que lhe permitiu vencer no Emirates onde o Arsenal se apresentou à distância de apenas um jogo de bater um recorde de invencibilidade caseira.

Para se traçar e perceber determinada estratégia, é importante, antes de tudo o mais, que se identifique pontos fortes e pontos fracos no opositor. Partindo da detalhada análise, definem-se então caminhos para anular os pontos fortes e outros para explorar os fracos.

Para se perceber então a estratégia de Mourinho, é necessário entender o Arsenal.

ORGANIZAÇÃO OFENSIVA da equipa de Wenger

  • Saída a 3 na construção
  • 2 médios, que jogam sempre próximos da bola. Um à frente do outro, mas sempre no centro do jogo;
  • 2 laterais que dão largura e profundidade
  • Avançado direito (Ozil) e esquerdo (Alexis), sempre por dentro. Se recebem entre linhas de frente para o jogo, desequilibram sempre! … e Lacazette como ponta de lança
  • Se há progressão do central de um dos lados (Koscielny à direita; Monreal à esquerda), linha de passe fora com o lateral (Bellerín ou Kolasinac), dentro à frente com um médio (Ramsey), dentro ao lado / em cobertura com o outro médio (Xhaka), apoio frontal com avançado (dto ou esquerdo) (Ozil ou Alexis).
  • Avançado do lado oposto, aproxima do corredor contrário, para poder receber a bola entre linhas… largura no corredor oposto é sempre para o lateral!
  • Movimentos dos avançados direito e esquerdo, para pedir no pé, para trazer lateral …e abrir espaço para bola entrar em ruptura para Lacazette
  • Ramsey aparece próximo de Lacazette. E quando o Avançado se move em largura, ou baixa para apoio, Ramsey ocupa a posição de avançado.

 

ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA

  • 1º linha de pressão com 3. Ozil – Lacazette – Alexis.
  • 2ª linha de pressão com 2. Ramsey e Xhaka
  • Pressionam HxH em todo o meio campo ofensivo
  • Dá para baixar e atrair médios, manter laterais / alas baixos, e atrair laterais adversários, e afastá-los dos defesas que ficam!!!! Aumentando espaço entre defesas e médios!
  • Há espaço sobre o exterior de cada um dos médios, mas … é espaço em que os centrais do Arsenal saem rápido para não deixar virar… importante ter alguém para receber de frente… e assim, até já com central fora da linha defensiva
  • 5x2x3 bem definido
  • Equipa sempre muito projectada, definição de pressing no meio campo ofensivo, e cada recuperação significa ataque contra campo aberto e pouca oposição!

 

RESUMO:

  • ATACAR: Criar espaços intersectoriais, aproveitar as recuperações com Arsenal estendido no campo, definindo timing para trocar controlo por pressão sobre a construção adversária;
  • DEFENDER: Impedir Ozil e Alexis de receberem entre linhas de frente para o jogo

United retirou das zonas de criação Alexis e Ozil. O médio alemão com a mudança táctica dos gunners, saiu da posição de avançado direito para ocupar um espaço no meio. Ainda assim, sempre sem preponderância na criação. Alexis passou completamente ao lado do jogo em termos de definição em zonas ofensivas. Embora, das poucas vezes em que conseguiu ou ultrapassar primeira linha em drible, ou enquadrar na criação, tenha feito estragos. O que por si só permite perceber o quão importante foi a estratégia que o manteve sem bola de frente para a baliza de De Gea em espaços adiantados.

A cada recuperação foram-se seguindo transições ofensivas, que resultaram em três golos e várias oportunidades.

Como Mourinho voltou a enganar Wenger, explorando pontos fracos, minimizando os fortes do adversário:

 

Ao longo da partida houve dois momentos claros em que o United passou por maiores dificuldades, tendo tido um jogo tranquilo, dentro do que se pode ter de tranquilidade num jogo contra uma equipa invicta em casa, que continuava a sonhar ser campeã, e que tem uma linha ofensiva (Bellerín, Kolasinac, Ozil, Alexis e Lacazette) absolutamente soberba, além de que bastante bem trabalhada.

Momento 1 – Os 5 a 10 minutos seguintes à troca de sistema do Arsenal,  baralhou por momentos o jogo que tão bem preparado estava pelo United.

Momento 2 – 10 minutos seguintes ao golo de Lacazette, a galvanização natural dos gunners trouxeram momentos de maior dificuldade em controlar o jogo.

Em ambos os períodos, a qualidade individual de De Gea manteve o United na liderança do marcador.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

9 Comentários

  1. Boas Pedro mais um grande post, aqui levanto a questão “médios baixos, ou a linha defensiva demasiado baixa?” lanço a discussão, pois de a ideia em OD é pressionar a construção em zonas perto da baliza a LM tem de encurtar senão a pressão da LA é ineficaz pois normalmente estará em inferiordade numerica e de espaço, dai que digo que a LD tenha tambem de compactar ao maximo para evitar o espaço entre linhas. Depois existe outro problema a não compactação dos medios em resposta a boa longa, o cumprimento do principo da concentração.

    • como dizes e bem… defensivamente foi meter cavalos a controlar médios no hxh, e n deixar os da frente enquadrar… Aqui a questão desta troca de em muitos espaços e situações passar para o HxH, retira a possibilidade ao adversário de se receber nas costas das linhas… Tenho a certeza que contra o City vai ser igual… é uma equipa completamente treinada para entrar nos espaços intersectoriais… e se eles estão nas nossas costas, não há entrada ai… curioso é para ver como Pep preparará o jogo sabendo disso…

  2. mais ainda a interpretação de princpios de jogo contençaõ cobertura algo inxistentes devido a marcação HXH, e sinceramente uma situação de 3×5+Gr e o ataque consegue entrar na area…

  3. Quase não vi o jogo mas tenho ideia que o redes do United bateu o recorde de defesas num único jogo… Também foi estratégia?

    • a primeira vez que o de gea tocou na bola já estava 2 a 0 e o Arsenal com um sistema táctico novo, o que diz bem da forma como foi preparado o jogo e da forma como tão bem resultou… a partir daí estranho seria se uma equipa com o nível ofensivo (quer indiivdual, quer colectivo) do Arsenal não tivesse lances (da mesma forma que o Utd teve um sem número de contra ataques mt perigosos! alguns estão no video…) … ninguém na premier vai ao Emirates ganhar se o seu GR não estiver bem. Podes vir cobrar-me isso aqui quando o City e o Chelsea lá forem jogar, Miguel!

      • além de que, e aqui posso estar enganado, porque estou a especular… tendo o Arsenal jogado todos os jogos em 523, o ajuste à mudança deve ter sido pensado à pressa, no momento, e sem treino, e trouxe seguramente mais instabilidade do que o plano inicial… na brincadeira até disse a uns amigos que se não há a lesão, o Wenger não mudava e levava 5…

  4. Apesar de todas as provas do resultar das estratégias que Mourinho preparou, a verdade é que o jogo podia muito bem ter ficado 6-3 a favor dos Gunners. Isso é uma verdade. Como é que se explica que uma estratégia que resultou tão bem segundo demonstraste no post tenha permitido ao adversário criar entre 5 a 10 oportunidades de golo claras?

  5. Um clássico de erros dos Gunners/Wenger contra Mou. Jogo a começar com 0-2.
    Mou com boa preparação estratégica, sente-se que nas transições, estão bem trabalhados, intensos, rápidos.
    Mas defensivamente não me pareceram globalmente tão autoritários. Várias falhas de concentração, nem sempre coordenados a fechar bem. Períodos de bloco baixíssimo. Recuo, tentativa de manter estrutura alinhada mas demasiadas preocupações na cabeça. Jogo permitido nas entrelinhas, entradas em apoios e triângulos. Lances estranhamente fáceis para um Arsenal perdulário.
    E depois a matança no contra-ataque, entrando nas crateras habituais da transição defensiva do Arsenal.
    Estilos. Mas acho que Mou exagera. Mesmo.
    Vai ganhando assim em jogos grandes, acreditando na fórmula. Mas sente-se que acabam por abrir “outros” espaços quando são “puxados” horizontal e verticalmente sem bola. Repetirão naturalmente contra o City, mesmo precisando de ganhar?! Muito possivelmente. No entanto, tal como em Espanha, pode chegar o dia…

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