Uma equipa à deriva na Luz

Mencionei no pós clássico, a ausência de qualidade nos posicionamentos defensivos da linha média encarnada. O jogo com o Estoril foi um horror defensivo, e comprovou-o.

Os resultados recentes, e aqui e ali alguns períodos de melhor futebol nas competições internas, podem levar a um engano de análise. Tudo o que o Benfica cresceu, ou fez de mais positivo, tem por base a entrada de Krovinovic na equipa. O croata é um jogador de outra realidade (a ele, e a mais uma exibição sua soberba com bola, voltarei mais tarde), e coloca um nível com bola nos ataques em que participa que mais nenhum outro jogador do Benfica tem o condão de fazer.

Em termos defensivos, o Benfica atravessa neste momento o pior período da era Rui Vitória, e o pior período antes da chegada de Quique Flores ao Benfica. A troca de sistema trouxe mais um médio no papel, mas na prática o Benfica defende bastante pior. A linha média simplesmente não sabe, ou não quer defender.

Se Krovinovic se projecta para sair ao central adversário e posteriormente não recupera a posição, e precisa de alguma aprendizagem defensiva no que concerne ao fechar dos espaços, e aos timings para sair na bola, onde de forma comum se precipita, o comportamento de Pizzi sem bola é completamente errático. O médio português pura e simplesmente não defende. É um jogador a menos em campo quando o Benfica não tem bola. Com Krovi a projectar-se, com Pizzi a filmar os jogos sempre que adversários têm bola e com alas mais abertos, sobram cinco para defender. Fejsa e o quartento defensivo. Chegar e ficar de frente para a linha encarnada é hoje uma brincadeira para quem assim o quiser fazer, e vão valendo as abordagens inteligentes de Luisão para minimizar estragos.

Para além da falta de disponibilidade ou de leitura de Pizzi e da de cultura táctica defensiva de Krovinovic, há uma completa desarticulação da linha média no seu momento sem bola. Não há entendimento do jogo. Por desarticulação, entenda-se, “como me mover quando o meu colega se move? Se ele vai, eu baixo. Se ele sai, eu fecho”. Cada um por si na linha média em situação defensiva, e apenas Cervi sobrevive ao desastre. Embora, sendo ala, não é quem tem a tarefa mais notória e importante defensivamente. O fechar do corredor central, agora transformado numa avenida.

Muito pelo que tem sido o rendimento de Pizzi, um dos melhores da temporada passada, apresenta na presente época (em cima de não participar defensivamente, soma erros atrás de erros com bola, oferecendo transições consecutivas aos adversários), estará na hora de trazer João Carvalho a jogo. Impossível alguém com o seu nível técnico oferecer menos ao jogo que o transmontano nesta sua fase. Mesmo que também venha a precisar de trabalho táctico no capítulo defensivo.

Sem trabalho de pormenor na articulação defensiva das várias linhas, urgirá voltar ao bem definido 442 das temporadas transactas, dotando Krovinovic de competências defensivas que lhe permitam jogar ao lado de Fejsa.

Na recepção ao Estoril, tudo o que foi conseguido de bom surgiu no momento ofensivo. Ainda assim, com um Estoril posicionado de forma inacreditável, a oferecer de forma gratuita o espaço nas costas da sua linha defensiva, sem qualquer controlo, um jogo mais inteligente, de mais bolas a entrar dentro, para explorar rupturas, teria permitido construir um resultado histórico.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

18 Comentários

  1. Como pessoa que gosta de ver o Benfica jogar bem e ganhar pergunto: vocês que já treinaram equipas, poderá isto ter a ver com o foco do treino? Eu espero que sim 🙂

  2. Maldini, poderá Luisão dar um bom treinador, com os anos que passou a ser treinado por Jesus? Ou faltará sempre a parte ofensiva do jogo?

    Sei que é uma pergunta muito difícil de responder, mas gostava de saber a tua/vossa opinião.

  3. O pizzi pura e simplesmente não corre, o sálvio só para a frente. Não percebo como o benfica perde a maioria das divididas contra o estoril. das duas uma: ou algo vai mal com a preparação física da equipa ou é o fim de ciclo do rui vitória.

  4. Como é que o Pizzi pode descer tanto? Se me recordo, mesmo aqui no LE sempre o defenderam como um dos melhores do Benfica, e esta época nem ver.

    Confidenciaram-me que o Rui Vitória nunca teve qualquer tipo de influência ou decisão dentro do balneário, e que foram os jogadores mais velhos e influentes (a par com uma grande dose de sorte na primeira temporada) que manteve a equipa a ganhar. Pode mesmo ser isto? Está o Pizzi farto do treinador?

  5. Que descalabro.

    É mandar isto ao Rui Vitória. Ofensivamente, a única jogada é: receber da esquerda e meter para a paralela/diagonal do Salvio. O resto, fé nos rasgos individuais. Defensivamente, acho que até eu, pelo que lá li aqui no LE, era gajo de fazer melhor trabalho.

    A somar a isto tudo, ainda desperdiça talentos como Rafa e Zivko, e dá flash interviews que são uma beleza. É montarem uma roleta com as frases célebres “estamos unidos”, “sabemos o que temos de fazer”, “sabemos o valor do adversário” e “confio nos meus jogadores” e meter isto a dar em loop durante 10 minutos. O efeito é o mesmo…

    Que nulidade de treinador.

    • Eu nunca emprenho pelos ouvidos. já é feitio…
      O que diz o treinador depois dos jogos à CS é o que menos importa, algo ao qual eu nunca ligo. O que tem isso a ver com o jogo? Quem pega nisso é quem não tem mais argumentos mas apenas vontade de maldizer!

      Importante é o que ele diz aos jogadores! E isso não sabemos. Pessoalmente também não me interessa.

      • Agora deu para rir um bocadinho!

        Ou seja, não interessa dar o mínimo de explicações aos milhares de benfiquistas que todas as semanas apoiam a equipa, seja onde for? Tens razão de facto, que parvoíce…

    • Não, acho que o trabalho de JJ perdura uma década, depois da sua saída….é que é muita mestria!!
      …uma coisa eu reparo, não está tão vaidoso…e que apesar de ser teimoso, também muda…

  6. Gostaria de perceber o seguinte: os erros defensivos do Benfica devem-se a limitações da qualidade dos atletas ou a má preparação tática? A resposta sensata seria: um pouco de ambos. No entanto, o treinador manteve-se e muitos jogadores sairam. Será realmente um problema de condicionamento tático? Custa-me a acreditar. No entanto, Rui Vitória diz preferir jogar mais e treinar menos…

    • Sérgio Pedro, no início da época houve aqui posts a parabenizar o Benfica que até o corte da relva usava para activar movimentações, o Guardiola chegou a falar da qualidade defensiva do SLB, etc

      Vou dar o exemplo de RV e da equipa técnica do SLB, mas podemos ir a todos os treinadores da liga, pois acho que há muito bons treinadores em portugal, especialmente a partir dos anos 90 onde começámos a ter mais treinadores formados nas equipas profissionais e não apenas ex jogadores com os cursos de fim de semana da federação. Não sei se foi só a influência do Mourinho ou se o caminho se iria fazer, mas ainda me lembro de ser apelidado de “o tradutor do treinador”, como hoje ainda leio em relação ao RV “o professor de ginástica”. Fico sempre mais tocado por ter sido aluno de ciências do desporto na FMH.

      O meu ponto é o seguinte, esta análise feita aqui é espectacular, e abre os olhos ao leigo, mas qualquer clube profissional tem (ou deveria ter) gente competente capaz de a fazer, o blog lateralesquerdo não inventou a pólvora. Rui Vitória e a sua equipa técnica sabem perfeitamente isto, aliás, neste momento sabem quantos metros e a que velocidade máxima qualquer um dos jogadores da equipa consegue fazer durante um jogo.

      Quais as razões do Pizzi não defender bem, não sei, cansaço? teve duas épocas extenuantes, não sei se alguma vez defendeu melhor, motivação? O que eu sei é que RV como qualquer outro treinador da primeira liga e muitos adeptos conseguem fazer essa avaliação. O que eu não acredito é que RV não tenha o know-how para analisar e corrigir essa situação, nem que não meta os jogadores a jogar que melhores condições tem em cada jogo.

      Se olhar-mos para as principais ligas estatísticamente os clubes com maiores orçamentos compram melhores jogadores e ganham mais vezes, num jogo de futebol como são milhões de variáveis e tem pouco score por vezes nem sempre ganha o melhor, mas está sempre mais próximo de ganhar. E o SLB hoje tem piores jogadores que no passado.

  7. Gostaria de saber a vossa opinião sobre a dificuldade de manter uma mentalidade 100% focada na vitoria depois de 4 anos seguidos a vencer.
    Do ponto de vista dos jogadores, entendo que se deve tornar naturalmente cada vez mais difícil manter o foco e a ambição que são o motor de uma equipa. Se até Mourinho tem dificuldade em manter uma equipa unida por mais de dois anos, ou o próprio Alex Fergusson, que ganhando 13 campeonatos e dominando por completo uma era nunca conseguiu mais do que três seguidos.
    Poderemos falar em ciclos naturais das equipas? Será este uma espécie de ano sabático ou de transição assumido pela estrutura? Lembro-me de ouvir um discurso de LFV no inicio do ano em que dizia não ser nenhum drama se não ganharmos este ano…

  8. Palavra de honra que não percebo onde e quando alguem viu talento no Rafa. Eu ja vi alguns jogos dele e nunca vi nada. Se fez dois ou tres jogos bonzitos já foi bom, nem no Braga. está bem que a velocidade dele pode ser uma arma importante mas talento para o futebol não é correr rápido ou fazer bons passes (que nem é o caso). Disso há aos milhares por essas praias fora. Faz-me lembrar o Urreta, que não valia nada mas muita malta dizia que sim.

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  1. Grande jogo do Benfica frente ao Estoril! – E Pluribus Unum

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