Choque de lendas e de estilos. O melhor do mundo, e o melhor da Europa.

A tarde de ontem trouxe-nos um dos jogos mais aguardados do futebol mundial. A dimensão de Pep Guardiola e de José Mourinho atingiu proporções tais, que mais que um derby de Manchester, era um derby entre os dois maiores ícones do futebol mundial. Cada um dentro do seu estilo. Cada um com os seus ideais.

O problema do United não é ter 35% de posse de bola. É o que não conseguiu fazer nesses 35.

Quem seguiu a transmissão com comentários em espanhol, se o fez com a devida atenção, aprendeu mais umas lições. Impressionante a qualidade do conteúdo passado. Sem patriotismos, e sem moralidades. E logo de um povo, que nesta fase, tanto poderia reclamar para si a autoria e os direitos de um jogo que só se pode jogar de uma maneira.

Pelo contrário, o entendimento do jogo, acima de tudo o mais.

E de facto, o problema do United não foi ter tido menos posse de bola, porque isso aconteceria por duzentas vezes em duzentos confrontos, porque simplesmente defrontavam-se dois estilos que quase se opõem. Um modelo vincado que exarceba a posse, e pretende asfixiar adversário no meio campo defensivo, contra outro mais vinculado a um lado estratégico, e à forma de chegar à vitória pelo engano do adversário. Oferecendo meio campo para posteriormente o utilizar.

A superioridade do City bem expressa, portanto, não por ter tido a bola, mas porque não permitiu nunca que o United conseguisse ligar os seus ataques rápidos.

Em Outubro, escrevia “A máquina trituradora de Pep, o homem que vai desmontar a Premier League” (aqui):

Há não muito Pep Guardiola referia que por estar em Inglaterra e se sentir a própria cultura do jogo vinda da bancada, mesmo os jogadores como Silva, De Bruyne, Gundogan, entre outros, aceleravam e precipitavam-se mais vezes do que as que desejaria, pensando na forma como pretende controlar os jogos.

Ainda assim, pela sua exacerbada filosofia de jogo, e pelo perfil dos jogadores que recrutou, Pep Guardiola promete marcar a história da Premier League, pela forma como contorna velhos hábitos britânicos, vencendo, dominando e controlando!

A obsessão pelo controlo total está bem patente na opção pelo recrutamento também de Ederson. O brasileiro era a peça que faltava para garantir mais um elemento a construir com qualidade, capaz de sair curto, mas também mais longo, por Ederson ser talvez o único guarda redes do futebol mundial, capaz de colocar a bola no meio campo ofensivo num passe… e não para uma disputa aérea! Mesmo quando a bola sobe, não sobe para o duelo, sobe para aproveitar espaços e em passe.

Com Ederson, garantiu saída em passe, mesmo que longo para o espaço entre defesas e médios adversários quando a pressão aumenta.

Na Europa, decorridos que estão três meses de temporada, só o Paris SG se aproxima da qualidade de jogo dos citizens. Não é uma máquina trituradora pelos óptimos resultados que soma. É o inverso, é uma máquina trituradora, de controlo e posse, que não deixa ninguém jogar, e é por isso que têm chegado os resultados.

No primeiro trimestre da época, está desde já criada a sensação de que Pep Guardiola poderá ser o maior influenciador da Premier League. Porque mais do que trazer a Premier League para o seu jogo, trouxe o seu jogo para a Premier League. Naturalmente que tal só possível pelo budget sem fim que colocado à sua disposição foi utilizado no recrutamento de um perfil que lhe pudesse acompanhar a filosofia. Não deixa, contudo, de ser algo tremendo o que se vai preparando para conseguir Pep Guardiola, também em Inglaterra.

 

Sobre o caminho que Mourinho percorria havia afirmado ainda antes:

caminho bem diferente percorre José Mourinho. A optar por construir uma equipa mais pensada para o estilo próprio da Premier League. A preparar um modelo que responda à especificidade da competição interna. Quer a forma como recrutou, quer a forma como o United se apresenta nos primeiros jogos não deixam margem para dúvidas. Não pretende sufocar. Muito pelo contrário, com os perna longas Pogba e Matic, fabulosos a vencer duelos, a recuperar bolas e a lançar os ataques rápidos, onde Rashford, Lukaku e sobretudo Mkhitaryan quando em condução, aproveitam desposicionamentos adversários, tudo no que prepara Mourinho é aproveitar uma liga onde praticamente todos os adversários atacam e abrem o campo.

Enquanto Pep prepara um jogo total. De inteligência a todo o instante, o português a preparar-se para enganar opositores internos, que não percebem que ter a bola e a equipa aberta perante o United é o primeiro passo para perder o jogo.

 

Se há treinador que conheça a especificidade própria da Premier League, e como preparar uma equipa para responder às características da oposição e da competição, Mourinho é o homem.

Com os incríveis na recuperação e a servir os ataques rápidos, Matic e Pogba no meio, com a capacidade de progressão a alta velocidade enquanto define sempre assertivamente de Mkhitaryan, a servir a velocidade e capacidade finalizadora de Lukaku e Rashford, o United torna-se numa equipa absolutamente soberba dentro da ideia que o seu treinador tem como ideal para vencer a competição. O dar metros para que adversários subam e se “destapem” para posteriormente aproveitar as recuperações dos médios para ligar rapidamente as transições ofensivas.

O confronto entre os dois ícones e a forma como Pep Guardiola se prepara para em “terras de Mourinho” vencer, influenciar e mudar a Premier League, remete-nos para uma história divertidissima sobre a forma como um treinador português motivava o seu guarda redes suplente, afirmando constantemente a cada defesa sua nos treinos, que ele era o melhor guarda redes da Europa.

– Mister, se sou o melhor guarda redes da Europa, porque é que nunca jogo?

– Epa, é fodido, é que ele é o melhor do Mundo…

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Não acredito que acreditas nisto que escreveste. Ainda agora estava a ler o Schmeichel (pai) a rasgar o jogo do United. Foi terrível e um bocado cómico, principalmente na primeira parte. Toda a gente viu e tem visto há alguns anos. O Mourinho está muito longe de ser o melhor em alguma coisa relacionada com o futebol, actualmente, até porque em público também se demitiu de falar sobre futebol. Já nem o verbo lhe safa.

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