Tarantini “Resta-me portanto absorver o prazer de jogar este futebol”. Um jogador especial, fala do jogo, e do treino, em exclusivo para o Lateral Esquerdo

Aos trinta e quatro anos continua a ser pedra basilar de uma das equipas mais atraentes da Liga. Tarantini é mais um dos que provam a importância do saber ser, estar e pensar, no caminho para o sucesso. Tem hoje um sem número de projectos que importam conhecer, mas foi sobretudo sobre o jogo que falámos.

A qualidade do conteúdo é uma lição para todos os que pretendem perceber o jogo, e até para os jovens treinadores que começam a definir o seu caminho.

Em exclusivo para o Lateral Esquerdo:

Recentemente afirmou que este é o ano em que está a retirar mais prazer de jogar, e há vários jogadores do Rio Ave que estão a valorizar-se de jogo para jogo. Há uma dicotomia entre jogar bonito e vencer, ou é possível juntar as duas vertentes? Este plantel ajuda, ou seria possível propor este jogo em qualquer realidade?

Não é fácil entender a resposta sem perceber a evolução no contexto vivido.

Como jogador de futebol já ganhei de diferentes formas, já senti o sucesso a jogar um futebol completamente diferente, sentindo igualmente um crescimento e valorização enquanto jogador. Porque também acreditávamos naquilo que nos era proposto. Sentíamos o crescimento. Somos o que vivemos. Diferentes treinadores apresentam diferentes propostas. O aparecimento de um jogo controlador e essencialmente pensado, na linha do ano passado, juntou o jogar bonito e vencer. Dai o meu sentimento de prazer e de valorização dos jogadores. O jogo diferente deste valoriza essencialmente o resultado, essencialmente vantajoso para o treinador e clube, excluído a maior parte dos jogadores. A crítica ao atribuir uma importância extrema ao golo, atiram-nos no caminho do insucesso, mas pela minha experiência, mesmo fazendo golos não me consegui valorizar, resta-me portanto absorver o prazer de jogar este futebol, um jogo que privilegia o verdadeiro entendimento da relação espaço-tempo. Será que estaremos preparados para entender outro futebol? Atrevo-me a dizer que cabe em qualquer equipa. Como qualquer processo é um jogo que é necessário tempo com propostas de treino adequadas. Aliado a isto a importância do acreditar e sentir a evolução. Por fim, não desistir.

 

Ao longo da sua carreira, sentiu de forma clara a evolução táctica do jogo?

O futebol está totalmente diferente de há poucos anos atrás. A aplicação da sistematização do conhecimento do jogo mudou ao nível do treino. Os treinadores pretendem dos jogadores um maior entendimento do jogo. A evolução táctica trouxe um jogo mais jogado ao nível da equipa e menos ao nível individual. No futebol português vê-se cada vez menos a finta como recurso. Esta evolução provoca mudanças a diversos níveis, até mesmo ao nível do recrutamento e da capacidade racional dos jogadores.

 

O que faz mais diferença. O processo de treino, o modelo de jogo ou a liderança? Consegues estabelecer prioridades entre os três factores?

Acredito que acima de tudo está a liderança. Consigo associar o sucesso a uma liderança forte com um entendimento claro das diferentes funções. Consequentemente o modelo de jogo e a sua operacionalização (processo de treino) têm que estar bem alinhados.

O treinador perfeito, o que tem de ter?

O que para mim pode ser perfeito, para outros não será. Importante é perceber para onde, com quem e como vamos. Tenho apreendido com todos eles e quando assim é, sabemos a importância que eles têm na forma como vemos o jogo.

 

A inteligência na tomada de decisão faz mesmo a diferença?

Sim, quando ela se torna consciente.

 

Quem foi o jogador com que pudeste jogar que mais te impressionou? E porquê…?

Vou ter que falar em três. Dois guarda-redes que hoje estão no top 10 do futebol mundial, o Jan Oblack e o Ederson. Estes dois jogadores juntos, faziam o melhor do mundo. E gostava de referir o João Tomás pela capacidade de finalização.

 

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A pensar nas questões que envolvem o presente e o futuro dos desportistas, desenvolvi um projeto que aposta na prevenção e na sensibilização de desportistas para a gestão das carreiras. Alerto para a necessidade de se investir na formação académica e na criação de projetos paralelos à carreira profissional, de forma a prepararem a nova vida que os espera, o futuro depois do desporto.
É urgente alertar as consciências, mostrar que a realidade dos jogadores de futebol não é só cor-de-rosa. Por detrás de cada vitória pessoal tem de estar o empenho, o sacrifício, a resiliência, a noção de que o sucesso requer muito trabalho e o talento por si só não basta.

Tarantini

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Um senhor! A antítese do estereótipo “jogador da bola”.

    Tive oportunidade de privar com ele há uns meses atrás… Impressionante as ideias, os valores, os pés bem assentes na terra e a maneira de estar dentro e fora de campo. Há cada vez menos jogadores assim, nos dias que correm.

    Abraço

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