A defesa zonal e o homem ao homem

Ainda no tempo em que praticamente todas as equipas adoptavam o método defensivo de marcação individual, já cá falava incessantemente da vantagem do método zonal.

Porque o principal propósito de quem defende, é não sofrer golos. Só depois surgem outros objectivos. Ou seja, em primeira instância nós defendemos a nossa baliza, e se nós defendemos a nossa baliza, importa protegê-la. Mais do que andar atrás do adversário. Até porque persegui-lo para toda a parte deixa-nos refém do posicionamento que o adversário pretende que nós adoptemos.

Para se ser totalmente seguro no momento defensivo é portanto fundamental actuar segundo princípios de defesa à zona.

Mas tal não significa que defender de forma individual seja errado. Tudo depende do contexto. Quem já jogou ou quem está mais atento ao jogo, percebe e perceberá que a marcação individual traz um desconforto muito grande ao portador, e ainda mais a quem tenta receber, que a defesa zonal simplesmente não traz. Reduz o tempo para pensar e aumenta a dificuldade para executar.

Escrevia num dos melhores textos recentes no “Lateral Esquerdo“, o Bruno Fidalgo:

 Muitos daqueles que pretendem pressionar em todo o campo, através de posicionamentos altos e agressivos, optam por utilizar a marcação individual como método defensivo. Fazem-no no meio campo ofensivo do adversário e, ao contrário do que possa parecer, são muitas as vezes em que alcançam o sucesso.

Se o propósito, mais do que defender bem é recuperar, e sobretudo recuperar rápido, o método individual continua a ser o que mais serve o que se pretende quando não estamos na posse da bola.

Deixar o adversário abrir e encostar nele, é a principal forma de levar ao erro e sair para transição ofensiva. Porém, tudo deve ser bem medido. Porque se eu for o Pogba posso encostar cem vezes no Pizzi que em cem vezes, ou lhe roubo a bola ou o obrigo a jogar sem critério, e portanto é uma forma eficiente de cumprir o meu propósito. Porém, se eu for um qualquer outro jogador e quiser encostar no Iniesta, devo perceber que serei quase sempre ultrapassado, e que a partir daí o desequilíbrio ficou feito de forma mais rápida, e obrigará defensivamente a maiores dificuldades a quem marca de forma individual, obrigando a um baixar e agrupar mais rápido. Porque desequilíbrio feito, e equipa que defende não está junta, mas antes no posicionamento para o qual o ataque o levou.

Em suma, também as escolhas sobre o método defensivo são completamente contextuais. Há jogos, opositores, espaços (mais perto da minha baliza, mais urge fechá-la) e fases onde são mais benéficos uns e outros não. Tudo depende também do que idealiza estrategicamente o treinador.

Com a certeza, contudo, que defender com o máximo de eficácia é proteger a baliza, e proteger a baliza envolve sempre defender de forma zonal. Não ignorando porém que recuperar mais rápido, envolve outro tipo de comportamentos. Seja mudando o método defensivo, seja jogando com uma zona menos pensada em fechar, mas contemplando também posicionamentos menos seguros defensivamente, mas que pensam já no momento da recuperação para se poder ser mais eficiente em transição ofensiva.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

6 Comentários

  1. O exemplo do Pizzi parece-me perfeito. Demonstra como um jogador com tanta capacidade de desequilibrar quando está em posse e sem pressão (algo que não é necessariamente fácil porque é necessário o talento para meter a bola onde quer) quando é pressionado erra tantas vezes e normalmente da maneira que deixa a equipa mais exposta.
    Alguma “solução” para este mal?
    Cumprimentos

  2. Achas que nos escalões mais jovens, por não haver tanta qualidade com bola (e experiência também), a defesa H-H pode ser mais eficaz que num contexto sénior?

    • n só mais eficaz, como tem outra vantagem quando ensinas o jogo… tornas o adversário melhor jogador… porque precisa de se livrar de alguém sempre a morder… desenvolve muito mais a relação com a bola…

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