António Folha e o FC Porto B: aproximação ao futebol total

Na liderança da Segunda Liga, o FC Porto B experimenta, esta temporada, formar jogadores ao mesmo tempo que vai inovando taticamente. António Folha, o seu treinador, tem tido um longo processo de evolução, ligado à formação, tendo integrado as equipas técnicas dos Dragões em 2008/09, depois de duas temporadas como adjunto no FC Penafiel.

A temporada passada marcou a sua promoção à equipa secundária do FC Porto, substituindo Luís Castro. Se a tendência das equipas B tende a acompanhar modelos de jogo das equipas principais, aquilo que António Folha vai desenvolvendo este ano é uma evolução de modelo, experimentando na Segunda Liga uma ideia que poderá vir a dar frutos num futuro próximo. Enquanto isso, os grandes beneficiados são os jogadores, expostos a uma exigência que pede muito à participação racional do jogador no momento da tomada de decisão.

A equipa de António Folha parte de um desenho inicial em 3-4-3, ainda que essa seja apenas uma raiz daquilo que é a forma de jogar da sua equipa. Na forma como escolhe os jogadores para ocupar cada posição do seu esquema já denuncia a sua intenção final, colocando um jogador com características de lateral como um dos três defesas, um jogador de formação de médio ofensivo como um dos dois volantes do meio-campo, um lateral ambidestro a partir de uma das faixas que lhe permitirá conjugar posicionamentos e evoluir do esquema inicial para outras variações.

Com bola, a equipa do FC Porto B tende a ocupar toda a largura do terreno, com os dois laterais bem abertos junto das linhas, os dois médios-centros em constante atividade na procura da linhas para a construção com bola feita a partir dos centrais, os dois extremos a alimentar um posicionamento entrelinhas para desequilibrar a organização defensiva adversária. A constante movimentação da equipa, com bola, cria desde logo dificuldades, sendo possível ver o lateral do lado esquerdo aparecer como médio-interior (beneficiando da enorme inteligência de Diogo Dalot), para que a equipa ganhe mais um elemento no corredor central, em construção, e mais presença na zona de finalização.

Sem bola, o FC Porto cria uma linha de cinco defesas, com o duplo volante a descer para um posicionamento de controlo do corredor central. Enquanto o extremo do lado da bola vem fechar o corredor lateral, impedindo a subida do adversário pela faixa, o extremo do lado contrário controla em zona de cobertura aos avançado, mais dentro, ora aproveitando para condicionar a troca de bola entre os centrais, ora ocupando a linha de passe para a mudança de corredor. A equipa de António Folha apresenta, ainda, uma forte capacidade para se posicionar em pressão alta, sendo que, nesse caso, a equipa aproveita os seus três elementos mais avançados para condicionar logo na saída da área adversária, obrigando a um enorme atenção do seu duplo-volante. Nestas situações, um dos centrais também tende a subir para condicionar o adversário quando a primeira linha de pressão é ultrapassada.

A qualidade com que a sua equipa está construída e as tendências que apresenta fazem de António Folha um dos técnicos a serem seguidos de perto na aproximação ao principal escalão do futebol nacional. Depois de Luís Castro ter dado o salto e configurar-se, no presente, como um dos treinadores com mais qualidades na Liga NOS, António Folha apresenta conhecimentos que permitirão, aos 46 anos, dizer que está preparado para dar o salto.

 

Artigo publicado originalmente em luiscristovao.com

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

2 Comentários

  1. Luís Cristovão diz: “A constante movimentação da equipa, com bola, cria desde logo dificuldades, sendo possível ver o lateral do lado esquerdo aparecer como médio-interior (beneficiando da enorme inteligência de Diogo Dalot), para que a equipa ganhe mais um elemento no corredor central, em construção, e mais presença na zona de finalização.”

    Luís, vi somente um jogo (ao vivo) desta equipa e, falando concretamente do único jogador que referenciaste neste post, se me pedissem para eleger o menos inteligente ou um dos menos inteligentes protagonistas em campo eu não teria dúvidas em citá-lo.
    Mas pode ter sido um jogo menos conseguido, às vezes acontece, embora haja certas decisões que, mesmo estando tecnicamente abaixo do exigível a este nível, são difíceis de aceitar num jogador com bastante potencial, a avaliar pela crítica especializada.

    Abraço e continuação de um bom trabalho! Bom Ano

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