Pela direita e sempre a abrir! Sporting em organização ofensiva

Como referi no artigo anterior nas notas sobre o jogo em Alvalade, o Sporting foi uma equipa que cresceu com as incidências da partida. O primeiro golo na primeira ocasião digna de registo para o lado leonino, trouxe maior conforto à equipa de Jorge Jesus. Até aí, o Sporting controlava com bola, era uma equipa paciente mas tinha dificuldades em criar situações de perigo e entrar no último reduto da equipa de Daniel Ramos. Dentro da sua organização ofensiva, a equipa leonina procurava criar dinâmicas que criassem problemas e dificuldades à equipa maritimista. Procurou utilizar os três corredores para tentar entrar em zonas de decisão, mas foi sobretudo pelo corredor direito que criou verdadeiros problemas a um Marítimo que nunca conseguiu controlar a dinâmica existente nesse corredor, durante todo o jogo.

Destaque para o regresso de Bruno Fernandes a zonas de construção (mais tarde e como habitualmente subiria no terreno) e de Daniel Podence a zonas de criação. Estes, juntamente com William Carvalho, tornam o futebol do Sporting mais criativo e com mais qualidade sobretudo em zonas de construção, pois a criatividade e qualidade da dupla William e Bruno, é diferente da de William e Battaglia. Ganha-se numas coisas, perde-se em outras. Veremos o que o futuro reserva no corredor central leonino, até mesmo pelos reforços que acabaram de entrar.

Como referi em cima, foi sobretudo pelo corredor direito que o Sporting teve maior dinâmica. Mesmo quando Gélson deixava o corredor para aparecer na esquerda seja para criar superioridades, atacar profundidade entre central e lateral ou simplesmente associar-se em apoio, Ristovski dava sempre imensa profundidade no corredor direito e era sempre uma solução extremamente válida. O macedónio não é a primeira opção para Jorge Jesus, que tem claramente em Piccini a sua preferência sobretudo pela consistência e qualidade que oferece no processo defensivo, mas é um jogador que, na minha opinião, é mais capaz que Piccini no processo ofensivo e o jogo de ontem, como outros em que Ristovski já participou, foi mais uma boa amostra.

O lateral macedónio aparecendo sempre detrás para a frente por fora e aproveitando os espaços que os arrastamentos de Gélson para o espaço interior provocavam, foi sempre um problema para o Marítimo que mesmo baixando o seu extremo quase para a linha defensiva, porque o seu lateral estava dentro preocupado com Gélson, nunca conseguiu controlar bem os movimentos no corredor direito por parte do Sporting. Para esse facto, também contribuiu o facto do Sporting ter construído na sua primeira fase sem qualquer tipo de pressão ou condicionamento maritimista e da sua linha defensiva ter tido problemas em cortar metros na profundidade. Se André Pinto teve dificuldades em ligar em passe seja por dentro ou por fora, até por ser destro e jogar no lado esquerdo, Coates teve total à vontade para poder ligar por onde quisesse e mesmo William e Bruno quando baixavam ou se aproximavam dos centrais para iniciarem eles a construção, tinham espaço e tempo para tomarem a melhor decisão. Se não há condicionamento ou qualquer tipo de pressão e se ainda existe espaço nas costas para se poder explorar, as coisas tornam-se mais fáceis para quem ataca e claramente mais difíceis para quem defende.

Foi um pouco dentro desta dinâmica que o Sporting marcou o seu primeiro golo, desbloqueando o jogo. Beneficiou de uma abordagem demasiado arriscada por parte da linha defensiva do Marítimo que, mesmo com a saída em condução de Coates, não baixou e cortou profundidade. Gélson por dentro, percebendo o espaço existente para correr atacou a profundidade e servido pelo central uruguaio, só teve que oferecer a Bas Dost o seu primeiro golo no jogo.

Destaque para a mobilidade e trocas posicionais entre Gelson e Podence, já vistas em outros jogos em que ambos coabitam. Gelson hoje em dia já não é só aquele extremo de ficar colado à linha para potenciar situações de 1×1, tem vindo a crescer gradualmente com Jorge Jesus e a ser incentivado a aparecer em outros espaços. É frequente vê-lo a criar superioridade e a aparecer à esquerda, como a aparecer no corredor central próximo de Bas Dost. Quando isso acontece, é Podence quem se coloca na faixa e estas trocas posicionais criam muitos problemas aos adversários no que à sua organização defensiva diz respeito.

Se o corredor direito do Sporting foi muito dinâmico e forte, no corredor esquerdo a ausência de Mathieu pesou. O central francês acrescenta muito em organização ofensiva nas ligações pelo corredor esquerdo leonino, não só pela qualidade que tem neste momento, mas também pelo facto de ser esquerdino. André Pinto é um central que tem qualidade, mas que dentro daquilo que Jorge Jesus pede aos seus centrais na sua primeira fase de construção, tem dificuldades em executar. Quase todas as suas acções sempre que progredia para o corredor esquerdo, era apenas tocar à largura em Fábio Coentrão, tendo tido óbvias dificuldades a ligar por dentro em Bryan Ruiz e posteriormente em Acuna. Por isso, o Sporting pouco criou pelo corredor esquerdo. Quando o fez, foi numa acção individual de Fábio Coentrão que, recebendo por fora, saiu em condução para o espaço interior e Bruno Fernandes, já em espaços de criação e de última decisão, atacou a profundidade no momento certo para assistir Bas Dost para mais um golo. Bruno, quer em zonas mais baixas, quer em zonas mais altas, é um jogador que alia criatividade, inteligência e decisões que aproximam a equipa do sucesso, para além da sua temível meia distância que é, de facto, um ponto forte que tem e o tem sabido explorar.

Foi após o 3-0 que o Sporting garantiu maior conforto no seu jogo e aproveitou algum “desligar” por parte da equipa do Marítimo, que perdeu alguma da sua agressividade posicional em termos defensivos. Com o jogo praticamente resolvido, o Sporting foi encontrando com alguma facilidade os espaços necessários e conseguiu ainda fazer mais dois golos num jogo em que as incidências do próprio jogo lhe permitiram ir subindo a sua produção ao longo do mesmo.

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*