Curtas do fim de semana

  • No pós jogo da Pedreira, Abel referiu que tantas vezes é a capacidade mental o que separa um jogador de topo dos que jogam em equipas de menor dimensão. Também por isso, no texto de ontem do Rodrigo, ainda no intervalo do jogo em Alvalade se falava da personalidade incrível de Rúben Ribeiro. No final da partida, foi precisamente sobre isso que Jorge Jesus falou. A qualidade de Rúben é evidente. Qualidade que também outros a terão tido. Entrar em Alvalade e comportar-se como se estivesse no seu quintal a driblar consecutivamente os sobrinhos, é que é para muito poucos. Em Portugal, basta reter a bola como o faz, para se perceber que o público não importa e não condiciona. A incógnita maior é porquê é que um jogador deste nível só agora chega ao topo;
  • Em Portugal, a equipa do Braga vive uma realidade muito peculiar. Já sobre ela me referi no texto “Porque não vencem sempre os melhores, e a escola de treinadores de Braga” (aqui):

No futebol, o jogo é sempre bastante mais difícil para os melhores do que para os seus adversários. Quando refiro o jogo, não me refiro ao “conseguir o resultado”, mas ao conjunto de situações que se enfrentam ao longo de uma partida, e que carecem de resolução para então se conseguir o resultado. Ou seja, um clube ou uma equipa melhor, acaba forçosamente a assumir as despesas do ataque, enfrentando sucessivamente situações contra mais opositores e em menor espaço. Já a equipa menos capaz, tem regra geral um jogo mais fácil para resolver. Mais espaço, menos oposição. Campo aberto! Naturalmente que os melhores, porque são bastante melhores, acabam por vencer muito mais vezes, mesmo tendo um jogo mais difícil. Mas é precisamente por ser o jogo composto por situações de maior complexidade de resolução para os melhores, que no futebol tantas vezes os menos aptos triunfam nos seus jogos.

Na realidade portuguesa, e pensando na importância do cumprimento de objectivos, para um treinador, talvez seja o Sporting de Braga a equipa mais confortável para se trabalhar. A qualidade individual da equipa está uns bons furos acima da concorrência, e com maior ou menor competência, muito dificilmente não se chega ao quarto lugar. Em suma, cumprir o objectivo final não parece um problema.

Porém, é quem treina o Braga quem enfrenta as maiores dificuldades, e a quem é requerido maior competência e pensamento estratégico, naquilo que é a criação de um modelo de jogo, e abordagem a cada partida. Pensando unicamente no jogo, treinar a equipa bracarense é hoje um autêntico catalizador de aprendizagens, que bem aproveitadas elevarão treinadores para níveis diferentes.

Hoje, a equipa bracarense enfrentas as mesmíssimas dificuldades no jogo que qualquer um dos três grandes enfrenta. Em Portugal, as equipas preparam-se e jogam contra o Braga com a mesma estratégia com que o fazem contra as outras três equipas de orçamentos estratosféricos. E se tantas vezes trazem dificuldades para os jogos contra Sporting, Porto e Benfica, imagine o quão mais difícil será para a realidade do Braga enfrentar o mesmo tipo de jogo e de problemas.

  • As dores de crescimento passam também por ver os próprios grandes a exacerbar o lado estratégico do jogo para defrontar a equipa bracarense. Como Abel referiu no pós jogo, o normal não seria ser o Benfica a condicionar a construção adversária, para procurar roubar e sair em transições… A forma como Rui Vitória abordou o jogo é o reflexo do nível a que a equipa bracarense chegou;
  • Jorge Jesus soltou um bem firme “claro que não”, quando questionado sobre se Bas Dost é o melhor ponta de lança que já treinou. Talvez seja o melhor goleador, mas porque o treinador do Sporting entende o jogo e o jogador como o impacto que este tem em cada momento, em cada fase, o goleador holandês está bastante longe da qualidade de outros avançados que orientou. É um ponta de lança soberbo na fase I, mas com carências evidentes para criar. Ao ritmo a que marca, se não as tivesse, também nunca chegaria à Liga portuguesa…
  • Francisco Geraldes voltou a ser determinante. A partida de Rúben é, como referiu Miguel Cardoso, uma oportunidade para que outras figuras surjam. Francisco não está a ter a época que a sua qualidade augurava. Demasiadas perdas e algo inconstante dentro do próprio jogo. Ter ganho notoriedade no Restelo poderá contribuir para serenar e voltar ao nível que prometeu. O talento está desde sempre lá…
  • Jogo incrível em Chaves. A presente época trouxe várias equipas na Liga que valem a pena seguir. Que independentemente da qualidade individual que possam ter, procuram valorizar-se e valorizar o jogo. A equipa de Luís Castro não tem sido cá valorizada vezes suficientes. Culpa minha, porque claramente, e mais uma vez, urge seguir quem valoriza a nossa competição, e ainda cumpre os objectivos propostos
  • Rui Vitória e Abel falaram abertamente sobre a estratégia de jogo. O que correu bem e o que falhou. Creio que todos concordamos que saíram bastante beneficiados na sua própria imagem por o terem feito. Quem interroga os “misters”, venham de lá essas perguntas sobre o jogo e a forma como os preparam os treinadores, que há aqui um nicho importante de malta que quer saber…
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Concordo plenamente com o último ponto. Rui Vitória não tem ainda crédito como treinador junto dos adeptos porque é raro vê-lo a falar do jogo. E das vezes que fala… fala para os incautos. Explica as opções de forma leviana, sem muito sumo. No pós-jogo em Braga viu-se, finalmente, alguma argumentação acerca de futebol. Só tem a ganhar!

    • Não acho que isso seja verdade, falo por opinião pessoal, mas acho-o “fraco”(num contexto nacional é claramente dos melhores, mas no contexto europeu não chega), porque não tem capacidade para impor um jogo dominador consistente, o que o Benfica fez em Braga foi muito competente, mas não deixaram de ser a equipa a dar iniciativa com um plantel muito melhor. O maior exemplo da falta de capacidade é o jogo de Basileia onde ele tenta ir para ganhar a dominar e leva uma rebocada.

      Já para não falar com a queda de rendimento da equipa nos últimos três anos, que também se deve a algum desenvestimento, mas muito também se deve a ele, pois esta época ainda tem essa desculpa, mas na passada tinha um plantel com boas opções com jogadores de topo mundial que entretanto sairam e mesmo assim já se notava a queda do trabalho na equipa. E ele transformar-se no Gustavo Santos sempre que perde pontos não ajuda.

  2. CHAVES mencionado, quem sabe… sabe, o professor Luís Castro sempre a valorizar quem com ele trabalha!

    Portimonense = Desilusão, a vontade do Vitor Oliveira é boa! Mas não me parece ter mãos para aquele mini-Ferrari. Paulinho, Ewerton, Lumor, Rosel, Tabata, Fabrício, Nakajima… jogadores bons de bola, técnicos que não têm o melhor treinador, para os potenciar!

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