Pressão, recuperação e transição.

FC Porto's head-coach Sergio Conceicao reacts during their Portuguese First League soccer match against Tondela, held at Dragao stadium, Porto, Portugal, 19th January 2018. JOSE COELHO/ LUSA

Como referi nas notas ao jogo de ontem frente ao Tondela, foi um Porto menos capaz e menos assertivo na sua organização ofensiva, tendo como comparação os jogos anteriores no Dragão. Não deixando de ter controlo sobre a bola, foram ainda assim, algumas as dificuldades em criar situações de finalização em ataque posicional, fruto da organização defensiva do Tondela, num bloco médio/baixo junto e compacto, a condicionar bem as entradas da bola no corredor central, criando dificuldades nas ligações interiores dos azuis e brancos. Para além disso, muitas vezes faltou paciência para se fazer bascular o adversário, atraindo-o a um lado, para depois encontrar espaço por outro e essa falta de paciência criou alguma inconsistência no processo ofensivo da equipa portista, sem com isso ter tido reflexos na sua transição defensiva, sempre agressiva e pressionante. Creio também ter faltado alguma diversidade e profundidade nos movimentos de corredor lateral que a equipa de Sérgio Conceição tão bem preconiza. Aos extremos quase sempre por dentro, faltava por vezes que os seus respectivos laterais dessem maior profundidade e não estivessem ainda tão baixos, o que retirava fluidez e progressão à equipa portista.

Assim, foram os momentos de pressão, recuperação e transição, a força maior deste Porto. Para além do golo, que nasce de uma infelicidade e má decisão do médio do Tondela que assumia o início de construção da equipa, quiçá pressionado pela chegada de Herrera, define mal e oferece o golo a Marega, foi um Porto enérgico, intenso e agressivo nos momentos de pressão, recuperação e saída, algo que já é marca da forma de jogar dos de Sérgio Conceição. Seja em bloco mais alto, a condicionar a construção adversária, seja em bloco médio e mais expectante, é um Porto muito capaz nos momentos de pressão, dada a agressividade, intensidade e energia que colocam em cada disputa, o que reduz o tempo e espaço ao adversário para poder jogar e quem decidir abrir a equipa e jogar frente a este FC Porto, terá que ter muitos cuidados no momento em que perder a bola. Foi quase sempre desta forma, para além da enorme capacidade, diversidade e qualidade nas bolas paradas ofensivas, que o Porto mais criou perigo. A cada recuperação e consequente saída, é um potencial lance de golo. Neste aspecto, destaque para a exibição de Danilo, fundamental para o jogar que Sérgio pretende no seu Porto. Foram algumas as vezes que recuperou e deu ele início à transição ofensiva, sempre vertical, rápida e direccionada para o ataque à baliza, onde o Porto encontrou pela frente um competente Claudio Ramos. A cada saída do médio português, Herrera ficava e equilibrava e o contrário também acontecia, numa dinâmica interessante onde nenhum é mais fixo e o outro mais móvel, movem-se em função do que o jogo pede.

Nota de destaque também para o Tondela de Pepa. Se o jogo do Porto não foi tão consistente e conseguido em muitos momentos, também se deve à organização defensiva da equipa beirã. Ofensivamente, tentou jogar aquilo que o Porto deixou, teve dificuldades em entrar no último terço da equipa portista, mas nunca foi uma equipa com medo de tentar ter bola e ter critério no seu processo ofensivo sempre que a tinha. Sofreu o golo num lance individual infeliz, mas fez, dadas as circunstâncias, um jogo positivo dentro de uma organização colectiva interessante. Nota individual de destaque para o central Osório, um central com traços de qualidade a exigir outros patamares, para a exibição de Tomané na frente de ataque, sempre a segurar e a ligar a equipa em transição e claro, para o excelente Cláudio Ramos que com um punhado de boas intervenções, foi mantendo o Tondela sempre em jogo e na disputa do resultado.

E aqui, um lance com o golo anulado ao Porto, que nasceu da boa ligação entre fases da equipa portista em ataque posicional, algo pouco visto no encontro de ontem, mas que fica para registo.

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

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