Luís Castro e Jorge Silas – É um longo campeonato

Passa-nos, todos os anos, debaixo dos olhos. Semana após semana, meio disfarçado, por entre as transmissões dos jogos dos três grandes e das principais equipas europeias. É fácil, muito fácil, que benfiquistas conheçam a maioria dos jogadores do Benfica, que portistas conheçam os do FC Porto, que sportinguistas que conheçam os do Sporting, que quase todos conheçam os onzes de Real Madrid, Barcelona, Manchester City ou Manchester United. E depois, a cada fim-de-semana, dá-se de caras com um Belenenses, um Estoril ou um Desportivo de Chaves que não fazíamos bem ideia de como jogava, que jogadores apresentava, que comportamentos habitualmente tinha.

Torna-se, assim, muito fácil ditar sentenças. O melhor jogador do campeonato fora dos três grandes só porque, contra um deles, fez uma boa exibição. As equipas que andam na luta pela Europa julgadas, como grandes equipas ou autênticos fiascos, pelos resultados que conseguem nessas partidas. As suas próprias estratégias analisadas à medida em que o seu adversário consegue, ou não, marcar golo. E, no entanto, é um longo, longuíssimo, campeonato, onde o trabalho de centenas de jogadores e treinadores, trabalho diário, de evolução constante perante as dificuldades que lhes são apresentadas, não pode ser resumido por um jogo, uma jogada, um vídeo ou dois lançados ao acaso.

Ontem calhou ao Luís Castro e ao Desportivo de Chaves. Aliás, esta temporada, os flavienses já sofreram goleadas frente ao Sporting (5-1), Benfica (3-0) e FC Porto (3-0 e 4-0). Fizeram o pleno daquelas equipas que se arriscam a passar para a história como um bluff. E, no entanto, as palavras do técnico do Desportivo são certeiras na forma como define o comportamento da sua equipa. Existe um caminho traçado e não faz qualquer sentido mudá-lo por causa de um jogo. Perceba-se, pelas suas palavras, que a expetativa é sempre a de se conseguir, com o modelo trabalhado, atingir competitividade. Mas isso nem sempre é possível. No entanto, a história da temporada só reforça que Luís Castro e o seu Desportivo de Chaves são das equipas mais competitivas e bem trabalhadas da Liga NOS.

Ontem também calhou ao Jorge Silas, mas, neste caso, o estar do outro lado do espelho. A equipa do Belenenses fez um jogo estrategicamente muito surpreendente frente ao Benfica, há duas semanas atrás, tendo sido das primeiras equipas, em 2018, a conseguir ler a movimentação encarnada no momento da transição defensiva para aí colocar entraves ao jogo do seu adversário. No entanto, depois desse sucesso estratégico (quase sempre que se fala de choque motivacional no momento da chicotada psicológica encontramos um trabalho estratégico que apura, num curto período de tempo, o modelo deixado pelo treinador anterior), a sua equipa precisa de ir encontrar a base com que vai abordar os jogos todos do campeonato. Tem sido essa a dificuldade, sobretudo quando as fragilidades do coletivo impõem duas derrotas pesadas frente a Vitória de Setúbal e Desportivo das Aves.

Para mim, fazem tanto sentido as declarações de Luís Castro como as de Jorge Silas na tarde de ontem. Ambas expressam de forma sincera, aberta, inteligente e clara, os desafios que são colocados aos treinadores de um campeonato que, bem para lá das partidas frente aos três grandes, tem um imenso equilíbrio e um constante desafio à arte de gerir equipas de futebol. Ficaríamos todos a ganhar se nos focássemos um pouco mais no trabalho que vão desenvolvendo.

Mais artigos em luiscristovao.com

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

8 Comentários

  1. Mas os desafios que enfrentam estão bem para lá do terreno de jogo: como interpretar as curtas 8 faltas que o Chaves cometeu ontem e os espaços dados? Se “não faz qualquer sentido mudá-lo por causa de um jogo” ao menos disfarcem um pouco melhor! Quanto ao esvaziar do Belenenses é outra conversa, jogar contra o Benfica motiva de uma maneira muito especial…

    • Sim ja sabemos os outros so jogam bem contra o Benfica… Realmente os desafios estao bem para la do terreno do jogo. A Pj que o diga

  2. O Luís Castro é muito mais fácil de descortinar do que o Silas. Porque anda nisto há muito tempo e as suas equipas apresentam sempre ideias e comportamentos similares, ainda que necessariamente diferentes. O Silas é uma incógnita, a tesão de mijo serviu para alguma coisa (serve sempre), mas bater no Benfica é fácil. Não é uma equipa fortíssima e a motivação, vontade, conhecimento do adversário é estratosférica. Agora falta a parte mais difícil e se analisarmos bem não vai ter muito tempo para a encontrar. As palavras que aqui escreveste também são certeiras em relação ao treinador do Marítimo. 99 por cento das pessoas só vêem os jogos do Marítimo contra os grandes – e se calhar nem isso – mas aprestam-se a fazer grandes elogios, nem que seja “pela forma como a equipa defende”. Pois, mas eu vejo muitos jogos, vejo todos os que posso ver, e sei muito bem que a equipa do Marítimo é uma merda. Não há uma ideia ofensiva, é um zero total e perfeito, meter pernas atrás e mostrar os dentes é fácil; já o resto… Tem jogadores para apresentar um jogo muito diferente (e, claro, obter resultados também muito melhores).

    • Eu acho que o Luis dá uma achega, ou pelo menos eu quero vê-lo assim, no seu texto. O Silas alterou os comportamentos da equipa, terá estado ali quase semana e meia a preparar aquele jogo específico, abdicando de implementar uma ideia. Daí que contra o Benfica corre bem, contra os outros é ao saco cheio de cada vez.

      Pois o Marítimo parece-me, quando não os vejo a jogar com O Enorme, uma espécie de Guimarães, mas mais mal aproveitado.

  3. Aqui fala-se muito sobre JJ, Conceição, Luis Castro, e até do novo “profeta” Jorge Silas. Tudo ótimos técnicos. Mas, ingenuamente, escapam-lhes aquele que será reconhecido brevemente como o melhor da liga nacional: Rui Vitória ?

    • Reconhecido pelo trabalho extraordinário que faz com Sálvio? Pela aposta estruturada em jogadores cheios de talento como Filipe Augusto, Douglas ou Lisandro Lopez? Por decidir e bem não apostar em jogadores de qualidade duvidosa como Zivkovic e Rafa? Até porque a motivação para jogar quando tudo se aceita aos outros e nada a eles deve ser brutal…

      E a forma como trabalhou a sucessão para posições-chave que desde Fevereiro do ano passado se sabia que iam vagar? Topi top de facto!

      • Tudo muito bem ?. Mas não sabemos ao certo se tds esses erros são apenas imputáveis ao mister …!
        Há q valorizar o trabalho de RV, é sem dúvida o melhor técnico da liga, e q embora dê pontos de avanço á concorrência termina spr, mas spr, á frente de todos. E não é só pq encontra uma varinha mágica a partir de jan/fev q Isso acontece. ?
        Agora imagina se ele corta com todos esses ‘erros’ q mencionaste e passa a ser aínda mais assertivo. É levado pelo tubarão ??

        • Repara que o que dizes sobre os defeitos tem a mesma validade para os méritos. A verdade é que RV tem uma aparente inércia muito grande. Eu gabo-lhe, a sério que gabo, a capacidade de não se queixar de cada tiro que leva, mas a verdade é que a gestão desta época é de tal forma desleixada que me pergunto até que ponto ele não se revê na forma como as coisas correram.

          O acabar à frente não quer dizer nada. Ou se calhar quer dizer que a matéria prima que tem à sua disposição é diferente para melhor. Ou dito de outra forma, não será pelo plantel que RV acaba à frente de Miguel Cardoso ou Luis Castro e não pelos seus méritos intrínsecos? O que seria de um Rio Ave ou de um Chaves que contassem com Fejsa e Jonas? Ou melhor, será que se Miguel Cardoso, ou Luis Castro, ou Nuno Manta, ou Abel Ferreira, ou Pedro Martins, ou Ivo Vieira tivessem nos seus plantéis um Zivkovic se poderiam dar ao luxo de mandar o tipo para a bancada porque Filipe Augusto é que é bom?

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*