Os gajos que pensam que são o Barcelona, e o derby de Lisboa

A frase foi proferida por um dos melhores treinadores portugueses sobre o Estoril, e não poderia estar melhor direccionada.

Se há em Portugal quem procure recriar os comportamentos da era de Pep em Barcelona, o Estoril de Ivo Vieira é a equipa.

A bola é o centro de tudo, e provavelmente mais nenhuma equipa em Portugal explora com tanto afinco princípios comuns aos que Pep instalou na Catalunha.

A saída sempre pelo chão, com dois centrais bem abertos, que progridem para ligar o jogo com o espaço entrelinhas. O médio centro (Gonçalo Santos) que baixa para ajudar a ligar, quando tal não está a ser possível, que progride e invade espaços, os interiores sempre fixos na posição entre linhas, os apoios frontais constantes entre linhas a libertar um terceiro elemento de frente para o jogo, a saída por uma metade do campo enquanto na metade oposta o interior aguarda na posição que o jogue rode e surja liberto. A primazia por combinar a todo o instante dentro, e explorar posteriormente rupturas.

Pela qualidade e identidade dos seus comportamentos, poucas equipas na Liga como o Estoril, obrigam a uma adaptação estratégica para se poder maximizar possibilidades de vencer a atractiva equipa de Ivo Vieira.

A colocação de cinco elementos nas costas dos médios adversários e a facilidade com que chegam a tal zona e a um toque ficam enquadrados no espaço intersectorial, obriga a uma estratégia muito bem pensada para parar tal dinâmica, se o propósito é aumentar chances de parar a equipa de Ivo Vieira.

Também na transição defensiva, há comportamentos que tentam replicar o modelo de Pep, e é sobretudo aqui que o Estoril incorre em maiores dificuldades, e me causa maiores dúvidas sobre o benefício que retira dos seus comportamentos. Na perda, o passo à frente é sempre dado, e a última linha canarinha opta por defender as transições praticamente sempre bem subido no relvado. Encurta o espaço, mas permite demasiadas vezes muito espaço nas costas, porque os jogadores que ficam atrás da linha da bola na perda, somente esporadicamente vão baixando para controlar profundidade. Ao invés, “arriscam” defender sempre mais alto, mesmo com muito espaço.

Na passada jornada deslocou-se à Amoreira, onde a equipa caseira vinha de três triunfos convincentes consecutivos, a equipa de Jorge Silas.

Também o treinador do Belenenses não se cansou de elogiar o bom jogo dos canarinhos. Elogios também para a forma como Silas preparou a equipa do Restelo para passar num dos campos mais complicados da presente época, desde que Ivo Vieira assumiu o comando.

A presença de uma última linha a cinco criou dificuldades inesperadas à equipa de Ivo Vieira. Garantiu que um dos defesas podia ser agressivo a sair ao portador no momento em que a bola entrava entre sectores, e ao mesmo tempo, mantinha ainda uma linha formada a quatro em largura, para responder à constante utilização de um terceiro elemento por parte do Estoril, que usa frequentemente os apoios frontais para entrar nas zonas de criação.

Garantida solidez defensiva pelo equilíbrio numérico (recorde que em ataque posicional são cinco também os jogadores que o Estoril coloca de frente para a linha defensiva), havia que explorar o ponto que me parece mais débil dos canarinhos e que tem impedido a equipa de Ivo Vieira de saltar definitivamente para uma posição consentânea com a muita qualidade do seu jogo. Isto é, havia que sobretudo na transição ofensiva, mas também em ataque organizado aproveitar os comportamentos do Estoril que pretende defender sempre alto cada lance, para colocar movimentos circulares de ruptura a funcionar depois da bola entrar no corredor central.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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